Até poucos dias atrás os fabricantes de biodiesel estavam confiantes que - graças à chegada do B8 - este seria um ano de recuperação para a indústria. Essa confiança foi abalada na quinta-feira (09) da semana passada quando ficou evidente que o resultado do 53º
Leilão de Biodiesel ficaria muito abaixo do que o mercado imaginava.
Contra projeções que chegavam a superar a marca dos 700 milhões de litros, o L53 terminou com desanimadores 620,2 milhões de litros arrematados. Um fiasco que está tirando o sono de muitos fabricantes mesmo que uma parte considerável dessa demanda 'desaparecida' possa ser explicada em função de problemas conjunturais como excesso de biodiesel carregado nos estoques nas distribuidoras.
Novo normal
'A única leitura que podemos fazer é que os grupos [do setor de distribuição] têm uma percepção de que a retração da economia brasileira continua e é bem maior do que a gente poderia supor', lamenta o superintendente da Associação dos Produtores de Biodiesel da Brasil (
Aprobio), Julio Cesar Minelli.
O economista Fábio Guerra, assessor da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), admite que, no momento, os fabricantes de biodiesel estão tateando para realmente entender o que está acontecendo com o mercado. 'Por enquanto, as informações estão nas mãos das distribuidoras', ressalta.
Embora diga acreditar que o L53 seja um 'ponto fora da curva', o gerente da Biofuga, Paulo José Fuga, reforça o coro de que o problema está na economia. 'A primeira impressão é que a situação da economia do Brasil estava pior de que imaginávamos', especula.
Alinhamento
Essa frustração na demanda do L53 veio justamente num momento em que os astros pareciam estar se alinhando de forma favorável a uma retomada do setor de biodiesel. No 2º bimestre temos não apenas a estreia do B8, mas também o pico de demanda gerado pela colheita da safra de grãos - que deve ser recorde - e a expectativa de uma reação da combalida economia brasileira.
Ao menos uma parte dessas promessas está mesmo acontecendo. De acordo com Guerra, o acompanhamento feito pela Abiove aponta que os resultados da safra 2016/17 vêm sendo positivos. Ontem mesmo (13), a associação aumentou suas projeções para a soja para 104,6 milhões de toneladas. 'Nesse lado [o da safra de soja] não tivemos frustração. O plantio foi bem, as chuvas aconteceram quando deviam e a colheita está caminhando. Isso gera impacto positivo também na demanda por combustível quando na oferta de matérias-primas para o biodiesel', analisa.
Ainda assim, o mercado refugou. 'A safra até está acontecendo. Só que a retomada do restante da economia, não. O bom resultado no campo não é suficiente para compensar a retração no consumo das famílias que está sendo causado pelo desemprego', diz Minelli. Ele acrescenta que 'as retiradas [de biodiesel] no primeiro bimestre já estavam menores que no ano passado', prossegue.
Um executivo de uma grande usina que solicitou que BiodieselBR.com não divulgasse seu nome está pessimista quanto ao futuro imediato. 'A demanda quebrou a curva projetada e seguirá assim pelo restante de 2017 a menos que haja uma rápida inversão de tendência', disse acrescentando considerar esse um resultado improvável. 'Ainda não há sinais concretos [da economia]'.
Apesar disso, ele analisa as usinas devem sofrer um pouco menos nos próximos leilões do que sofreram no L53 a medida em que os estoques das distribuidoras se normalizem.
Antecipação
A salvação pode vir da antecipação da chegada do B9. A questão ganhou impulso desde que o titular do Ministério de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, demonstrou simpatia em relação à medida durante uma reunião com a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio). "Esse último leilão mostrou que ela não só será muito benéfica para a indústria nacional, como também necessária. É uma forma sustentável de retomar o crescimento do país. O Ministro Fernando Coelho foi muito inteligente ao trazer para discussão a antecipação do B9", ressaltou o superintendente da entidade, Donizete Tokarski.
A Aprobio também espera uma eventual antecipação do B9 para dar um alívio aos apuros do setor. Esse aceno na direção do B9 é uma possibilidade de que o biodiesel venha a ser um fator positivo para ajudar na retomada da economia. Hoje estamos importando diesel que não gera empregos para o país enquanto a produção de biodiesel geraria empregos e reforçaria o PIB', arremata Minelli.
O setor já está em movimento para fazer isso acontecer. Na semana passada, a Frente Parlamentar do
Biodiesel encaminhou ao ministério
um documento elaborado pela assessoria jurídica da Câmara dos Deputados que reforça a tese de que a antecipação é legal.
Fonte: Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com