Os três projetos anunciados no Brasil para produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês) são capazes de atender, em média, 38% da demanda doméstica, de acordo com estudo divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
O relatório leva em conta a perspectiva de consumo entre 2027 e 2037, considerando as metas de redução de emissões de carbono definidas pelo Combustível do Futuro, aguardando sanção do presidente Lula (PT), e do Corsia, acordo internacional da indústria.
O Combustível do Futuro cria o programa ProBioQAV, estabelecendo cronograma de descarbonização dos operadores aéreos no Brasil, por meio do uso de SAF.
A meta começa com 1% de redução de emissões em 2027 e chega a 10% em 2037. O percentual de adição do combustível sustentável varia de acordo com a intensidade de carbono do produto.
Projetos de SAF anunciados no Brasil
BBF | 2026
Projeto de biorrefinaria na Zona Franca de Manaus (AM) para produção de HVO e SAF.
Produção de HEFA: 250 mil m³/ano
Matérias-primas: palma, soja e milho
Acelen | 2027
Anunciou mais de US$ 2,5 bilhões em investimentos em uma unidade para produção de HVO e SAF anexa à refinaria de Mataripe, na Bahia.
Produção de HEFA: 500 mil m³/ano
Matérias-primas: soja, milho e macaúba (no futuro)
Petrobras | 2029
Planeja implantar uma unidade de produção de HVO e SAF anexa à Refinaria em Cubatão, São Paulo.
Produção de HEFA: 350 mil m³/ano
Matérias-primas: soja e sebo bovino.
Projeções
Segundo o Caderno de Perspectivas Futuras para SAF no Brasil, a produção deve alcançar 1,1 milhão de metros cúbicos (ou cerca de 1,1 bilhão de litros) por ano em 2030, o que representará cerca de 12% da demanda de combustível para aviação no período de 2030 a 2033.
Embora essa participação deva diminuir com o aumento da demanda do setor aéreo, as estimativas para 2037 indicam que a produção de SAF no Brasil pode chegar a 3,7 a 8 bilhões de litros anuais, dependendo das rotas tecnológicas escolhidas e da expansão dos projetos anunciados até agora.
Os três empreendimentos já seriam suficientes para atender integralmente às metas de redução de emissões estabelecidas pelo ProBioQAV. No entanto, para atender à demanda internacional que busca cumprir as metas do Corsia, serão necessários novos investimentos e projetos adicionais.
“Temos espaço e apetite para novos investimentos em novas plantas”, diz Heloisa Borges, diretora de Estudos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE, em entrevista à agência eixos.
Menor intensidade de carbono
A EPE destaca que também é possível atender às metas de redução de emissões no Brasil consumindo menos combustível. Isso porque as matérias-primas permitem a produção de SAF com menor intensidade de carbono.
“O SAF produzido no Brasil entrega uma intensidade de carbono menor para o mesmo custo. Como as metas são de intensidade de carbono, a gente coloca o Brasil com potencial não só de exportar SAF, mas também de ser um hub regional de transporte por conta dessa vantagem competitiva”, afirma Borges.
Matérias-primas alternativas e resíduos
Um dos grandes trunfos do Brasil para a produção de SAF é a sua ampla disponibilidade de matérias-primas consolidadas, como o óleo de soja e o etanol de cana-de-açúcar e de milho, que já possuem alta prontidão tecnológica.
Contudo, essas rotas apresentam uma intensidade de carbono mais elevada.
Em contrapartida, o país também dispõe de matérias-primas alternativas, como o óleo de macaúba, etanol de agave e etanol de segunda geração (2G), que possuem menor intensidade de carbono, embora sua disponibilidade ainda seja limitada.
“Esse equilíbrio entre a produção em larga escala e a necessidade de uma maior diversificação de matérias-primas é um desafio importante para o futuro da indústria de SAF no Brasil”, aponta a diretora da EPE.
O Brasil também apresenta um grande potencial no aproveitamento de resíduos para a produção de SAF, como o sebo bovino e os resíduos da cana-de-açúcar e do eucalipto, que já são utilizados em outros biocombustíveis, como sebo no biodiesel e resíduos de cana para produção de biogás.
A EPE estima que, se o potencial de aproveitamento desses resíduos fosse integralmente desenvolvido, seria possível atender 82% das metas de redução de emissões até 2037.
Além de reduzir os custos de produção, o uso de resíduos também contribui para a menor intensidade de carbono dos combustíveis.
Reconhecimento da sustentabilidade da biomassa
Heloisa Borges pontua que para que o SAF brasileiro seja ainda mais competitivo no mercado internacional, é necessária a criação de um padrão de contabilidade de emissões de carbono no seu seu ciclo de vida. Uma das agendas do Brasil no G20.
“Temos um potencial muito grande de exportar etanol, de ser um grande hub. Mas isso depende da padronização da forma de contabilidade de carbono. Como as metas internacionais são de redução de emissões, precisamos padronizar a forma como cada país contabiliza essa intensidade de carbono dos seus combustíveis”.
Borges observa que o trancamento de rotas eficientes de descarbonização, por conta de decisões políticas e não técnicas, pode afetar a acessibilidade a combustíveis sustentáveis.
“Tem algumas estratégias que vemos que não são sustentáveis, porque na hora que você impõe uma série de trancamentos tecnológicos, o que você está fazendo é aumentar custos, e isso acaba aumentando muito o custo do transporte aéreo”, pontua.
Fonte: Eixos
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