Calcado em uma das atividades que mais avançam na economia, o crédito rural tem crescido em dois dígitos mesmo diante das instabilidades do país. Bancos e cooperativas acirram a disputa pela maior presença no campo, com diferentes instrumentos de financiamento, a depender do tamanho e da necessidade do tomador. O Plano Safra 2022/23, com verba de R$ 340 bilhões, - R$ 13 bilhões em juros subsidiados -, teve forte presença de Banco do Brasil (BB), Bradesco, Santander e Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), que ampliaram carteiras usando também a tesouraria de seus bancos.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pleiteia que o Plano Safra 2023/24 chegue a um valor total de R$ 403,88 bilhões, com R$ 25 bilhões para equalizar os juros. O número ainda não foi fechado, mas o governo já sinalizou que irá priorizar crédito para tecnologias e projetos que contribuam para a agricultura de baixo carbono. “Todo o Plano Safra vai se dedicar à sustentabilidade agropecuária. Quanto mais sustentável, melhores as condições de acesso ao crédito”, diz Sibelle de Andrade Silva, diretora de produção sustentável e irrigação da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Na disputa pelo campo, o BB ampliou em 30% o total de desembolsos na safra 2022/23; até 5 de maio, foram R$ 160 bilhões. Durante a Agrishow, maior feira do setor, que aconteceu na primeira semana de maio, em Ribeirão Preto (SP), o banco registrou recorde de R$ 2,9 bilhões em propostas para financiamento de máquinas e implementos, quase o dobro das expectativas iniciais.O banco opera linhas de crédito para todas as fases dos empreendimentos nas finalidades de custeio, investimento, comercialização, industrialização e capital de giro. “Só no primeiro trimestre de 2023, nossos desembolsos para a agricultura familiar cresceram 36% em relação a 2022, com R$ 4,4 bilhões liberados”, diz Tarciana Medeiros, presidente do BB. Já para agronegócio empresarial, as liberações superaram os R$ 35 bilhões até o mês de abril, 34% de alta em relação ao mesmo período de 2022.
O Bradesco também conseguiu dobrar, para R$ 3 bilhões, o total de intenções de financiamento durante a Agrishow deste ano, comparado à de 2022. A cifra deve ajudar a instituição a atingir a sua meta de chegar ao final de 2023 com uma carteira de crédito rural de R$ 60 bilhões. Hoje ela está em R$ 52,5 bilhões. Somada, a carteira ampliada da cadeia do agronegócio chega a R$ 90 bilhões.
“A grande realidade que já vem acontecendo é que o financiamento do agro já vai muito além de linhas subvencionadas. Só os 25% do depósito à vista dos bancos devem somar uns R$ 300 bilhões”, diz Roberto França, diretor de Agronegócio do Bradesco.
O executivo lembra que soma-se a isso os recursos direcionados da poupança rural, com mais R$ 100 bilhões. Mas alerta que não é o suficiente. Nas suas contas, o Plano Safra financia de 40% a 50% das necessidades do produtor rural. O restante sai da tesouraria dos bancos e via emissão de títulos no mercado de capitais (como CPRs e CRAs e CDCAs). “A necessidade de financiamento direto e indireto de toda a cadeia do agronegócio passa de R$ 1 trilhão”, observa França.
Com mais de 2,5 mil agências e 6,5 milhões de associados em todo o Brasil, o Sicredi espera encerrar a atual safra com total de desembolso de R$ 50,6 bilhões, 36% a mais do que na safra anterior. E para a safra 2023/24, a meta é avançar mais 20%. “Dos R$ 36,4 bilhões que já liberamos até março, R$ 10,5 bilhões foram em CPR, um crescimento de 183% em relação à safra passada”, diz Marilucia Dalfert, gerente de Crédito Rural da Sicredi. Para ela, a CPR deve ganhar ainda mais relevância daqui para frente, pois é uma espécie de antecipação de recebível do campo. “E a CPR não precisa ter o mesmo arcabouço de regras do crédito rural. Não precisa de certidões. No ano passado, implantamos a CPR Fácil, que é 100% digital e o produtor contrata no celular. Não leva mais de três minutos”, afirma.
O Santander viu sua carteira de crédito rural avançar 30% ao ano nos últimos oito anos, para R$ 37,5 bilhões ao final de 2022. No primeiro trimestre deste ano, atingiu R$ 40 bilhões. “Esperamos fechar 2023 com R$ 50 bilhões, pois para o banco esta é uma das carteiras prioritárias”, diz Carlos Aguiar, diretor de Agronegócios do Santander Brasil. O banco financia toda a cadeia do agronegócio, menos o produtor familiar (Pronaf), e atua fortemente também na emissão de títulos do setor. “Temos também uma mesa de commodities agrícolas para fazer hedge e câmbio. E coordenamos emissões de títulos com selos sustentáveis que, só em 2022, somaram R$ 32 bilhões em negócios sustentáveis”, diz Aguiar.
Fonte: Valor Econômico
Biocombustíveis: a melhor solução de curto prazo para uma transição energética eficiente
FPBio vai ao Palácio do Planalto confirmar apoio ao projeto de lei 'Combustível do Futuro'
Indústrias de biodiesel se articulam para reverter importação e garantir aumento da mistura em 2024