A AMAGGI planeja adotar o B100 desde 2022, quando os testes com o biocombustível foram iniciados no maquinário em uma das fazendas da empresa. O planejamento do uso do B100 também era um objetivo a partir de sua liberação ao mercado como um combustível alternativo ao diesel, especialmente pelos compromissos assumidos pela AMAGGI de descarbonização em suas operações. O B100 utilizado pela companhia é produzido em fábrica e esmagadora de soja próprias, que ficam localizadas em Lucas do Rio Verde / MT. O Notícias Agrícolas entrevistou Claudinei Zenatti, diretor de Logística e Operações da AMAGGI, que explicou o potencial do uso de combustíveis verdes em operações agrícolas e para uma possível transição energética. Confira:
Notícias Agrícolas: A empresa planeja adotar B100 em toda uma propriedade, como isso será implementado?
Claudinei Zenatti: A primeira propriedade da AMAGGI com uso de biodiesel B100 como único combustível em maquinários é a Fazenda Sete Lagoas, em Diamantino, em uma ação em parceria com a fabricante John Deere. Os testes para uso nos equipamentos operacionais começaram há dois anos e atestaram a segurança e a eficácia de sua utilização. A ideia é expandir o uso do biodiesel B100 nos maquinários de outras fazendas da empresa.
Será necessário adaptação de processos e manejos para essa implementação?
A empresa já realiza a manutenção das máquinas, independentemente do combustível utilizado, como um procedimento de rotina. Esse processo será mantido.
Acreditam que essa adoção é o caminho mais viável para diminuir a pegada de carbono em manejos agrícolas? Quais medidas complementares a empresa pretende utilizar para cumprir o compromisso de carbono zero?
A AMAGGI acredita, sim, no potencial da substituição da matriz energética à base de combustíveis fósseis pelo biocombustível, muito menos poluente, como uma forma de atingir suas metas contra as mudanças climáticas. Paralelamente a isso, a AMAGGI já investe há anos em boas práticas agrícolas em suas fazendas de grãos e fibras. Entre essas práticas regenerativas estão o plantio direto, a sucessão de culturas, o cultivo sem o uso de irrigação e o controle biológico. A empresa adota ainda uma agricultura de precisão, com maquinários modernos e com conectividade, tecnologias que permitem o uso eficiente dos recursos naturais e a transição para o uso de bioinsumos. Esse conjunto de práticas reduz a emissão de gases de efeito estufa e possibilitam a fixação do carbono no solo. Além disso, a empresa segue com seu compromisso de manter-se zero desmatamento e sem conversão de vegetação nativa para produção agrícola em suas fazendas.
O uso fluvial já ocorreu? Se ocorreu, qual foi o resultado da operação? Se não ocorreu, o que se espera dessa operação?
Sim, o teste com uma embarcação foi realizado entre os dias 11 e 23 de maio, em um trecho de ida e volta entre Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM). O empurrador “Arlindo Cavalca” transportou 25 barcaças graneleiras em um percurso com duração de 225 horas, com consumo aproximado de 120 mil litros de biodiesel produzido pela própria AMAGGI. O resultado do teste foi positivo, superando inclusive as expectativas da empresa.
O conceito de uso cíclico de recursos em propriedades rurais (a exemplo da Amaggi, que produz soja, colhe, comercializa e reutiliza em forma de biodiesel) tende a crescer nos próximos anos? O que a experiência da Amaggi pode ensinar sobre esse assunto?
A AMAGGI sempre apostou na sinergia de suas operações em várias frentes de negócios e o uso do biodiesel de fabricação própria é um reflexo dessa estratégia empresarial. O objetivo principal é manter o crescimento sustentável da companhia em um longo prazo, com desenvolvimento econômico e respeitando o meio ambiente.
A adoção do Biodiesel/B100, quando adotada em larga escala, exige quais mudanças produtivas para as matérias-primas utilizadas? Qual seria a produtividade ideal para atender os planos da empresa?
Atualmente a produção de biocombustíveis tem uma vasta oferta de matéria-prima, das quais algumas, a exemplo do biodiesel de óleo de soja, têm oferta maior que outras. O B100 oriundo do óleo de soja apresenta uma excelente qualidade e isso é um fator importante para o uso em substituição aos combustíveis fósseis. Com a indústria de biodiesel já instalada e em produção em Lucas do Rio Verde, a empresa tem autossuficiência em biodiesel, mesmo considerando a migração de 100% dos nossos ativos como fazendas, frota rodoviária e navegação para uso contínuo e dedicado em B100.
A empresa acredita que o país possui infraestrutura para atender o B100 em escala no futuro? Isso teria algum impacto nos mercados de commodities?
A mudança do uso de combustível fóssil pelos biocombustíveis deve ocorrer de forma acelerada. Porém, alguns biocombustíveis sofrem interferência de outros agentes na sua formação de preço e essa é uma variável muito importante, considerando que o Brasil tem uma dependência muito grande do modal rodoviário, que é um grande consumidor de combustível fóssil, e os deslocamentos ocorrem com grandes distâncias. Desta forma, hoje já temos uma infraestrutura que é destinada à distribuição de combustíveis fósseis que pode ser utilizada em escala crescente com os biocombustíveis. Se considerarmos uma mudança da nossa matriz energética e o uso de biodiesel passar a ser em grande escala, poderá haver uma mudança no consumo do óleo vegetal e como consequência o aumento da capacidade fabril.
Fonte: Notícias agrícolas
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