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25 ago 2021 - 09:00
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País tem de deixar de ser antagonista, diz especialista

Para coordenador do Cebri, Brasil precisa se apresentar como modelo em energia limpa e não pode ignorar o tema da Amazônia


O Brasil precisa sair da posição de antagonista para voltar a ser protagonista nas discussões sobre a descarbonização da economia global, disse o coordenador do núcleo de energia do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Jorge Camargo. Ele defende que, pressionado internacionalmente pela alta do desmatamento, o país precisa se apresentar como modelo em energia limpa e não pode ignorar o tema da Amazônia em seu posicionamento frente às mudanças climáticas.


A menos de três meses da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, a CoP 26, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral, afirmou que um país com a matriz energética renovável como a do Brasil não pode ser “tímido” nas discussões sobre a transição energética. Segundo ele, a presença brasileira em Glasgow (Escócia), em novembro, reforçará os compromissos com a política de biocombustíveis (o Renovabio) e o Plano Nacional de Hidrogênio.


Barral e Camargo foram os convidados da Live do Valor de ontem, sobre o papel do Brasil na geopolítica da transição energética. O Cebri e a EPE, juntamente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), lançaram um programa conjunto para debater propostas de políticas públicas para o país em torno do assunto.


Camargo destacou que o Brasil possui vantagens competitivas para atrair o fluxo de investimentos globais em descarbonização e tem capacidade para dar uma contribuição ao mundo com “baixo esforço”, ante as potências globais. A maior parte das emissões do país, citou, está associada ao uso da terra, impulsionada pelo desmatamento. “Claro que não é fácil reduzir emissões ligadas ao desflorestamento, mas compare com os países que usam 80% de energia fóssil e terão que mudar toda a matriz energética em pouco tempo, um desafio muito maior”, disse.


Barral acredita que, por possuir grandes reservas de óleo e gás e ao mesmo tempo um grande potencial de energias renováveis, o Brasil é capaz de desenvolver estratégias flexíveis, frente às diversas incertezas que ainda pairam sobre os rumos, ritmos e rotas tecnológicas da transição energética. “Existem riscos nesse processo, mas temos elementos fundamentais para tirar proveito”, disse o executivo.


Para ele, a transição é um processo competitivo em que países e empresas tentam transformar o mercado, buscando reduzir suas respectivas dependências e estabelecer novas vantagens competitivas para suas economias.


“Teremos vencedores e perdedores dessa transição, como sempre houve”, completou Camargo.


Sobre como o Brasil pode se inserir nas cadeias globais de valor, nesse percurso da descarbonização, Barral disse que a intenção é acelerar as tecnologias e modelos de negócios já maduros, como biomassa, etanol, eólica e solar, e, ao mesmo tempo, pavimentar caminho para novas tecnologias - hidrogênio verde e células combustível a etanol, por exemplo. “Se o Brasil souber trabalhar essa dimensão tecnológica, vai agregar muito mais valor aos seus recursos naturais e se integrar à cadeia global dessa geopolítica da energia.”


Ao mesmo tempo em que flerta com as novas tecnologias, o Brasil dá sinais trocados, ao lançar o Programa para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional, para substituição de termelétricas antigas por novas - num momento em que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) defende o fim de novos investimentos na fonte.


Questionado, Barral argumentou que a fatia do carvão na matriz nacional é inferior a 5% e que a discussão sobre o descomissionamento do carvão no mundo tem um “peso muito maior” nos países mais dependentes da fonte. Ele alegou ainda que o programa não impõe a construção de novas usinas e que a viabilidade dos projetos passará pelo crivo do setor privado e dos bancos, num contexto em que o setor financeiro se mostra cada vez mais avesso aos combustíveis fósseis.


Camargo, do Cebri, vê o Brasil como um vencedor nessa espécie de corrida global pela transição energética, mas defendeu que o país precisa aperfeiçoar suas políticas públicas.


Fonte: Valor

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