Os desastres naturais das últimas semanas confirmam os alertas feitos por cientistas. A enchente devastadora na Europa Central, os incêndios em geleiras na Rússia e a onda de calor e seca que atingiu os Estados Unidos são consequências diretas da mudança climática. Todos ocorreram no período de 1 mês e as imagens evidenciam a necessidade de medidas imediatas.
Faltando 4 meses para a 26ª Conferência das Partes (COP) em Glasgow, a comunidade internacional sofre pressão para apresentar propostas ambiciosas que resultem na diminuição dos gases do efeito estufa (GEE). Adiada por 1 ano por conta da pandemia, a conferência deveria marcar os 5 anos da criação do Acordo de Paris, em 2015. Seu principal objetivo é a renovação do compromisso dos países signatários de conter o aumento da temperatura até 1,5?C.
Com a crise econômica provocada pela pandemia, o índice de participação na renovação dos compromissos climáticos é baixo. Segundo o instituto de pesquisa Climate Action Tracker, 62 contribuições dos 195 países foram atualizadas, representando 49,9% das emissões totais de GEE.
Para completar, em alguns casos, como o Brasil e México, os compromissos climáticos foram menos ambiciosos que os assumidos há 5 anos. Fruto do desmonte ambiental do governo Bolsonaro, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles apresentou uma contribuição nacionalmente determinada (NDC) que altera o ano base da contagem do acúmulo de GEE, permitindo uma porcentagem maior de emissões para o futuro. A Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) estima que emissões de GEE crescerão ao menos 5% em 2021 em comparação a 2019.
Embora com algumas ressalvas, os países que mais emitem GEE, China, Estados Unido e União Europeia, têm se movimentado para diminuir suas emissões de carbono. A China apresentou na semana passada um novo mercado de carbono, que já corresponde ao maior do mundo por conta da dimensão do país.
Presente na Europa e em alguns Estados norte-americanos, o sistema conhecido como cap and trade determina uma certa quantia de emissões de CO2 que são permitidas e “distribuídas” em forma de licenças a cada empresa, e qualquer excedente deve ser negociado no mercado.
A iniciativa chinesa é bastante promissora, mas especialistas alertam que o resultado não será imediato. Uma regulamentação mais rigorosa na contagem de emissão, a extensão do mercado além do setor elétrico (inclusão dos setores de cimento e ferro) e um ajuste mais severo do preço de emissão de carbono são alguns dos fatores necessários para garantir que as emissões sejam reduzidas de forma expressiva.
A 1ª transação do mercado, por exemplo, já apresentou um preço abaixo do esperado (US$ 8 dólares por tonelada, comparado com US$ 57 dólares na Europa). Segundo o professor Zhang Xiliang, da Universidade de Tsinghu, em Pequim, o preço do carbono vai aumentar à medida que o mercado for se estabelecendo.
Um passo à frente, a Europa e os Estados Unidos anunciaram novas regras para seus respectivos mercados de emissão. Na semana passada, a União Europeia apresentou alterações em seu sistema de comércio de emissões (ETS), que incluem restringir o limite de licenças pela metade e diminuir em 40% as emissões de GEE no continente.
Outra possível mudança no ETS inclui a aplicação das regras de limite de emissão de CO2 na importações de mercadoria de países com os quais tem relações comerciais. Para complementar, os democratas norte-americanos anunciaram suas intenções de implementar novos impostos de carbono sob produtos importados, fechando o cerco ainda mais. Países sem uma forte regulamentação ambiental e desprovidos de práticas de redução de carbono, como o Brasil e Rússia, serão prejudicados e devem buscar rever medidas de produção mais sustentáveis.
O anúncio do novo mercado chinês indica que o mundo está entendendo o recado, e que a tendência é que, cada vez mais, economias se adaptem e se comprometam a reduzir suas pegadas de carbono. O momento para se ajustar à nova ordem é agora e o Brasil tem muito terreno a recuperar para impedir o isolamento completo.
Fonte: Poder 360
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