Em busca de novas alternativas de combustíveis, um grupo de sete grandes empresas dos mercados aéreo, financeiro e de energia anunciou nesta terça (23/7) a formação de um fundo para acelerar a produção de SAF (sigla em inglês para combustível sustentável de aviação).
Juntas, Airbus, Air France-KLM, Associated Energy Group, BNP Paribas, Burnham Sterling, LLC, Mitsubishi HC Capital e Qantas Airways são co-investidoras no fundo de cerca de US$ 200 milhões para financiar projetos de produção de SAF tecnologicamente maduros.
Gerido pelo Burnham Sterling Asset Management, com investimento âncora da Airbus, o Sustainable Aviation Fuel Financing Alliance (SAFFA) pretende diversificar os aportes em várias rotas de produção e regiões, com preferência por tecnologias que utilizam resíduos como matéria-prima.
Abastecida com querosene fóssil, a aviação internacional responde por 2% das emissões globais de gases de efeito estufa e tem um compromisso de crescimento neutro em carbono que será obrigatório a partir de 2027, pelo Corsia (Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional).
O SAF entra como uma solução de mitigação, na medida em que substitui o derivado de petróleo e reduz a pegada de carbono dos voos. Em média, o biocombustível de aviação puro emite cerca de 80% menos CO2 que seu concorrente fóssil.
O problema é que a oferta desse produto é quase insignificante atualmente, o que o torna disputado e caro.
Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), a participação do SAF no mercado global é de apenas 3% de todos os combustíveis renováveis produzidos.
A expectativa é que o fornecimento triplique em 2024, em relação a 2023, chegando a 1,8 bilhão de litros.
A título de comparação, no Brasil, o consumo anual de querosene fóssil é de 7 bilhões de litros e o país tem um potencial estimado de capacidade de produzir 12 bilhões de litros de SAF – mas ainda precisa viabilizar a primeira gota comercial.
Em outros mercados onde as aeronaves já decolam com algum percentual do biocombustível, as soluções estão apoiadas em parcerias entre companhias aéreas e fornecedores, formação de fundos de investimentos e até mesmo o repasse de uma taxa de descarbonização aos passageiros frequentes.
A ideia do SAFFA, lançado hoje, é investir em vários projetos e permitir que cada um dos parceiros possa firmar contratos prioritários para garantir aquisições de volumes de combustível sustentável.
O fundo está focado em rotas aceitas pela certificação RefuelEU Aviation, da União Europeia, ou pelo Corsia.
O primeiro investimento anunciado é na Crysalis Biosciences, uma empresa de tecnologia dedicada à renovação da infraestrutura de fabricação química dos Estados Unidos.
A empresa adquiriu e renovou uma usina de etanol localizada em Sauget, Illinois, que foi fechada em 2019.
No primeiro trimestre de 2024, a planta concluiu as atualizações e recebeu as autorizações ambientais necessárias para retomar as operações, com o objetivo de produzir 30 milhões de galões/ano (113,5 milhões de litros/ano) de SAF e bioquímicos de baixa intensidade de carbono.
Demanda em expansão
A Iata calcula que a aviação precisa que 25% a 30% da capacidade de produção de combustíveis renováveis seja dedicada ao SAF até 2050, para viabilizar zero emissões líquidas do setor.
A organização aponta que todo o volume produzido até agora foi comprado e utilizado. Em 2023, o transporte aéreo desembolsou mais de US$ 756 milhões para adquirir o produto. Pelo menos 43 companhias já se comprometeram a usar cerca de 16,25 bilhões de litros de SAF em 2030, com mais acordos sendo anunciados regularmente.
As projeções indicam que mais de 78 bilhões de litros de combustíveis renováveis serão produzidos em 2029, mas aproximadamente 85% das instalações que entrarão em operação nos próximos cinco anos utilizarão a tecnologia de produção por hidrotratamento (HEFA), que depende de gorduras animais não comestíveis (sebo), óleo de cozinha usado e gordura residual como matéria-prima.
Esta rota está no limite, no entanto, pela baixa disponibilidade dos insumos que já são usados na produção de bicombustíveis tradicionais.
Por isso, a indústria se mobiliza em busca de políticas e mecanismos para financiar outras tecnologias a serem competitivas, como o álcool para jato (ATJ) e Fischer-Tropsch (FT), que utilizam resíduos biológicos e agrícolas.
Curtas
Brasil inabitável
Utilizando dados de satélites, pesquisadores da agência espacial norte-americana (Nasa) apontam áreas do Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sudeste do Brasil entre as regiões da Terra onde o calor pode impossibilitar a sobrevivência humana em 50 anos. Além das áreas inabitáveis, o estudo também aponta que no mesmo período algumas regiões já não permitirão a formação de vida. As três regiões mais afetadas são: Sul da Ásia, Golfo Pérsico, China e Brasil. (Forbes)
Chamada para aço e cimento verdes
O Hub de Descarbonização da Indústria do MDIC abriu a terceira chamada pública para projetos que facilitem soluções financeiras e acesso a crédito para apoiar indústrias em seus esforços de descarbonização. Em parceria com o programa Parcerias para Acelerar Transições Climáticas (UK PACT) do Reino Unido e o Ministério de Minas e Energia (MME), a iniciativa vai financiar com até £3 milhões (R$ 21 milhões) projetos nas áreas de cimento e aço.
R$ 120 milhões para Fundo Amazônia
BNDES e União Europeia assinaram, na segunda (22/7), uma carta de intenções formalizando a doação de 20 milhões de euros (aproximadamente R$ 120 milhões) ao Fundo Amazônia, com foco no apoio ao desenvolvimento sustentável da região. O mecanismo tem hoje R$ 3,9 bilhões em recursos não reembolsáveis oriundos de doações. Leia na epbr
BBF pede resgate
Sem dinheiro para conseguir manter suas usinas térmicas em operação na Amazônia, a Brasil Biofuels (BBF), empresa que se define como a maior produtora de óleo de palma da América Latina, apresentou um novo pedido à Aneel para que encargos incluídos na conta de energia elétrica passem a bancar tudo o que envolve a operação de suas usinas. As informações são do Reset
Descarbonização sul-africana
A África do Sul sancionou sua primeira lei abrangente sobre mudanças climáticas e vai estabelecer limites para grandes emissores, além de exigir que as cidades publiquem seus planos de adaptação. A intenção é colocar o país na trajetória para reduzir as emissões de carbono e cumprir as metas do Acordo de Paris. A África do Sul é a economia mais intensiva em carbono do mundo e está entre os 15 maiores emissores de gases de efeito estufa. (Reuters)
Fonte: epbr
Biocombustível de macaúba terá preço competitivo com do fóssil, diz diretor da Mubadala
Mercado de carbono é aprovado após acordos com agro, térmicas e distribuidoras
Na COP 29, Alckmin projeta Brasil como protagonista da nova economia global