O Produto Interno Bruto (PIB) da soja e do biodiesel no país pode deixar de faturar uma quantia bilionária nos próximos anos, caso o Brasil opte pela importação do biocombustível. A aquisição do produto no exterior também coloca em risco a geração de empregos na cadeia.
A constatação é de um parecer técnico elaborado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a pedido da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
De acordo com o relatório, estima-se que R$ 121 bilhões (a preços de 2023) deixariam de ser gerados no PIB da cadeia produtiva entre 2024 e 2036, caso 20% do mercado fosse abastecido pelas importações do biocombustível. Para 2023, a Abiove e Cepea projetam que o PIB agregado pela cadeia da soja e do biodiesel irá alcançar R$ 637 bilhões.
Sobre o mercado de trabalho, o estudo revela que 1,52 milhão de empregos adicionais poderiam ser gerados pela cadeia produtiva de 2024 a 2036, se a produção doméstica de biodiesel fosse a responsável por suprir todo o mercado potencial.
Mas, considerando que 20% desse mercado será abastecido por importações, 444,6 mil ocupações adicionais deixariam de ser geradas pelo segmento.
Para chegar aos resultados, o Cepea considerou uma combinação entre o crescimento estimado da demanda por óleo diesel e um aumento do percentual de mistura obrigatória do biodiesel ao óleo feito a partir do combustível fóssil.
Nesse sentido, o parecer considerou uma mistura de 13% em janeiro e fevereiro de 2024 e um ponto percentual adicional no mês de março de 2024; a partir de 2025, 1 p.p. é adicionado no mês de março de cada ano, chegando a 25% em março de 2035.
Outros impactos
Além das projeções negativas para o PIB e a geração de empregos na cadeia da soja, o levantamento apontou ainda outros prejuízos com a importação de biodiesel pelo Brasil. Ao considerar as projeções para a demanda de biodiesel e o percentual de 20% a ser suprido por importações, o estudo diz que as aquisições do biocombustível poderiam atingir 40,5 bilhões de litros, de 2024 a 2036.
Diante desse cenário, o estudo projeta uma despesa com importações de US$ 37,33 bilhões no acumulado do período.
As perspectivas para a produção de farelo de soja também seriam afetadas com a entrada do biodiesel estrangeiro, segundo o estudo, uma vez que o país não atingiria o potencial de produção estimado em 11,45 milhões de toneladas, no acumulado de 2024 a 2036.
“Parte dessa produção adicional deixará de criar valor adicionado na indústria brasileira de rações – o que já foi captado nas estimativas apresentadas para o PIB que deixa de ser gerado pela cadeia produtiva nesse cenário. Outra parte dessa produção adicional deixa de ser exportada e, portanto, de gerar receitas com exportações”, ressalta a publicação.
Tendo em vista esse cenário, 6,28 milhões de toneladas de farelo podem deixar de ser exportadas. Assim, o Brasil não seria capaz de gerar US$ 3,23 bilhões em receitas com exportações de farelo.
Para chegar a esses cálculos, o estudo do Cepea utilizou como referência o preço do biodiesel, do farelo de soja e taxa de câmbio do primeiro semestre de 2023, mantendo a estratégia metodológica utilizada nas simulações de PIB e emprego.
Na média do período de janeiro a junho de 2023, a taxa de câmbio foi de R$ 5,0724, o preço do biodiesel de R$ 4,68 por litro conforme dados Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), e o preço de exportação do farelo de soja FOB no Porto Paranaguá de US$ 513,59 por tonelada, conforme dados compilados e publicados pela Abiove.
Importações
No final de novembro, a ANP aprovou a resolução que regulamenta a importação de biodiesel para uso na mistura obrigatória ao óleo diesel no país. Desde então o setor produtivo tenta reverter a medida, alegando inúmeros prejuízos à cadeia.
Na próxima segunda (18), o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve se reunir para discutir a autorização da ANP.
Fonte: Globo Rural
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