(Bloomberg) -- Os líderes mundiais começaram a gerar algum otimismo real com seus esforços para combater a mudança climática global. O preocupante, contudo, é que ainda estamos distantes de controlar as emissões de carbono e muito pensamento positivo ainda é necessário para acreditar que podemos fazê-lo.
O acordo de Paris sobre a mudança climática obteve as assinaturas nacionais necessárias para entrar em vigor em 4 de novembro. Alguns economistas o enxergam como uma promissora estrutura de cooperação entre muitos países diferentes, especialmente se aqueles que não fizerem sua parte sofrerem penalidades, como sanções comerciais. Existem até especulações sobre um objetivo mais ambicioso de manter as temperaturas globais 1,5 grau Celsius ou menos de seu nível pré-industrial, contra os 2 por cento acordados atualmente. Enquanto isso, foi fechado outro importante acordo internacional para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa usados em sistemas de refrigeração e a tecnologia de energia solar continua avançando rapidamente.
Apesar de todo o progresso, contudo, a diferença entre o que precisa acontecer e o que está acontecendo continua sendo grande. E o pior é que ela está aumentando.
Basta considerar, por exemplo, como o planeta continua distante de qualquer trajetória das emissões de carbono na qual -- segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) -- o aquecimento global permaneceria abaixo de 2 graus. Mesmo nos cenários mais brandos já teríamos que reduzir as emissões líquidas. Contudo, segundo as promessas feitas pelos países no acordo de Paris, as emissões continuarão aumentando fortemente até 2030, pelo menos.
Segundo os cientistas do clima Kevin Anderson e Glen Peters, há um elemento de pensamento mágico nas projeções do IPCC. Para ser específico, o órgão confia fortemente na presunção de que as novas tecnologias permitirão que os humanos comecem a sugar carbono da atmosfera em grande escala, resultando em uma grande emissão negativa líquida em algum momento da segunda metade deste século. Isso pode vir a acontecer, mas ainda não sabemos como fazê-lo.
As suposições a respeito das emissões negativas acabam gerando um resultado bizarro em uma análise que deveria ser cautelosa e conservadora. Os cenários do IPCC, em essência, ignoram a enorme incerteza em torno de uma tecnologia que sequer existe e a respeito da nossa capacidade de ampliar seu uso até a escala necessária. Para eliminar tanto carbono na atmosfera, estima o geofísico Andrew Skuce, precisaríamos de uma indústria aproximadamente três vezes maior que toda a indústria atual de combustíveis fósseis -- e precisaríamos criá-la rapidamente, construindo uma grande planta para capturar e armazenar carbono a cada dia nos próximos 70 anos. Isso soa provável?
Talvez esse pensamento ilusório seja um sintoma inevitável da nossa dependência em relação aos combustíveis fósseis -- e do nosso medo da dor dilacerante que o distanciamento em relação a eles provocará. Na realidade, se não estamos sentindo a diferença é porque provavelmente não estamos nos esforçando o suficiente.
Para entrar em contato com o repórter: Mark Buchanan New York, buchanan.mark@gmail.com
Fonte: Bloomberg