Artigo de Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energia
A vocação do brasileiro para a aviação já está clara desde que o mineiro Alberto Santos Dumont, em 1906, conseguiu fazer decolar o 14-Bis usando um pequeno motor movido a gasolina. O desenvolvimento desse primeiro avião inspirou as mentes mais brilhantes do mundo a seguir aprimorando tanto as tecnologias das aeronaves quanto a de combustíveis. Nos anos que se seguiram, o país deu importantes passos para o desenvolvimento aeronáutico, incluindo a inauguração do Instituto Tecnológico de Aeronáutica e a criação da Embraer.
Assim como as tecnologias evoluíram, as preocupações com o futuro do planeta também são outras. Não temos outra opção que não seja reduzir as emissões de gases do efeito estufa para impedir o aumento das temperaturas globais. A aviação responde pela emissão de cerca de 3,5% do CO2 lançado na atmosfera, segundo estudo liderado pela Universidade Metropolitana de Manchester, e esse percentual pode aumentar caso medidas não sejam tomadas.
Soluções para reduzir as emissões do setor aéreo já vêm sendo implantadas. A principal delas é a adição do Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês) ao Querosene de Aviação (QAV) de origem fóssil. Com o Projeto de Lei do Combustível do Futuro, o Ministério de Minas e Energia preparou o marco regulatório que dará segurança jurídica e garantirá a demanda, ao estabelecer mandados de mistura do SAF ao QAV, promovendo a redução de emissões.
Esse é um dos exemplos do nosso trabalho para garantir uma economia verde. Brasileiras e brasileiros devem se orgulhar de ser os protagonistas de uma transição energética mundial.
Nosso país é chamado de celeiro do mundo pela enorme capacidade de produzir alimentos, mas também merece esse título pela grande contribuição energética dos biocombustíveis, cujas matérias-primas crescem em abundância por todos os cantos do Brasil. A partir do uso do etanol e dos resíduos de sua produção, bem como de óleos vegetais, a indústria nacional terá condições de acelerar a produção local do SAF, que poderá resultar em redução no preço de passagens aéreas assim que as rotas tecnológicas de produção estiverem dominadas e o mercado estabelecido.
Era necessário que os setores de aviação e biocombustíveis se unissem para perseguir as metas de descarbonização até atingir a neutralidade das emissões antes de 2050. A parceria com DNA 100% nacional entre a Raízen e a Embraer mostra que o SAF brasileiro será altamente competitivo, tornando o Brasil um exportador desse combustível.
Essa parceria representa o desenvolvimento de tecnologias nacionais, investimento na indústria e geração de empregos mais qualificados. Demonstra um país que não quer ser mero exportador de commodities, mas de produtos acabados, de grande valor agregado.
A adoção do SAF pelo setor aéreo poderá ajudar a reduzir as desigualdades regionais. A Região Nordeste está estrategicamente posicionada em relação aos países desenvolvidos, num ponto praticamente equidistante da Europa e dos Estados Unidos. Essa posição privilegiada tem potencial para que mais voos internacionais façam paradas em aeroportos da região para abastecimento, tornando o Nordeste um hub para fornecimento de SAF e descarbonização da aviação.
O Programa Combustível do Futuro se conecta com o Programa Nacional de Hidrogênio ao haver produção de SAF com hidrogênio de baixo carbono. O SAF é um hidrocarboneto renovável quimicamente idêntico ao QAV fóssil, cujos testes para uso foram validados pela American Society for Testing and Materials (ASTM ) por rota tecnológica e matéria-prima. As melhores práticas internacionais foram incorporadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na sua regulação, assegurando a qualidade necessária aos consumidores.
Fonte: O Globo
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