O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira, 1º, na Cúpula do Clima (COP-28) que é preciso reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e acelerar o ritmo de descarbonização da economia. Em discurso na conferência das Nações Unidas, ele criticou o descumprimento de acordos climáticos e os gastos com guerras, além de cobrar novamente ajuda financeira dos países ricos.
Nesta COP em Dubai, o governo quer retomar o protagonismo na negociação climática e obter mais verba para a preservação de florestas. Mas terá de se esquivar de questionamentos em relação a seu compromisso na pauta ambiental, como a incerteza sobre planos de explorar petróleo na Margem Equatorial da Foz do Amazonas e a recente alta recorde de queimadas no Amazonas e no Pantanal.
O governo lança na COP, nesta sexta, o Plano de Transformação Ecológica. Capitaneado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o programa quer impulsionar áreas como bioeconomia e energia limpa.
“O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis e é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descabornização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”, disse Lula.
Por outro lado, o Brasil foi convidado a integrar a Opep+. O grupo reúne 23 nações, entre membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados, como Rússia, México e Malásia.
Além disso, a oscilação do presidente sobre a explorar petróleo na Margem Equatorial do Amazonas tem chamado a atenção internacional. O plano divide o governo internamente. A área ambiental resiste em conceder licenças para que a Petrobras pesquise petróleo na região. Já a pasta de Minas e Energia defende fazer o estudo com o propósito de extrair o recurso. Em falas recentes, o presidente tem minimizado a controvérsia.
Lula criticou ainda os gastos com arsenais de guerra e cobrou mais dinheiro dos países ricos, o que ele tem feito desde a COP de 2022, no Egito. “O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro a países pobres que não chega”, disse.
“É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra”, afirmou.
Menções a guerras têm sido uma questão delicada para Lula, cujas declarações sobre os conflitos na Ucrânia e na Palestina já despertaram reações negativas na comunidade internacional. Numa das mais recentes, o petista equiparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao ataque terrorista do Hamas e foi alvo de críticas.
O presidente citou a redução do desmate na Amazônia, cuja taxa de destruição caiu 22% em um ano, e reiterou a meta de zerar a devastação do bioma até 2030. Grande parte dos ambientalistas e do setor produtivo, porém, defende antecipar esse objetivo. O ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto, disse ao Estadão ser “inaceitável” a promessa de zerar o desmatamento só em 2030.
Além disso, a estiagem histórica seguida por um número recorde de incêndios no Amazonas expõe falhas no planejamento do governo na resposta aos eventos climáticos extremos. A própria gestão Lula admitiu que o número de brigadistas era insuficiente para dar conta do problema, agravado pelo El Niño, cujos efeitos graves eram alertados pelos cientistas desde o começo do ano.
“Obviamente a gente tem de se planejar melhor, ter estruturas melhores. O Brasil precisa ter mais aeronaves de combate a incêndio” admitiu ao Estadão o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho.
Em sua fala, Lula afirmou ainda que o Brasil estabeleceu pontes com países florestais e criou visão comum com os vizinhos amazônicos. Mas na Cúpula de Belém, em agosto, divergências entre as nações que abrigam a floresta sobre o veto a novas explorações de petróleo na região e resistências de assumir a meta de zero desmate emperraram um documento mais ambicioso.
Em Dubai, uma das principais apostas do governo neste ano é propor um novo fundo internacional que receba recursos como contrapartida para cada hectare de floresta preservado. A ideia do modelo, que será detalhado nesta sexta, é de que seja diferente do Fundo Amazônia e gerido por uma instituição financeira multilateral.
“Vamos trabalhar de forma construtiva com todos os países para pavimentar o caminho entre esta COP-28 e a COP-30, que sediaremos no coração da Amazônia (será realizada em 2025, em Belém).”
Por outro lado, o país ainda encontra dificuldades em reduzir os índices do Cerrado. Dados divulgados nesta semana mostram que o governo não conseguiu baixar a taxa de desmate no bioma e a área perdida foi de 11.011,7 km², superior ao território destruído na Amazônia.
Nesta sexta, Lula participa ainda de ao menos cinco encontros bilaterais. Entre as agendas, encontra o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, o presidente de Israel, Isaac Herzog; e o da Guiana, Mohamed Irfaan Ali. Na quinta-feira, 30, o Brasil intensificou a presença de militares em Parcaraima, na fronteira norte do país, após o aumento da tensão entre a Venezuela e a Guiana.
‘Sinais vitais estão falhando’
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou nesta sexta-feira, 1º, que os países estão a “quilômetros” de cumprir o Acordo de Paris, celebrado em 2015 para conter o aquecimento global.
“Os sinais vitais da Terra estão falhando: emissões recorde, incêndios ferozes, secas mortais e o ano mais quente de todos”, disse. “Estamos a quilômetros dos objetivos do Acordo de Paris, e a poucos minutos da meia-noite para o limite de 1,5 graus”.
Em seu discurso na sessão de abertura da COP-28, em Dubai, Guterres fez um apelo aos chefes de Estado para agirem rápido para evitar a catástrofe global. “Mas não é tarde demais. Vocês podem evitar que o planeta colapse e queime. Temos as tecnologias para evitar o pior do caos climático, se agirmos agora”, disse.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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