Cientistas citaram quadro de “colapso climático” no planeta e cobraram medidas concretas no Brasil durante audiência pública na 3ª feira (5.mar.2024) da Comissão Especial de Prevenção e Auxílio a Desastres Naturais da Câmara dos Deputados.
Diante do aquecimento global em velocidade acima da esperada e do pouco avanço em acordos internacionais, mostraram a urgência de descarbonização, reflorestamento e monitoramento dos biomas, a fim de enfrentar a sucessão de eventos extremos.
Doutor em ciências atmosféricas, o físico Alexandre Araújo da Costa comparou a elevada concentração atual de gases do efeito estufa a bombas atômicas.
“Esses gases se acumulam ao ponto de hoje termos 50% a mais de CO2, duas vezes e meia mais de metano e acima de 30% a mais de óxido nitroso do que tínhamos, por exemplo, em 1800. Esse desequilíbrio climático é tão grande que equivale a pegar a energia de 21 bombas de Hiroshima por segundo, alterando o ciclo hidrológico, aumentando as temperaturas globais, multiplicando eventos extremos, dilatando os oceanos e derretendo geleiras”, explicou.
Costa também é professor da Universidade Federal do Ceará e integrou a equipe de cientistas que elaborou o 1º relatório brasileiro de mudanças climáticas. Segundo ele, a manutenção do atual cenário de emissões de gases poluentes leva a um “futuro catastrófico”.
A opinião é compartilhada com a coordenadora do Laboratório de Gases do Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LaGEE/INPE), Luciana Gatti. Ela apresentou mapas de “anomalias” de temperatura para provar que o recente aquecimento da superfície dos oceanos vai muito além do fenômeno El Niño, que tem ação mais específica no Pacífico equatorial.
“Estamos presenciando aumento de temperatura nos oceanos como a gente nunca viu. E, neste ano, está pior ainda. Dá para dizer que o colapso climático ainda não começou? Desculpa. Não dá. Pelo que estamos vendo, parece que está incontrolável e escapando da mão”, afirmou.
Gatti é química e coautora de um dos artigos mais lidos na revista científica Nature sobre o impacto do desmatamento na Amazônia Legal, impedindo a floresta de absorver CO2. A situação é mais crítica no leste da região, em áreas de Pará e Mato Grosso.
“Se a gente pega o aumento da temperatura em 40 anos e o compara com os últimos 20 anos, o aumento é de 50%. Isso é o ponto de não-retorno chegando. Deveria ser decretado estado de emergência no sudeste da Amazônia”, disse Luciana Gatti.
Umidade
Há também impacto negativo na evapotranspiração que alimenta os chamados “rios voadores” e espalha a umidade amazônica para os outros biomas.
Entre as sugestões urgentes, Luciana Gatti pede redução do desmatamento e da produção de combustíveis fósseis (petróleo e natural), além do resfriamento da superfície terrestre por meio de reflorestamento com vegetação nativa.
Relator da comissão especial, o deputado Gilson Daniel (Podemos-ES) prometeu avaliar a sugestão de apoio à rede de monitoramento dos biomas por meio de emendas parlamentares ao Orçamento da União.
Vítimas do clima
Organizador da audiência pública, o deputado Tarcísio Motta (Psol-RJ) defendeu a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC 44/23) que reserva 5% dessas emendas para emergências climáticas.
“Os desastres não são naturais. São socioambientais e quem morre são os mais pobres, são os negros e negras. Portanto, é preparar as cidades e adaptá-las para o que vai acontecer cada vez mais”, disse o deputado.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, manifestou a “ansiedade” por medidas concretas no mundo inteiro ao lembrar a projeção da Organização Mundial de Saúde de 250 mil mortos por ano em consequência do aquecimento global de 2030 a 2050.
Astrini disse que os últimos 8 anos foram os mais quentes da história, segundo a OMN (Organização Meteorológica Mundial). Recentemente, houve recordes de degelo na Antártida e na Groenlândia, além de registro de 38°C na Sibéria.
Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, 93% das cidades brasileiras enfrentaram desastres naturais de 2013 a 2022.
O professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, Saulo Rodrigues, defendeu ações conjuntas de adaptação e mitigação no Plano Clima, em vigor desde 2009.
Gustavo Luedemann, da Rede Clima e do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), elogiou o AdaptaClima, plataforma que orienta os municípios sobre a ocorrência de eventos extremos, mas pediu apoio para lidarem com mais efetividade diante das vulnerabilidades da população, sobretudo em relação à saúde e moradias de risco.
Fonte: Poder 360
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