Editorial O Globo
Relatório das Nações Unidas constatou que os compromissos de redução nas emissões de gases assumidos no Acordo de Paris estão longe do objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 °C em relação aos níveis da era pré-industrial. Cientistas preveem que, mesmo que sejam cumpridos, o planeta esquentará entre 2,5°C e 2,9°C. É preciso, portanto, fazer mais. Para isso, o caminho mais promissor são tecnologias que gerem energia sem lançar gases na atmosfera.
A maior vantagem do Brasil é ter uma matriz energética das mais limpas do mundo — cerca de 60% da energia gerada é hídrica. Os obstáculos ambientais à construção de grandes hidrelétricas na Amazônia têm sido compensados pelo crescimento da geração de energia eólica e solar no Nordeste. Outra vantagem brasileira está na experiência com o uso de álcool como substituto da gasolina e de combustíveis vegetais no lugar de diesel.
É nítido, porém, o avanço dos veículos elétricos pelo mundo, propiciado pelo avanço tecnológico das baterias. Ainda há no Brasil um obstáculo aos proprietários de veículos 100% elétricos difícil de superar: a pequena rede de recarga existente. Por isso a tendência inicial deve ser a predominância de veículos híbridos. Há algum tempo foram lançados carros híbridos que podem ser movidos tanto por eletricidade como por álcool, garantindo redução quase total das emissões.
O barateamento das baterias deverá, contudo, exercer pressão pela eletrificação total da frota. Nos Estados Unidos, Califórnia, Texas e Arizona já têm usado baterias robustas, carregadas por energia solar durante o dia para abastecer as redes de transmissão à noite. Em 30 de abril, entre 19h e 22h, as baterias forneceram mais do que 20% da energia consumida na Califórnia. Por alguns minutos, distribuíram 7.046 megawatts, o equivalente à geração de sete usinas nucleares como as de Angra.
A tendência é a multiplicação de baterias pelo mundo. Em três anos, a capacidade de estocagem de energia elétrica foi multiplicada por dez nos Estados Unidos. A previsão para este ano é que o parque dobre de tamanho. Ajuda nessa expansão a queda de 80% no custo das baterias à base de lítio — mesma tecnologia dos celulares e dos veículos elétricos. A Califórnia conta com elas para atingir o objetivo de chegar a 2045 com 100% da energia consumida no estado oriunda de energia limpa. Para isso, a malha de baterias triplicará até 2035. Seu uso tem substituído o consumo de gás natural.
É cedo para saber se a opção brasileira pelo carro híbrido será melhor que a adoção de veículos elétricos dependentes de uma rede de distribuição ainda incerta. Mas é preciso estar preparado para um futuro em que serão necessárias tecnologias de todo tipo.
Fonte: O Globo
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