Superar as perdas de 2022 e otimizar a capacidade de produção viraram lemas para o setor de biodiesel em 2023. Entidades do segmento afirmam que a demanda pelo biocombustível
pode ficar até 45% maior caso haja um aumento substancial da parcela a ser misturada ao diesel fóssil.
Segundo os interlocutores, não há dúvidas de que os combustíveis renováveis serão estimulados com um governo ambientalmente mais consciente, mas não se sabe qual será o incremento da procura para este ano.
Ao Broadcast Agro, o consultor de Petróleo, Gás e Renováveis da StoneX Brasil, Smyllei Curcio, estimou dois cenários diferentes para o ano. Caso o Brasil mantenha o atual mandato de mistura de 10% de biodiesel ao diesel fóssil (chamado de B10) até março e passe a 15% a partir de abril, o consumo nacional tende a alcançar cerca de 8,8 bilhões de litros, incremento próximo de 45% em relação à demanda registrada em 2022, de 6 bilhões de litros. Em um cenário menos otimista, se o País adotar um porcentual menor e mantê-lo por todo o ano - considerando mistura de 12% a partir de abril - a demanda será de cerca de 7 bilhões de litros. O volume, mesmo assim, é 16% maior ante o de 2022.
Os resultados se alinham com as projeções de entidades do biodiesel, que defendem um cenário intermediário a esses citados, com avanço progressivo dos porcentuais até o B15 (15%).“Eu não acredito que o mercado vá sair de um B10 para o B15 direto. Esse aumento de mistura, para ser sustentável, tem que ser gradual”, defende Curcio.
A obrigatoriedade na mistura de biodiesel ao diesel fóssil começou em 2008, com o B2, e avançou a 10% até 2018. Naquele ano, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) definiu que o porcentual subiria gradualmente até alcançar o B15, com a mistura de 15% de biodiesel ao equivalente fóssil a partir de março de 2023. O cronograma, no entanto, não previa uma série de revezes que fizeram com que o governo Jair Bolsonaro reduzisse a mistura de forma subsequente em 2021, fixasse o mandato em 10% até o fim de 2022 e depois prorrogasse a medida até 31 de março de 2023.
A Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), que representam quase 90% das indústrias do setor, enviaram carta pedindo para que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalie, agora em janeiro, a possibilidade de aumento da mistura para fevereiro e março (que poderia ser entre 12% e 14%). As entidades pedem, ainda, para que a gestão defina, até o fim de fevereiro, um cronograma para alcançar o B15. “O aumento gradual é mais sustentável para o mercado, mais orgânico, porque as distribuidoras não conseguem virar uma chave, tem que haver um incremento da logística”, diz o consultor da StoneX.
No relatório final do grupo técnico de Agricultura, Pecuária e Abastecimento da transição do agora governo, publicado no dia 14 de dezembro, há recomendação para revogar a resolução do CNPE, que fixou o B10 em 2023. Embora o documento traga apenas sugestões e não defina se o aumento da mistura será gradual ou imediato, as entidades do segmento acreditam que o governo Lula terá um entendimento “holístico do programa” e defenderá os biocombustíveis como uma política de Estado.
As entidades são unânimes em dizer que a interlocução com o governo ao longo dos dois últimos anos foi deficitária. “Até nos ouviam, mas tomavam decisões para outros rumos”, afirma o diretor-superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski. “Com a interlocução que nós estamos tendo neste novo governo e a receptividade sobre o tema, acredito que vai ser um relacionamento bem mais fácil do que foi nesses dois últimos anos do governo Bolsonaro”, completa o diretor executivo da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio), João Henrique Hummel.
Fonte: Broadcast Agro - Contato: gabriela.brumatti@estadao.com
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