Cerca de 90% da população do planeta vivem em locais com a qualidade do ar abaixo do recomendado
A Covid-19 nos trouxe diversos percalços, mas também muitos aprendizados. O primeiro é que a sociedade já deveria ter elevado a preocupação com a saúde pública. E não me refiro a estarmos preparados com leitos de hospitais, mas, sim, para evitarmos doenças. A poluição, principalmente a do ar, é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 90% da população do planeta vivem em locais com a qualidade do ar abaixo do recomendado. A instituição também estimou que a poluição é responsável por 7 milhões de mortes prematuras por ano em todo o mundo. No Brasil, especificamente na capital paulista, a poluição é responsável por 12% das internações hospitalares, segundo o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
Alguns cientistas apontam que a queda da poluição que acontece durante a quarentena é tão acentuada que, se estivéssemos com os índices atuais antes da pandemia, milhares de vidas seriam salvas, pois o mal é responsável por provocar e agravar quadros de doenças respiratórias em todo o planeta. Para a Escola de Saúde Pública de Harvard TH Chan, em Boston, existe ligação direta entre taxas mais altas de mortalidade pela Covid-19 com a poluição. As cidades com a pior qualidade do ar, por exemplo, possuem até 15% mais chances de morte pela doença que lugares mais limpos.
Em Nova York, as emissões de monóxido de carbono de automóveis diminuíram 50% em comparação ao ano passado, segundo a Universidade Columbia, no período de isolamento social. Na capital mais poluída do mundo, Nova Délhi, na Índia, foi registrada queda de 71% nos níveis de particulados - de 91 microgramas de partículas por metro cúbico (µg/m3) para apenas 26. Em novembro do ano passado, a cidade atingiu cerca de 700 µg/m3, quando foi declarada emergência de saúde pública devido aos perigosos níveis de poluição, de acordo com o serviço meteorológico do país.
Segundo pesquisa publicada pelo físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), em 2017, a gasolina aumenta em 30% a emissão de nanopartículas que entram nos pulmões, o que compromete o sistema respiratório. Ainda, segundo a pesquisa, se São Paulo trocasse os combustíveis fósseis da frota veicular por etanol, haveria uma redução de 50% nos índices de poluição. Em seu ciclo completo, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, no Brasil, proporciona uma redução de até 90% de emissões de CO em relação à gasolina. Pela sua origem vegetal, a fotossíntese absorve o gás carbônico da queima do produto. Desde 2003, já foram evitadas emissões de 603 milhões de toneladas de CO na atmosfera brasileira – o equivalente ao plantio de 4 bilhões de árvores.
Graças ao etanol, a maior metrópole da América do Sul, São Paulo, tem registrado ar mais limpo, com o advento dos carros flex fuel. Em 2001, a cidade chegou a emitir 59 µg/m3 de material particulado. Hoje, são 29 µg/m3, na média anual, bem mais próximo ao indicado pela OMS, que é de 20 µg/m3. Já tivemos uma grande evolução, mas ainda temos muita oportunidade para melhorar.
O Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis, atrás dos Estados Unidos. E dispõe de infraestrutura para distribuição dos combustíveis renováveis por meio dos mais de 42 mil postos de combustíveis no país. Só na safra 2019/20, foram produzidos 34,2 bilhões de litros de etanol e quase 6 bilhões de litros de biodiesel.
A solução para prevenir doenças respiratórias existe e está disponível no Brasil há 40 anos. Utilizar mais biocombustíveis é uma das maneiras mais eficazes de se combater a poluição atmosférica. O exemplo brasileiro poderá ser copiado em países em que a poluição do ar é um grave problema, como a já citada Índia e a China.
Portanto, quando "tudo isso acabar" – uma das expressões mais lidas e ouvidas em matérias e lives, imbuída da esperança de retorno às atividades cotidianas –, é importante que não nos esqueçamos de que o álcool salva vidas, não apenas na hora de higienizarmos as mãos, mas também quando abastecemos os nossos automóveis.
Jacyr Costa Filho é membro do Comitê Executivo do Grupo Tereos e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp
Fonte: O Globo
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