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26 nov 2018 - 11:06
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IPCC indica necessidade de redução drástica das emissões até 2040

Para limitar o aumento da temperatura global em 2°C e garantir um clima minimamente estável às futuras gerações, será preciso reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa até 2040 e, a partir daí, retirar carbono da atmosfera em grandes quantidades. Esse é o principal alerta que o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) revelou.

Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do IPCC, explica como o planeta chegou a esse ponto crítico em relação às mudanças climáticas e os efeitos já percebidos no Brasil e no mundo. O cientista aponta também os principais desafios dos acordos globais de clima para conseguir criar uma governança comum e evitar que o termômetro ultrapasse 2°C.

Embora as previsões sejam preocupantes, Artaxo afirma que 'a ciência já tem as ferramentas para reduzir essas emissões drasticamente. O grande problema são as decisões políticas, que precisam ser feitas pelos governos de maneira a garantir a sustentabilidade da economia do planeta como um todo nas próximas décadas' Confira a entrevista completa:

Qual é a principal mensagem do novo relatório do IPCC?

A principal mensagem, sem sombra de dúvida, é de que se nós tivermos que limitar o aumento da temperatura em 2°C e se nós quisermos ter um sistema climático minimamente estável para as futuras gerações, temos que mudar radicalmente a maneira como utilizamos os recursos naturais do nosso planeta, em particular, a redução de emissões de combustíveis fósseis e a eliminação do desmatamento em regiões tropicais, em particular, na Amazônia.

Esse carácter de urgência já apareceu em relatórios anteriores do IPCC?

A cada relatório do IPCC, esse cárater de urgência vai se intensificando devido à falta de ações concretas de redução de emissão de gases de efeito estufa. Então, apesar desse caráter de urgência já ter sido mencionado em outros relatórios do IPCC, agora a urgência é muito maior. Por exemplo, as necessidades de redução de emissões imediatas hoje já são muito mais radicais do que apresentadoantes nos demais relatórios do IPCC. Basicamente, agora, a necessidade é de zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2040 e, a partir de 2040, retirar CO2 da atmosfera em grandes quantidades com tecnologias que a gente ainda não conhece.

Como a humanidade chegou a este ponto crítico?

Nós chegamos a este ponto crítico devido à ausência de ações tanto de governos, quanto de setores empresariais em contribuir para políticas de redução de emissões de gás de efeito estufa. Há mais de 25 anos o IPCC e vários outros órgãos internacionais deixam muito claro que temos que reduzir emissões o mais rápido possível e da maneira mais drástica possível. Essa questão não foi atendida até o momento e isso faz com que a urgência da redução se torne cada vez mais importante.

Por que você acredita que governos e setor empresarial não se mobilizaram o suficiente?

Eles não se mobilizaram porque evidentemente os interesses econômicos prevalecem sobre os interesses da população. Evidentemente, todos os governos e as grandes empresas sabem, há várias décadas, dos potenciais impactos das mudanças climáticas na sociedade, na economia e no meio ambiente. Os interesses econômicos das companias de petróleo falaram mais alto, no exterior. No do Brasil, os interesses econômicos do agronegócio falaram mais alto do que a necessidade de redução de emissões, que é algo quase unânime na sociedade brasileira em geral, com exceção dos pecuaristas do agronegócio. Portanto, na verdade, isso é o governo respondendo mais aos interesses de pequenos grupos econômicos do que aos interesses da população em geral.

Quais são as principais fontes de emissão de gases de efeito estufa no mundo e, especialmente, no Brasil?

No mundo, globalmente falando, as principais fontes de emissão de gás de efeito estufa são a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Hoje, essa proporção está em torno de 90% para queima de combustíveis fósseis e 10% para o desmatamento. No Brasil, as duas maiores fontes de emissões são o desmatamento na Amazônia e o setor agropecuário.

Quais efeitos das mudanças climáticas já são percebidos hoje no mundo e no Brasil?

O aumento médio da temperatura no Brasil, ao longo dos últimos 100 anos, já é de 1.5°C. Algumas regiões como, por exemplo, o Nordeste brasileiro, se aqueceram mais do que isso e outras regiões se aqueceram menos. O aquecimento no Brasil já está causando perturbações no ciclo hídrico, na chuva, onde nós vemos uma redução muito drástica da precipitação no Nordeste e na bacia do rio São Francisco. Há também um aumento da precipitação na bacia Prata e no sul do Brasil. Os eventos climáticos extremos, como chuvas muito pesadas, são cada vez mais frequentes em cidades como São Paulo, onde a quantidade de enchentes e chuvas acima de 100 milímetros por dia aumentaram significativamente. Isso representa uma série de aumento na frequência de desastres naturais, como o deslizamento de encostas, que acontece quase todo ano em Petropólis, por exemplo, e em áreas vulneráveis do Brasil.

Os efeitos das mudanças do clima já são muito bem documentados em todas as regiões brasileiras. No caso da Amazônia, também foi muito forte o efeito das secas de 2005 e 2010 no balanço de carbono da floresta. A floresta acabou emitindo uma quantidade grande de carbono para a atmosfera, como decorrência desses eventos climáticos extremos (secas de 2005 e 2010).

Quais as previsões desses efeitos para os próximos anos?

As projeções são razoavelmente sombrias, para ser honesto com você. Veja, se nós continuarmos a emitir combustíveis fósseis na faixa que estamos emitindo hoje, globalmente, que é de 40 giga toneladas de CO2 por ano, nós podemos esperar, ao longo dos próximos 30 ou 40 anos, um aumento adicional da temperatura de mais uns 3 ou 4°C. Isso iria desestabilizar a produção de alimentos no planeta como um todo, porque causaria alterações no padrão de chuva e redução na produtividade primária da maior parte das culturas. É preocupante, por temos que alimentar 10 bilhões de pessoas em 2050 e o clima pode ser muito menos favorável para a produção agrícola do que o que nós temos hoje.

Existe algum estudo que estime em termos econômicos, em valores, as perdas para a agricultura desse aumento de temperatura?

Sim, a EMBRAPA fez uma série de simulações de potenciais quebras de safra do café, algodão, milho e assim por diante e, obviamente, os prejuízos econômicos são muito significativos. Essas estimativas financeiras ainda têm grandes incertezas porque na verdade ninguém tem bola de cristal para saber como é que, ao longo dos próximos 10, 20 ou 30 anos nós teremos a evolução desse quadro. Mas apesar das incertezas, sabemos e temos certeza de uma coisa: os prejuízos econômicos e sociais vão ser muito grandes.

Se houvesse uma mobilização hoje de todo o setor produtivo para resolver o problema das mudanças climáticas, por onde ele deveria iniciar esse trabalho na área de agricultura e de florestas?

A primeira questão muito simples é eliminar o desmatamento ilegal. Em 2017, o Brasil desmatou cerca de 8 mil km² de florestas primárias. Mesmo nesse cenário catastrófico, ainda estamos destruindo florestas que são cruciais para o nosso próprio futuro. Temos uma necessidade urgente de redução de desmatamento na Amazônia. Além disso, temos que ampliar o uso de energia solar e eólica, em particular no Nordeste brasileiro. Há um potencial de geração de eletricidade muito grande que não é aproveitado adequadamente. Esperamos que o próximo governo brasileiro reverta esse quadro e que implemente medidas que tornem o desenvolvimento socioeconômico do Brasil sustentável.

Qual é o papel de práticas de agricultura de baixo carbono nesse contexto?

Desenvolver uma nova agricultura com baixas emissões de carbono é fundamental. Hoje, a agricultura responde globalmente por cerca de 30% das emissões de gases de efeito estufa, onde a maior parte dessas emissões se dá através do metano que é emitido na criação do gado. A agricultura de baixo carbono é fundamental também para garantir mercados futuros e o desenvolvimento econômico do Brasil.

Se o Brasil se dedicasse a acabar com o desmatamento ilegal e a investir em práticas de agricultura de baixo carbono e em outras fontes de energia (como a bioenergia, solar e eólica) seria suficiente para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris?

Isso depende das metas que o país colocar para si mesmo. No caso da NDC brasileira do Acordo de Paris, o país se comprometeu a reduzir em 42% as suas emissões. Entretanto, o último relatório do IPCC, tentando limitar o aumento da temperatura em 1.5°C, mostra que essa redução tem que ser 80% nos próximos 20 anos e a emissão líquida de gases de efeito estufa em 2040 tem que ser zero. São metas muito ambiciosas, mas são absolutamente necessárias se a gente quiser garantir uma mínima estabilidade no sistema climático terrestre.

O que podemos esperar da próxima Conferência do Clima (COP 24) agora que já foi publicado este novo relatório do IPCC?

Agora, ficou mais claro que é absolutamente necessário aos países do nosso planeta que precisamos começar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa o mais cedo possível, provavelmente em 2020. Isso significa que teríamos dois anos para planejar como essa redução vai ser feita e, a partir daí, começar a reduzir drasticamente, principalmente com a implantação de grandes centrais de geração de eletricidade por usinas solares e eólicas. Essa tecnologia já existe e é compatível economicamente com as tecnologias atuais. Basta vontade política para que isso seja implementado. Não precisamos de nenhum desenvolvimento tecnológico novo. A ciência já tem as ferramentas para reduzir essas emissões drasticamente. O grande problema são as decisões políticas que tem que ser feitas pelos nossos governos de maneira a garantir a sustentabilidade da economia do planeta como um todo nas próximas décadas. Existem sérias dificuldades tanto nos EUA, quanto no Brasil, quanto também em alguns países europeus, do ponto de vista de redução de emissões.

Com tantos países e setores envolvidos, como seria possível estruturar a governança de um esforço global para reduzir as emissões?

Estamos extremamente atrasados na governança porque a ONU não foi estruturada para tratar de problemas destas dimensões e não há nenhum organismo internacional com a competência e o mandato necessários para lidar com uma questão tão complexa como as mudanças climáticas globais. Isso ainda vai ter que ser construído e nós vamos ter que começar essa discussão o mais rápido possível. Quem vai punir um país que não cumpra suas metas? Quem vai coletar eventuais multas? Como será o mecanismo financeiro para adaptação dos países em desenvolvimento? São questões ainda completamente em aberto, mas urgentes que precisam de respostas urgentes.

Como você vê a posição de países como os Estados Unidos, que já anunciaram que vão sair do Acordo de Paris, e as polêmicas sobre esse tema que circularam durante as eleições brasileiras?

Os Estados Unidos são um caso diferente dos demais países porque muitos estados americanos não concordam com a política de Donald Trump e já estão implementando políticas de emissão zero de gases de efeito estufa, ao longo de 2040 e 2050, como é o caso da Califórnia e de Massachusetts.

No caso brasileiro, obviamente toda a política de redução de emissões é dada pelo governo federal. Nós vamos depender muito da sustentabilidade do próximo governo na implementação de medidas que possam reduzir as emissões brasileiras, integrar mais fortemente as metas do Acordo de Paris e reforçá-las a partir dessa próxima COP e para garantir um clima minimanente estável para o próprio Brasil. É interesse do país reduzir suas emissões de gases e garantir a sustentabilidade da economia brasileira no futuro.

Fonte: Coalizão Brasil
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