Estratégia envolve descentralização da geração de energia e estímulo a fontes renováveis através de subsídios; entenda
Berlim - Os alemães estão conduzindo uma transformação energética sem precedentes, pela qual os especialistas dizem que todos os países deverão passar em algum momento para evitar um desastre climático global. Mas, embora as discussões sobre a chamada 'Energiewende' aconteçam há anos e muitas medidas já tenham sido tomadas, ainda há um caminho cheio de obstáculos para a
Alemanha chegar lá.
O objetivo do país foi apresentado na 22ª edição da Conferência das Partes da Convenção da
ONU sobre Mudança do Clima -a COP-22- em meados de novembro deste ano em Marrakesh, no Marrocos: descarbonizar quase que totalmente a Alemanha até 2050. Foram adotadas metas de redução na emissão de CO
2 para vários setores da economia.
De acordo com o 'Klimaschutzplan', o documento oficial com as metas alemãs, o setor de energia terá que reduzir as emissões de carbono entre 61% e 62% até 2030, em relação aos níveis de 1990, enquanto o setor de construção fará um corte entre 66% e 67% no mesmo período.
A redução no setor de transporte será entre 40% e 42%, e a indústria fará um corte de 49% a 51%. Já a agricultura deverá reduzir a emissão de CO
2 entre 31% e 34%. Se isso der certo, a meta do país é diminuir entre 80% e 95% sua emissão total de carbono até 2050.
A transformação energética na Alemanha ganhou força após o acidente nuclear em Fukushima, no Japão, em março de 2011, que levou a chanceler
Angela Merkel a anunciar que o país fecharia todos os seus 17 reatores até 2022. Isso abriu espaço para novos estímulos à energia renovável.
Só que a decisão também foi alvo de críticas. As alegações dos mais céticos eram de que o fim da oferta de energia gerada pelas usinas nucleares não seria adequadamente compensado pelas plantas de energia limpa, e que isso poderia gerar uma crise.
Anos depois, mesmo com alguns percalços, o plano ambicioso tem dado certo. Em 2015, cerca de 27% da energia produzida na Alemanha veio de fontes renováveis, como solar ou eólica. É um percentual três vezes maior do que há uma década -atualmente, está em torno de 33%.
Subsídios
A principal estratégia da revolução energética alemã é descentralizar a oferta de energia no país, concedendo subsídios para que a população e as empresas produzam sua própria energia renovável e também tenham a possibilidade de alimentar o sistema como um todo.
Através da Lei das Energias Renováveis, conhecida como EEG (Erneuerbare-Energien-Gesetz, em alemão), o governo da Alemanha estabeleceu um esquema de remuneração fixa para quem instalar painéis solares fotovoltaicos ou pequenas plantas de CHP (Combined Heat and Power) -cogeração que consiste em combinar a geração de
energia elétrica com o aproveitamento da energia térmica- com potencial de até 100 kWp e puder vender a carga excedente para a rede.
Ou seja, se a pessoa instalar um sistema em casa, poderá não somente produzir sua própria energia como também vender o excedente, alimentando o sistema com a carga extra.
Em contrapartida, a EEG também estabelece uma tarifa obrigatória que é cobrada de todos os consumidores de eletricidade da Alemanha. O dinheiro é usado para o desenvolvimento das plantas geradoras de energias renováveis, além de cobrir os subsídios. As chamadas EII (Energy Intensive Industry), indústrias que fazem uso intensivo de energia, como grandes manufaturas ou empresas de mineração e siderurgia, são isentas.
'A remuneração paga pela energia extra dos pequenos produtores tem diminuído ao longo dos anos. Atualmente, tem sido mais vantajoso usar a energia produzida para consumo próprio do que vender o excedente ao sistema', explica o professor Wolfgang Irrek, responsável pelo campo de estudos de Gerenciamento de Energia e Serviços Elétricos da Universidade Ruhr West de Ciências Aplicadas, na Alemanha.
'Desde setembro de 2015, só é possível receber suporte financeiro para a eletricidade gerada em instalações novas de painéis fotovoltaicos a partir da participação em um leilão, onde o patamar da tarifa paga pela energia é estabelecido', diz. 'De 2017 em diante, leilões similares vão ser usados para as novas instalações de plantas fotovoltaicas, assim como para
plantas eólicas em solo ou mar, plantas de geração de energia a biomassa e outras instalações inovadoras', completa o professor.
Sobre isenção dada às EII para o pagamento da 'tarifa verde', os críticos do modelo alemão defendem que os mais prejudicados são os consumidores que não têm como gerar a própria energia limpa, já que eles pagam mais caro para utilizar a carga do sistema. Enquanto isso, as indústrias que mais consomem energia não colocam a mão no bolso.
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Fonte: Exame