Aprovado no fim de 2015, em vigor menos de um ano depois e ratificado por 183 países, o Acordo de Paris traçou o caminho para um mundo sustentável através de mudanças drásticas na economia global, mas sem estabelecer objetivos vinculativos.
- A meta -
O objetivo do Acordo é conter o aumento da temperatura 'muito abaixo de 2ºC' em relação à era pré-industrial e 'continuar se esforçando para limitar este aumento a 1,5ºC', embora muitos especialistas tenham dúvidas de que essa meta possa ser alcançada.
Limitar o aumento a 2ºC ou 1,5°C é um objetivo muito ambicioso, dado o nível atual de emissões de gases de efeito estufa. Os especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimam que é necessário reduzir 40% a 70% das emissões entre 2010 e 2050 para permanecer abaixo de 2°C.
O Acordo não especifica metas obrigatórias para cada país, como faz o Protocolo de Kyoto, de modo que cada nação deve determinar seus próprios objetivos de redução de emissões para 2025 ou 2030.
A busca, durante a segunda metade do século, de um equilíbrio entre a emissão e absorção de gases do efeito estufa é interpretado por alguns como o fim das energias fósseis (carvão, petróleo, gás), enquanto outros miram na captação de CO2 (técnica que ainda não está disponível) para continuar a explorar tais energias.
- O calendário -
Os planos de ação nacionais evitariam os cataclísmicos +4ºC/5°C previstos para um cenário de ausência de políticas climáticas, mas colocariam o planeta em uma trajetória ainda perigosa de +3°C.
Daí a necessidade de reforçar esses compromissos. Um amplo balanço, em uma base voluntária, está previsto para 2018.
As ONGs estão pressionando para que o maior número possível de países cumpram e revisem para cima suas ambições a partir de 2020, especialmente levando em conta que as tecnologias 'verdes' serão mais acessíveis.
No Acordo, a primeira revisão obrigatória está prevista para 2025, data considerada tarde demais para respeitar a meta de 2°C.
Os países também devem comunicar em 2020 sua estratégia de desenvolvimento de baixa quantidade de dióxido de carbono para 2050.
O Acordo de Paris prevê que os países prestem contas das ações programadas e dos seus resultados. É necessário certa flexibilidade para algumas nações, em particular as mais pobres.
Mas as regras específicas de transparência ainda devem ser determinadas. Que informações devem ser incluídas nos planos nacionais e com que grau de detalhamento? Que indicadores devem ser apresentados? Este foi um dos principais temas da conferência COP22 do Marrocos.
A transparência também se aplica à ajuda financeira, e os países desenvolvidos devem comunicar 'a cada dois anos' medidas adotadas para auxiliar os países em desenvolvimento.
- Ajuda aos mais pobres:
Em 2009, os países ricos prometeram que ofereceriam uma ajuda que aumentaria até atingir 100 bilhões de dólares em 2020, para financiar infraestruturas energéticas limpas e adaptações aos impactos negativos do aquecimento global.
O texto de Paris estabelece que os 100 bilhões de dólares são apenas um mínimo anual e que será estabelecido um novo objetivo para 2025.
Um roteiro publicado em outubro pela OCDE e cerca de 40 países estima que, sobre a base dos compromissos já anunciados, a ajuda atingiria 67 bilhões por ano em 2020. Em função dos efeitos do estímulo ao investimento privado, os financiamentos passariam de 77 a 133 bilhões de dólares em 2020.
O Acordo de Paris prevê um reequilíbrio entre as ajudas à redução de emissões, majoritárias, e à adaptação aos impactos do aquecimento global. Segundo a OCDE, atualmente apenas 16% da ajuda financeira é destinada à adaptação.
A soma de 100 bilhões de dólares pode ser comparada com os três a quatro bilhões de dólares necessários, segundo o think tank New Climate Economy, para assegurar uma transição para economias de 'baixo carbono', o que só poderá ser alcançado através de uma reorientação maciça das finanças.
Fonte:
Istoé