A Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) divulgou uma nota nesta quinta (6/11) manifestando “preocupação e indignação” com a decisão da organização da COP30 de utilizar diesel coprocessado da Petrobras nos ônibus e geradores da cúpula do clima.
O posicionamento chega dois dias após a petroleira anunciar um acordo com a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) para uso de diesel S10 com 10% de conteúdo renovável na frota de ônibus dedicada e nos geradores de energia elétrica do evento — vencendo uma disputa com o setor de biodiesel.
“O chamado ‘diesel R’ ou HBIO é produzido a partir do petróleo, com adição de fração renovável por meio de coprocessamento. Diferentemente do biodiesel, esse produto não é renovável por definição legal”, critica a frente presidida pelo deputado Alceu Moreira (MDB/RS).
A Petrobras faz um coprocessamento de óleo vegetal com petróleo nas refinarias. A biomassa entra como conteúdo renovável no “Diesel R”, marca adotada pela petroleira. Pela lei, a parcela não é válida para atendimento à mistura obrigatória, cativa dos produtores de biodiesel — direito que a Petrobras luta para assegurar.
Segundo a estatal, o diesel R é um diesel S10 que possui um teor de HVO (óleo vegetal hidrotratado, na sigla em inglês) em sua composição.
A rede de parlamentares, que conseguiu bloquear no Congresso Nacional as tentativas da Petrobras de incluir o coprocessado entre as definições de biodiesel e no mandato de renováveis para o ciclo diesel, também critica as tentativas da petroleira de vender a solução como verde.
“A estatal tem insistido em classificá-lo como tal para efeitos comerciais, podendo até ser caracterizado como um caso de ‘Greenwashing‘, o que pode afetar a imagem do Brasil como protagonista de transição energética às vésperas da principal conferência climática do planeta”, diz a nota (.pdf).
Em agosto, FPBio e produtores de biodiesel entregaram ao Enviado Especial para a Agricultura, Roberto Rodrigues, uma proposta para viabilizar o uso de 100% do combustível renovável (B100) em geradores estacionários e B25 (diesel com 25% de biodiesel) na frota de transporte coletivo durante a organização, realização e desmonte da cúpula climática.
O produto da Petrobras, no entanto, venceu a concorrência.
Na nota, a FPBio calcula que esta escolha terá um impacto nas emissões de gases de efeito estufa do evento, que pode chegar a 3 mil toneladas de CO2 pela queima de diesel fóssil.
“A COP30 vai gerar pelo menos 300 toneladas de CO₂ apenas com o uso de geradores e climatização, número que pode chegar a 3.000 toneladas caso o diesel fóssil seja priorizado. Tudo isso, enquanto desprestigia o combustível limpo, renovável, regulado e 100% nacional”, criticam.
Em nota enviada à eixos, a Petrobras afirma que a parcela renovável do coprocessado, isto é, os 10% do produto fornecido à COP30, propicia a redução de emissão de gases do efeito estufa de 60 a 85% em relação ao combustível fóssil, a depender da matéria-prima utilizada.
A estatal não detalha, no entanto, as condições do produto fornecido à cúpula do clima. [Veja a nota na íntegra ao final deste texto].
Mais do que a disputa por uma vitrine na cúpula climática global, a briga entre Petrobras e produtores de biodiesel é pelo mercado nacional de diesel.
Durante a discussão da lei do Combustível do Futuro, que aumentou a mistura de biodiesel no diesel e criou um mandato para o diesel verde (HVO), a petroleira buscou inserir seu produto entre as alternativas para descarbonizar o transporte pesado, mas foi vencida pelo lobby do agro.
Em declarações recentes, a presidente da estatal, Magda Chambriard, disse que a companhia pretende retomar, em 2026, a discussão junto ao governo e Congresso sobre uma política pública para o seu diesel patenteado no início dos anos 2000 como HBIO.
E deve, novamente, enfrentar resistências. “A escolha pela exclusão do biodiesel na COP30 não é técnica, nem ambiental, é política e mercadológica, e visa abrir caminho para a imposição de um produto que o Congresso Nacional já rejeitou como solução energética”, pontua a nota da FPBio.
O diesel renovável é o combustível sustentável que mais cresce no mundo e pode ser produzido por diversos processos diferentes. A Petrobras produz diesel com conteúdo renovável via processamento conjunto, em unidades de hidrorrefino, de frações derivadas de petróleo (parcela mineral) com matérias-primas de origem vegetal como óleo de soja ou óleo residual de milho.
O Diesel R é um diesel S10 que possui um teor de HVO (óleo vegetal hidrotratado, na sigla em inglês) em sua composição, que pode conter até 10% da parcela renovável. Atualmente a Petrobras produz e comercializa Diesel R5 (com 5% de HVO) e produziu um lote de Diesel R10 (com 10% de HVO) para a COP30. O Diesel R Petrobras propicia a redução de emissão de gases do efeito estufa de 60 a 85 % na parcela renovável, a depender da matéria-prima utilizada.
A ANP exige a mesma qualidade do diesel contendo diesel renovável em relação ao diesel comum, uma vez que a parcela renovável é quimicamente idêntica ao óleo diesel mineral, mas obtida a partir do hidrotratamento de matéria-prima renovável. Dessa forma, fica garantido que o combustível não requer qualquer alteração em veículos ou estruturas de armazenagem para que seja usado. Além disso, o diesel com conteúdo renovável é isento de contaminantes que prejudicam as emissões e o desempenho dos veículos no longo prazo.
Fonte: Eixos