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14 mar 2025

Dois terços da economia dos EUA querem honrar o acordo do clima, diz presidente da COP30

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, a 30ª conferência do clima das Nações Unidas, disse em entrevista que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris para o clima, anunciada pelo presidente Donald Trump, não compromete a possibilidade de sucesso do evento, que ocorre em novembro em Belém (PA).

— O governo americano, central, federal, se retirou do acordo de Paris, no entanto uma parcela significativa do PIB americano continua pretendendo observar o acordo de Paris — afirmou o diplomata, em entrevista coletiva na última sexta-feira, concedida remotamente, enquanto visitava os EUA. — Segundo as avaliações aqui dos encontros que eu tive aqui em Nova York, pelo menos dois terços do PIB americano entre os estados, as cidades e as empresas vai ficar em Paris do ponto de vista prático.

A declaração foi dada no mesmo dia em que Corrêa do Lago divulgou uma carta aberta onde expõe sua visão sobre o que a COP30 deve buscar atingir. O documento, que é um apelo para países fortalecerem a negociação multilateral em meio a guerras que desviam foco dos governos da negociação climática, reconhece que a conjuntura atual é desafiadora. O texto de 12 páginas adota, porém, um tom otimista e busca mostrar janelas de oportunidade para a agenda ambiental avançar.

“A mudança é inevitável — seja por escolha ou por catástrofe. Se o aquecimento global não for controlado, a mudança nos será imposta, ao desestruturar nossas sociedades, economias e famílias”, escreveu o embaixador. “Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia, mas sim pela resiliência e pela agência em direção a uma visão que nós mesmos projetamos.”

Tema sensível

A carta tem, de modo geral um tom pouco prescritivo, mas é incisiva em alertar para a urgência de avançar na negociação diante de uma crise climática que já se percebe no dia a dia. O único tema central que ficou de fora é a pressão para que a COP30 assuma um compromisso mais concreto com prazos para zerar as emissões de combustíveis fósseis no planeta.

O medo de enfrentar frontalmente a indústria do combustível fóssil e o segundo grande desafio que se arvora nas conferências do clima agora, além da saída dos EUA da mesa de negociação. O tema é, além disso, sensível para o governo brasileiro, que pretende abrir nova frente de exploração de petróleo na região da foz do rio Amazonas.

O presidente da COP30 afirmou que a agenda de descontinuação da energia fóssil deve avançar em cada país, no âmbito doméstico.

— Com relação à transição dos fósseis, essa discussão é extremamente complexa, mas você tem que lembrar que cada país vai ter uma transição diferente, inclusive um país como o Brasil vai ter transição por região, no fundo — disse Correa do Lago, na entrevista. — O que nós precisamos são grandes debates internos dessa transição, para que justa e seja a mais rápida possível.

Na carta em que expõe sua visão sobre a conferência do clima, Corrêa do Lago, deixa clara a intenção de tentar construir sua liderança em elementos que o Brasil tem como trunfo e não como fragilidade. É o caso do combate ao desmatamento da Amazônia, que conseguiu avanço positivo no governo Lula, e uma das razões pelas quais o Pará foi escolhido palco da conferência.

“As florestas podem nos fazer ganhar tempo na ação climática durante uma janela de oportunidade que se está fechando rapidamente. Se revertermos o desmatamento e recuperarmos o que foi perdido, poderemos ativar remoções maciças de gases de efeito estufa da atmosfera”, escreveu.

Pressão pela ambição

Em parceria com o secretário-geral da ONU, António Guterres, Corrêa do Lago tem atuado muito nos bastidores para que países aumentem a ambição de suas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), as promessas oficiais de cortes de emissão de CO2. A carta aponta que, na configuração atual, as NDCs levariam o mundo a um aquecimento de 2,1°C a 2,9°C, sendo que o Acordo de Paris se compromete a deixá-lo entre 1,5°C e 2,0°C.

A secretária nacional de mudanças climáticas do Brasil, Ana Toni, assumiu o cargo de CEO da COP30, e também participou da entrevista coletiva na sexta. Segundo ela, as ONGs, os cientistas, indígenas e outros grupos da sociedade civil do Brasil darão peso à pressão que os países precisam sentir durante a negociação.

— A potência do Brasil ter uma sociedade civil muito mobilizada, no bom sentido, traz essa vitalidade para outros países também — disse Toni. — A gente precisa dessa energia de sociedade civil, de mobilização e engajamento em todos os países.

Na carta, Corrêa do Lago sugere que o mercado financeiro começou a entender o recado.

“Com base em trabalhos anteriores sobre riscos físicos, transicionais e legais relacionados ao clima, o Conselho de Estabilidade Financeira — a organização internacional que monitora e recomenda políticas para o sistema financeiro global — informou em janeiro passado que os choques climáticos podem ameaçar a estabilidade financeira do mundo”, argumenta o embaixador.

Preparativos em Belém

Um assunto evitado na carta, mas levantado por jornalistas na entrevista coletiva, foi o atraso na preparação da infraestrutura em Belém para acomodar a COP com chefes de estado, autoridades e as dezenas de milhares de pessoas que tipicamente participam do evento.

— Esse é um tema que está ganhando uma dimensão um pouquinho excessiva, porque na maioria das COPs tem problemas — disse Corrêa do Lago. — Ninguém escolheu Belém porque era uma cidade brasileira que tinha muitos hotéis. O presidente da República escolheu Belém porque está na Amazônia, e isso é de um simbolismo imenso.

Segundo Corrêa do Lago, o governo brasileiro também está fazendo “imensos investimentos” e promete não só dar conta de acomodar o evento mas também de deixar um “ótimo legado” para a capital paraense.

— Vão ser encontradas soluções. Não vai ser ideal, mas vocês tem que lembrar que em qualquer cidade de COP elas não são ideais. Ou é caro, ou é longe, ou tem neve. Acontece de tudo — disse o embaixador.

Na carta, Corrêa do Lago busca tirar o foco de questões organizacionais práticas da COP30 e colocá-lo todo na negociação.

“Entramos em 2025 com a confirmação de que 2024 foi o ano mais quente já registrado globalmente e o primeiro em que a temperatura média global ultrapassou 1,5°C acima de níveis pré-industriais”, escreveu. “A COP30 será, portanto, a primeira a ocorrer indiscutivelmente no epicentro da crise climática.”

Fonte: O Globo

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