Artigo de Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8, e Adilson Martins, sócio-líder de Agronegócio da Deloitte
Historicamente reconhecido por garantir a capacidade de produção alimentar e impulsionar o superávit na balança comercial brasileira, o agronegócio se destaca também entre os motores da transição energética.
Esse setor econômico é fonte para apoiar a substituição dos combustíveis fósseis pelos renováveis, que estão em linha com as metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa.
O agronegócio potencializa o Brasil como uma das nações com maior vocação para expandir a produção de biocombustíveis. A extensão territorial continental, a predominância do clima tropical, a infraestrutura agrícola consolidada e a produção, uso e desenvolvimento tecnológico relativo ao etanol e ao biodiesel nacionais são vantagens que o Brasil deve explorar para chegar à liderança da produção de energia renovável. Para isso, é fundamental a adoção de políticas públicas como a Lei do Combustível do Futuro (Lei Federal n.º 14.993/2024), sancionada no fim de 2024.
Essa norma integra programas nacionais de incentivo ao diesel verde, o combustível sustentável para aviação (SAF) e o biometano, além do aumento gradual da mistura de etanol na gasolina e do biodiesel no diesel, com metas progressivas até 2030. ,
As medidas de diminuição da emissão de CO₂ fortalecem a economia de baixo carbono e contribuem para minimizar o principal fator que tem desencadeado as mudanças climáticas e fenômenos extremos correlatos, como grandes secas e enchentes.
Mesmo antes da sanção da nova lei, a demanda e a produção de biocombustíveis já estavam em alta. Conforme os dados mais recentes do Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o Brasil alcançou um recorde na síntese de biocombustíveis em 2023, chegando a 35,4 bilhões de litros fabricados de etanol (produzido a partir da fermentação do caldo de cana-de-açúcar), um aumento de 15,5% em relação a 2022.
O anuário também registrou a produção de 74,9 milhões de m³ de biometano em 2023 – 12,3% a mais do que no ano anterior.
No caso do biodiesel, a capacidade autorizada hoje pela ANP é de 15.081.840 metros cúbicos/ano, o que daria para atender uma mistura de mais de 21%, neste momento em que acabamos de ver o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizar um aumento para 15%.
Esse crescimento reflete a capacidade e eficiência no aproveitamento de recursos do agronegócio brasileiro, que segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2024, teve participação de R$ 27 trilhões, o equivalente a 23,2%, no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, e de 25,62% na população ocupada.
A inovação tecnológica tem sido um dos pilares desse crescimento nos biocombustíveis. As empresas do setor vêm investindo em pesquisas e desenvolvimento, bem como na implementação de soluções tecnológicas que otimizem a produção, aumentem a eficiência energética e reduzam custos.
Esses avanços demonstram o compromisso com a inovação e a sustentabilidade, em conformidade com as melhores práticas globais.
A produção e o processamento de matérias-primas como cana-de-açúcar, milho, soja e algodão criam cadeias complexas que envolvem transporte, armazenagem, comercialização e distribuição, ampliando o mercado de trabalho.
A expansão da produção de biocombustíveis não apenas diversifica a matriz energética, mas também promove o desenvolvimento regional e a atração de investimentos, gerando negócios, renda e beneficiando milhões de famílias, sem prejudicar a produção de alimentos, mas sim complementando-a.
Como vemos, o biocombustível, no cenário econômico nacional, é fator de desenvolvimento sustentável da nossa indústria, impulsiona a agricultura, agrega valor à cadeia produtiva, gera PIB, empregos e amplia a produção de alimentos mais baratos nas gôndolas dos supermercados.
O setor público deve incentivar o agronegócio e os setores industriais correlatos para alavancar ainda mais o uso de biocombustíveis e garantir que a transição energética seja economicamente viável. A introdução gradual destas soluções, por exemplo, permite que a indústria automotiva se modernize sem comprometer sua competitividade. A abordagem estratégica facilita a integração dessa energia renovável e limpa na matriz energética nacional.
O agronegócio brasileiro tem se consolidado como um dos protagonistas mais promissores da transição energética do país. Com maiores investimentos em inovação tecnológica e parcerias, esse setor econômico é essencial para os biocombustíveis e a descarbonização da economia – diminuição dos gases de efeito estufa – visando o desenvolvimento sustentável dos negócios e do planeta.
Fonte: Globo Rural