O Brasil aproveitou a missão presidencial ao Sudeste Asiático para consolidar sua posição como referência mundial em transição energética. Durante o Fórum de Negócios Indonésia-Brasil, realizado em Jacarta, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou que a Lei do Combustível do Futuro deverá destravar cerca de US$ 180 bilhões em investimentos até 2037, reforçando o papel estratégico do país no avanço dos biocombustíveis e na descarbonização do transporte.
A agenda, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluiu a assinatura de um memorando de entendimento com o governo da Indonésia, que amplia a cooperação bilateral em petróleo, gás natural, energias renováveis, redes elétricas, eficiência energética e mineração sustentável.
O ministro classificou o acordo como “a materialização de uma parceria complementar e mutuamente benéfica”, destacando que a iniciativa abre espaço para intercâmbio tecnológico e regulatório, bem como novos fluxos de investimento entre as duas maiores economias de seus respectivos hemisférios tropicais.
Durante o evento, Silveira enfatizou que o Brasil reúne condições únicas para atrair capital estrangeiro e consolidar-se como um hub global de bioenergia.
“Somos o paraíso dos biocombustíveis. Cerca de um terço da demanda de combustível para transporte no Brasil é atendida por biocombustíveis. É a maior proporção de bioenergia utilizada no setor de transporte em todo o mundo. Cerca de 25% de todo o combustível usado no Brasil vem de fontes renováveis. Precisamos aproveitar o protagonismo de nossos grupos empresariais e a experiência brasileira no etanol e biodiesel”, destacou o ministro.
A fala reforça a narrativa de que o Brasil, além de ter matriz energética limpa e diversificada, possui um ecossistema produtivo consolidado, que inclui pesquisa científica, inovação tecnológica, infraestrutura agrícola e indústria madura no setor sucroenergético.
Aprovada neste ano, a Lei do Combustível do Futuro é apontada por Silveira como o principal vetor de atração de investimentos privados para o setor. O texto cria incentivos à produção e ao uso de combustíveis de baixa emissão de carbono, como etanol de segunda geração, diesel verde, SAF (combustível sustentável de aviação), biometano e tecnologias de captura e estocagem geológica de carbono (CCS).
Segundo o ministro, o novo marco legal coloca o Brasil em posição de destaque na corrida global pela neutralidade climática. “Entre outros atributos, temos a oferecer segurança jurídica e institucional, com marcos regulatórios modernos e robustos, ambiente de negócios simplificado e favorável, mão de obra capacitada e inovação tecnológica. A Lei do Combustível do Futuro prevê cerca de 180 bilhões de dólares em investimentos até 2037, é um grande impulso à expansão das atuais indústrias do etanol e do biodiesel”.
A aposta é que o país se torne exportador de soluções energéticas, não apenas de commodities. A nova lei, somada à credibilidade institucional e à expertise técnica acumulada em meio século de experiência com biocombustíveis, desde o Programa Próalcool, lançado em 1975, cria um ambiente de negócios atrativo e estável para investidores internacionais.
A Indonésia, segunda maior produtora de biodiesel do mundo, também vê na parceria uma oportunidade de aprofundar sua política de transição energética. Em 2024, o país asiático produziu 13,9 bilhões de litros de biodiesel, aumento de 5,9% em relação ao ano anterior. O avanço é impulsionado pela mistura obrigatória de 35% de biodiesel (B35) no diesel fóssil, uma das mais ambiciosas metas globais.
O memorando assinado entre Brasil e Indonésia reforça sinergias produtivas e tecnológicas, sobretudo no desenvolvimento de rotas bioquímicas e de integração industrial. Para o governo brasileiro, a cooperação com países do Sudeste Asiático é estratégica para ampliar mercados e consolidar cadeias sustentáveis de valor.
A estratégia do governo brasileiro é utilizar os biocombustíveis como instrumento duplo de política pública: ao mesmo tempo em que reduz emissões de gases de efeito estufa, gera empregos qualificados e estimula a competitividade industrial.
A Missão Empresarial à Indonésia, que contou com representantes de empresas de energia, infraestrutura e tecnologia, reforça o posicionamento do Brasil como líder emergente da economia verde, capaz de oferecer energia limpa, previsível e competitiva em escala global.
Com a projeção de US$ 180 bilhões em novos investimentos até 2037, o país consolida um plano ambicioso de transição energética justa e sustentável, ancorado em marcos regulatórios modernos e na diplomacia climática ativa.
Fonte: Cenário Energia