Enquanto Trump abandona o Acordo de Paris, a China desponta como a maior defensora do ambiente - e é o país que mais investe em energia limpa
O céu está azul, mas a fumaça invade o carro assim que abrimos o vidro em Baoding, cidade de 10 milhões de habitantes localizada a 150 quilômetros de Pequim. Na tela do celular, a medição de poluentes na atmosfera crava 170 na escala PM 2.5, que mede as partículas mais finas e nocivas à saúde. Nesse estágio, o ar é considerado não saudável para todas as pessoas e pode colocar em risco imediato a saúde de grupos sensíveis, como crianças e doentes crônicos.
Ainda assim, está longe de ser um dia ruim para os padrões de Baoding, considerada a cidade mais
poluída da China. Máscaras de proteção, usadas até por crianças, são muito mais comuns do que na capital, Pequim. Estamos no coração da província de Hebei, que concentra sete das dez cidades mais poluídas do país mais poluído do mundo. A maior culpa não é dos carros, que dividem o trânsito com milhares de motos elétricas, mas das centenas de siderúrgicas e usinas de geração de energia elétrica a carvão instaladas na região. Em dias ruins, especialmente no inverno, quando os moradores aquecem as próprias estufas a carvão, é comum o nível de poluentes passar de 300, estágio em que qualquer pessoa pode ter problemas imediatos de saúde.
Baoding virou um retrato das mudanças chinesas e do tamanho do desafio que é livrar o país da poluição - de longe a pauta ambiental mais importante para controlar as emissões de poluentes e reverter o
aquecimento global no planeta. A China responde por 24% das emissões globais, e 85% disso é causado por gás carbônico proveniente basicamente de uma matriz energética dependente do carvão e de indústrias poluentes, como a siderúrgica. Depois de Baoding aparecer repetidas vezes no topo da lista das mais poluídas do país, limpar a cidade virou uma questão de honra para o governo central.
Nos últimos 15 anos, 170 empresas ligadas à geração de energia solar e eólica se instalaram na região. Aqui está, por exemplo, a Yingli, uma das dez maiores fabricantes de painéis solares do planeta, com unidades em dez países, incluindo uma em Campinas, no interior de São Paulo. As placas de sinalização e os prédios públicos da cidade são equipados com painéis solares. As ruas são arborizadas e organizadas.
Há uma onda inédita de investimentos, com grandes condomínios residenciais e uma nova arena de espetáculos para atender a recente leva de moradores. Os pesados investimentos em
energia limpa fizeram com que, em 2011, a cidade fosse chamada de 'a mais verde do mundo' numa reportagem do site Business Insider que considerava o balanço entre os gases emitidos, de um lado, e os créditos de carbono gerados com fontes renováveis, do outro.
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Fonte: Revista Exame