A redução da mistura de biodiesel e os ataques de várias entidades que perceberam a fragilidade do biodiesel em razão do seu preço elevado, está fazendo de 2021 um dos piores – se não o pior – ano para o setor produtivo de biodiesel. Não só pela rentabilidade da operação, mas principalmente pelo dano a imagem da indústria.
O biodiesel nunca foi uma pauta das mais relevantes para a grande mídia ou veículos de informação de outros nichos. Este ano a situação mudou. Várias pessoas que nunca tinham demonstrado interesse pelo setor, passaram a dar mais espaço para o biodiesel. Parece até que o biodiesel tinha começado a ser misturado ao diesel neste ano.
Só que esse espaço todo não veio para o bem. Gente que não sabe direito o que é biodiesel passou a repetir que o biodiesel é ruim para os motores, que faltam testes e que o aumento de mistura foi imposto para beneficiar alguns poucos.
Não quero entrar no mérito do quanto essas análises falham em capturar uma realidade bem mais complexa. Mas está claro que elas refletem uma narrativa que foi construída aos poucos e ganhou força com o preço alto do óleo de soja – e, consequentemente, do biodiesel – e com um governo que não tem nem o meio ambiente e nem a saúde dos brasileiros como prioridade.
O objetivo é mostrar que o setor produtivo se deixou inebriar pelos aumentos de mistura programados e esqueceu de cuidar do resto. Cada associação de biodiesel passou a trabalhar as próprias ideias, não havia bandeira conjunta. As ações com o governo e congressistas para explicar o setor eram feitas sem articulação entre as partes. Um exemplo claro disso é que cada associação lançou seu próprio programa de qualidade do biodiesel.
Ao longo dos últimos anos, o setor perdeu o controle da narrativa sobre o biodiesel. Deixaram que pequenos problemas ganhassem uma exposição enorme. E deixaram que a opinião de que o biodiesel é caro e ruim crescesse e silenciasse a visão de que é renovável, economicamente vantajoso para o país e ambientalmente bom para o mundo.
Hoje toma posse oficialmente como presidente do Conselho da Aprobio, Francisco Turra. Um novo interlocutor entre as associações pode servir para que o setor de biodiesel comece uma nova fase. É uma passagem que está acontecendo sem traumas. A saída de Erasmo Battistella da presidência da associação que ele ajudou a fundar e liderou pelos últimos 10 anos acontece por opção própria. Sinalizando que ele tem o interesse de passar o bastão.
As associações devem aproveitar o momento para buscarem conversar entre si com mais franqueza e coordenar melhor suas ações. Hoje cada uma das associações acredita que está fazendo mais que a outra no desenvolvimento do setor. Não dá para saber quem tem feito mais, mas esse é um caso em que a soma dos trabalhos individuais é menor do que o resultado do trabalho conjunto.
Fonte: Biodieselbr
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