No centro das atenções ao liderar a presidência anual do G20 e sediar a COP30 no ano que vem, o Brasil tem a janela de oportunidade ideal para mobilizar recursos em prol do enfrentamento à crise climática e se tornar um destino mais atraente para investimentos com essa preocupação, avaliam especialistas. É aí que entram os títulos sustentáveis — classificados como verdes (também chamados de green bonds), sociais e vinculados à sustentabilidade, que tendem a ganhar espaço.
Eles ainda representam uma pequena parcela do mercado de dívida tradicional brasileiro, diz Júlia Ambrosano, gerente de desenvolvimento de mercado para América Latina da Climate Bonds Initiative (CBI), mas seu potencial de crescimento é alto. Só o agro brasileiro pode movimentar US$ 163 bilhões até 2030 com a emissão de títulos verdes, estima a CBI.
Dados da instituição apontam que, nos últimos anos, as emissões de títulos verdes deram espaço também às emissões de sustentabilidade — quando o viés social é aliado ao verde. E eles podem ser vinculados a metas, como a redução das emissões de carbono. Um dos motivos para a alta foi o lançamento dos títulos soberanos (da dívida pública brasileira) pelo governo Lula, que levantou US$ 2 bilhões no fim do ano passado. A demanda pelos títulos superou em duas vezes a oferta. E o Tesouro acabou de anunciar que fará nova emissão, ainda sem data definida.
O mercado brasileiro de dívidas ESG dobrou entre 2022 e 2023, mas ainda há espaço para expansão. O Brasil é o terceiro no ranking de emissores de títulos sustentáveis na América Latina, com 18% do volume total da região, ficando atrás do Chile (30%) e do México (22%), segundo dados do primeiro trimestre deste ano apurados pela CBI.
Para Júlia, da CBI, a matriz energética brasileira e a riqueza de seus biomas e recursos naturais dão vantagens ao país para liderar as discussões e técnicas de Soluções Baseadas na Natureza — ou NbS, da sigla em inglês — que reúnem diferentes iniciativas, desde reflorestamento a bioeconomia.
— O Brasil tem uma alta capacidade em ativos sustentáveis, como em energia, transporte, saneamento e resíduos. Eles se destacam pela disponibilidade de ativos climaticamente alinhados e pela necessidade de recursos.
Vice-presidente da Anbima (associação que reúne entidades do mercado de capitais) e coordenador da Rede de Sustentabilidade, Carlos Takahashi explica que os títulos verdes recentemente chegaram a perder atratividade a nível global por causa da alta dos juros, o que inibiu sobretudo as emissões de longo prazo. Por outro lado, a criação de políticas regulatórias que tratam de aspectos socioambientais e climáticos tem favorecido o ambiente de negócios:
— Essa agenda ganhou relevância e está na pauta dos reguladores, como a CVM (que supervisiona o mercado de capitais), Banco Central e organismos multilaterais. Tudo isso cria um ecossistema necessário para o fomento desse mercado.
Impactos econômicos
Para Annelise Vendramini, coordenadora do Programa de Finanças Sustentáveis da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, o momento de protagonismo do Brasil com presidência do G20 e sede COP 30 representa uma oportunidade para o país alavancar os investimentos verdes.
Ela avalia que o país já está gradualmente percebendo as mudanças regulatórias da agenda de finanças sustentáveis e a importância da taxonomia verde no âmbito do setor financeiro.
— Essa será uma década que esses temas crescerão em importância, à medida que ficam mais evidentes os impactos econômicos dos eventos climáticos extremos, da perda de biodiversidade e de questões sociais não resolvidas. Haverá fortalecimento das estratégias de sustentabilidade porque, sem elas, será difícil para o negócio se manter competitivo.
Nos próximos dez anos, a expectativa é a de que os padrões verdes e de transição se tornem dominantes para fazer negócios, diz Júlia, da CBI.
— Esperamos mais emissões soberanas (no Brasil) e, com a proximidade da COP 30, o apetite de investidores internacionais pode aumentar ainda mais.
Fonte: O Globo
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