Lideranças agrícolas americanas foram até a Casa Branca pedir que as matérias-primas dos EUA sejam priorizadas na fabricação de combustíveis renováveis no país, na tentativa de elevar a demanda por milho. Neste ano, a indústria de biocombustíveis disparou a compra de insumos estrangeiros, como o sebo bovino do Brasil, demanda agora ameaçada.
Enquanto colhiam os últimos lotes do cereal, agricultores ouvidos pela Globo Rural em Illinois, no Meio-Oeste dos Estados Unidos, fechavam as contas da safra 2024/25 com margens negativas. Na bolsa de Chicago, o preço da soja caiu 23% em 12 meses até setembro. O milho baixou 15%. E, para o ano que vem, ainda não há expectativa de mudanças para as cotações.
Uma alternativa, então, seria aumentar o uso do milho para a produção de combustíveis renováveis, além da demanda que já existe principalmente para etanol, ração animal e exportação.
“Os preços estão terríveis. Se as coisas derem certo na produção em todos os lugares (incluindo o Brasil), podemos ter um enorme excedente de milho. Podemos começar a usar mais esse milho para etanol”, diz Doug Downs, produtor rural de Broadlands, na cidade de Ayers.
Ele ressalta que existem algumas divergências em relação aos créditos fiscais. O governo americano mantém uma campanha de incentivos aos biocombustíveis, com pagamento de créditos pela produção de renováveis como o diesel verde e o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).
O especialista em biocombustíveis da Argus, Conrado Mazzoni, explica que os incentivos dos EUA levaram a indústria de biocombustíveis americana a buscar mais insumos importados, como o óleo de palma, óleo de cozinha e sebo bovino, para conseguir aumentar a produção.
Mobilização na Casa Branca
O presidente do American Farm Bureau, Zippy Duvall, questionou o uso de insumos estrangeiros para biocombustíveis, em reunião com o conselheiro sênior da Presidência para Energia Limpa, John Podesta, na última semana. Participaram do encontro representantes da Associação Nacional de Produtores de Milho dos EUA e da Associação Americana de Soja.
“Esses são créditos fiscais que devem beneficiar os americanos, não as empresas estrangeiras”, afirma Duvall em nota. O presidente da American Farm Bureau acredita que existem “interesses de fora dos EUA, aproveitando os créditos às custas da América”.
O pleito do setor agrícola americano, então, é de que seja aplicada uma regulamentação no intuito de priorizar os insumos locais, em detrimento dos importados.
“Pedimos ao senhor Podesta e o governo para priorizar os agricultores americanos, estabelecendo um requisito doméstico de matéria-prima para créditos de produção de combustível limpo”, acrescenta Duvall.
No campo, o agricultor Downs, de Illinois, diz que é preciso aguardar qual será a decisão do governo sobre os créditos fiscais. “[Hoje o grão] é mais para etanol, mas poderíamos usar muito milho para combustível sustentável de aviação e isso pode aumentar a demanda por milho. Então há esperanças”.
Caso o pleito seja atendido pela Casa Branca, o Brasil e os demais países fornecedores de sebo bovino, óleo de palma e óleo de cozinha usado teriam a demanda excedente afetada.
Sebo como matéria-prima
O caso do sebo bovino foi o mais extremo na elevação de compras externas. A pegada de carbono desta matéria-prima é considerada quase zero, e os americanos vivem um momento de restrição na oferta de gado o que, como consequência, gera menor produção de gordura do animal — cenário oposto ao da América do Sul. Países como Argentina, Uruguai e Brasil aumentaram o fornecimento.
No acumulado do ano até setembro, os embarques de sebo bovino brasileiro para os EUA dispararam para 246,6 mil toneladas, alta de 137,8% em relação ao mesmo período de 2023, conforme dados do Ministério da Agricultura do Brasil. No total, o Brasil exportou 261,34 mil toneladas para o mercado externo no período.
Se mantido o cenário de normalidade nas exportações, a perspectiva do setor é otimista. “Até o momento, o fluxo de comércio está normal, e a nossa expectativa é de que continuemos exportando ao mercado americano”, afirma Decio Coutinho, presidente executivo da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA), em nota à Globo Rural.
Fonte: Globo Rural
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