Com a retomada do crescimento da mistura do biodiesel ao diesel, a articulação do segmento agora está voltada ao projeto de lei chamado “Combustível do futuro”, que tem o objetivo de descarbonizar a matriz energética do transporte por meio de biocombustíveis.
Na proposta original do governo, o biodiesel não havia sido contemplado, mas a bancada ruralista manobrou para apensar o projeto do Executivo a um texto de autoria do deputado Alceu Moreira (MDBRS), presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel.
A versão atual, que será analisada pelo Senado nesta semana, prevê que a mistura obrigatória alcance 20% em 2030, podendo chegar a 25% após 2031, a depender de análise do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
Donizete Tokarski, presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), diz que apenas a aprovação do projeto não é suficiente, que as metas precisam ser efetivamente cumpridas. “O setor precisa de segurança jurídica e previsibilidade.” O segmento tentou garantir ajustes automáticos da mistura, para reduzir a dependência em relação ao governo, mas não conseguiu emplacar a mudança.
A esses fatores políticos e econômicos se soma ainda a onda global de investimentos e exigências “verdes”, com o objetivo de reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
A agenda foi encampada pelo Palácio do Planalto, mas também pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que está de olho na construção de legados para garantir a eleição do seu sucessor no comando da Casa. Como consequência, agilizou a tramitação das propostas relacionadas ao tema.
Desafios
Um dos desafios para o aumento da produção, porém, é a diversificação de matéria-prima. “Um ponto que vai ser discutido nos próximos anos é como você vai garantir que o mercado de biodiesel tenha as matérias-primas necessárias para suprir a demanda, diante da chegada de outros biocombustíveis que também fazem uso do óleo de soja”, afirma o analista de inteligência de mercado da consultoria StoneX, Bruno Cordeiro.
Ele cita, por exemplo, a produção do HVO, também chamado de diesel verde, e do Combustível Sustentável de Aviação (SAF), cujas regulamentações estão sendo definidas no projeto de lei do Combustível do Futuro.
Além da capacidade de atender aos mandatos, há preocupações em relação a fraudes. “O que você vê de diesel sendo vendido como biodiesel é impressionante. O biodiesel é mais caro. Portanto, se eu vendo um como se fosse o outro, eu tenho um lucro maior do que quem segue as regras. Isso é concorrência desleal”, afirma o presidente do Instituto Combustível Legal (ICL), Emerson Kapaz.
Coldplay
Com o avanço da transição energética, o biodiesel tem movimentado vasta cadeia de negócios. A multinacional Cargill, maior trading mundial de commodities agrícolas, fechou a compra de três fábricas de processamento de soja e produção de biodiesel que pertenciam à Granol, além de quatro armazéns. O negócio, concluído em dezembro de 2023, envolve unidades nos Estados de Goiás, Tocantins e Rio Grande do Sul.
Na planta de Anápolis (GO), a maior das três recém-adquiridas, é possível esmagar 2 mil toneladas de soja por dia. A partir do óleo que resulta desse esmagamento, somado à matéria-prima proveniente de outra planta da empresa, podem ser produzidas até 1,3 mil toneladas diárias de biodiesel.
Teve biodiesel até nos geradores que garantiram os shows da última turnê do Coldplay no País, em 2023. Os equipamentos foram desenvolvidos pela BRG Geradores em parceria com a Volvo, e são movidos 100% a biodiesel. “Essas máquinas já estavam prontas desde a Copa de 2014 – ou seja, há dez anos. Mas agora a questão climática pesou, e a população está mais engajada no assunto. Então, a procura cresceu”, afirma a CEO da BRG, Paula Cristina Crispim.
Fonte: O Sul
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