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17 out 2023 - 18:05
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Programa transforma óleo de cozinha usado em biodiesel

Aquele óleo usado que sobrou depois da fritura precisa ter um descarte adequado, que obviamente não pode ser a pia da cozinha ou o vaso sanitário. No meio ambiente, um litro de óleo tem a capacidade de contaminar até 25 mil litros de água, segundo estimativas das empresas de saneamento. Diante deste cenário, hoje existem iniciativas corporativas em Campinas e região dedicadas à educação, conscientização, coleta e recuperação dessa matéria-prima, para que esteja pronta para ser transformada em biodiesel. É o caso do programa "Ação Renove o Meio Ambiente", da Cargill, indústria que produz, entre outros produtos alimentícios, óleo de cozinha.


A Cargill conta com duas unidades em Campinas - o Centro de Inovação, inaugurado em 2011, e o escritório Nutrição Animal. A empresa dispõe de sete pontos de entrega voluntária de óleo de cozinha usado: são quatro unidades distribuídas em supermercados e atacadistas. Desde quando o programa foi implementado na região, há 12 anos, o Ação Renove coletou 135 mil litros de óleo somente em Campinas. O número sobe para 230 mil se considerando outras cidades da região.
 
AÇÃO COMEÇA DENTRO DE CASA
A Ação Renove é o maior programa de logística reversa de óleos e gorduras do Brasil. Criado em 2010 e aplicado em 21 estados do país, já recolheu desde o começo da sua existência 11 milhões de litros de óleo de cozinha usado. A iniciativa começa nas ações de educação da Cargill, pois o primeiro desafio é conscientizar o seu consumidor. "É difícil mudar o comportamento da pessoa para armazenar o óleo usado. É mais fácil jogar na pia. Mas precisamos conscientizar", explica Márcio Barela, coordenador de sustentabilidade da empresa. Para tanto, a Cargill utiliza ações nas redes sociais, operações presenciais em supermercados com distribuição de funis para auxiliar no armazenamento em casa e, eventualmente, operações de conscientização ambiental e de ensino de reciclagem dentro de escolas, além de também oferecer compensações financeiras.


Para o consumidor do óleo de cozinha, o programa funciona da seguinte forma: a pessoa recolhe o óleo que iria jogar fora em garrafas plásticas (as de vidro não são recomendáveis pois podem quebrar durante o transporte) e depois leva o recipiente para os pontos de coleta voluntária. A Ação Renove depende de parcerias com outras empresas, por exemplo os supermercados, que aceitam em seu espaço os dispositivos de coleta voluntária, chamados de displays. "Pensamos em locais que fossem acessíveis, fáceis, e fazia sentido que o lugar onde a pessoa compra o óleo fosse o mesmo em que ela deposita o resíduo", esclarece Barela.


Em uma rede atacadista, a parceria desenvolvida com a Cargill permite a compensação financeira para o consumidor. A cada um litro de óleo usado entregue, o cliente recebe um cupom de R$ 2 para gastar em compras no local, independente do produto que quiser adquirir. Esse valor é multiplicado pela quantidade de matéria-prima coletada. Por exemplo, se forem 10 litros de óleo concedidos, a pessoa recebe um cupom de R$ 20.


"Antes do Ação Renove, nós tínhamos muitas ações voltadas para o produtor de soja voltadas à garantia de uma produção responsável. Também tínhamos iniciativas na nossa fábrica para um consumo energético menor, diminuição de embalagens, mas eu senti que não tínhamos nenhum projeto que se direcionasse para o resíduo gerado quando o consumidor utiliza o óleo para fritura. Nós somos corresponsáveis pelo resíduo que o nosso produto gera", lembra o coordenador sobre o início do programa.


A Cargill tem outros 13 pontos de coleta de óleo usado em Campinas. Estes não são de entrega voluntária, mas destinados a restaurantes e lanchonetes específicos. "Nós vendemos para eles o óleo usado nas frituras, e quero ser responsável pelo destino do resíduo gerado", completa Barela.
 
LIMPEZA PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
O próximo passo do programa acontece a partir de outra parceria, dessa vez entre a Cargill e as empresas que trabalham com o transporte e limpeza desse resíduo. Na Região Metropolitana de Campinas, uma das responsáveis por esse processo é a Duque Sustentabilidade, que tem 25 anos de experiência no mercado e está localizada em Sumaré. "Nós somos intermediários. Não dá para mandar o óleo e outras gorduras direto para o fabricante de biodiesel. Fazemos o gerenciamento desse óleo e damos o certificado de destinação final para ele, tendo todas as informações de procedência e rastreabilidade desse produto", esclarece Luis Henrique Manzolli, gerente comercial da empresa.


Dentro da Duque, a matériaprima, que são os resíduos de óleo e também gorduras de origem vegetal e animal, passa por um processo de retirada da sujeira - como restos de alimento -, resultando em um produto final limpo e com uma acidez adequada para a produção dentro de uma usina de biodiesel. A umidade, que frequentemente é encontrada no óleo de cozinha usado, também precisa ser eliminada. O procedimento, que leva em média 24 horas para ser concluído, resulta em pouca perda do material, portanto quase 100% dele se transformam em biocombustível.


"Nós tratamos esse óleo o máximo possível, com um processo de cauteraria. A gente ferve esse material e desumidifica. Depois, ele é peneirado. Existe um processo de decantação, e quando ele está zero umidade e zero impurezas, é quando está pronto para ir para a usina", detalha Luis. A empresa tem registrado até 800 mil litros de óleos recuperados e destinados para usinas de biodiesel por mês, sendo que metade é proveniente dos óleos de cozinha usados. Mas o gerente comercial argumenta que é possível aumentar muito ainda a matéria-prima proveniente deste último.


CONSCIENTIZAÇÃO É A CHAVE
Márcio explica que a matériaprima para produção de biodiesel utiliza, originalmente, óleo de soja virgem. "Ou seja, precisou plantar a soja, que poderia servir de alimento, tem todo o processo de impacto da produção agrícola, transporte, até virar um combustível. Imagina se você pegasse todo o óleo usado e pudesse usar isso para fazer biocombustível? Seria excelente. Ainda é uma parcela muito pequena do biodiesel que aproveita óleo usado na produção, cerca de 1%. Poderia ser muito mais e o potencial de crescimento é enorme", conta ele. Segundo o coordenador de sustentabilidade da Cargill, grandes restaurantes e empresas já fazem a destinação correta para o resíduo do óleo que utilizam, mas o grande desafio vem de alcançar a conscientização da pessoa física.


"É preciso pensar em economia circular. Nós vivemos num planeta que é finito, temos somente este, e os recursos e espaço que temos para viver são os mesmos. E a população cresce a cada dia e consome cada vez mais. Não dá para pensar em um modelo de produção que a gente extrai infinitamente recursos que são finitos e descarta infinitamente resíduos que não têm como a natureza absorver nessa velocidade", aponta o coordenador ao analisar a importância de programas como a Ação Renove.


Fonte: Correio Popular

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