Apesar das incertezas em relação ao cenário externo e das dúvidas no curto prazo quanto ao aumento da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel fóssil no Brasil, as perspectivas para o mercado do biocombustível melhoram expressivamente quando acrescentamos alguns anos à conta, afirmam analistas do setor. O Rabobank espera que a safra brasileira de soja alcance 165 milhões de toneladas em 2026/27, ante cerca de 150 milhões previstas para 2022/23. A soja é a principal matériaprima para produção do biodiesel, o que sugere um bom cenário.
“Eu acredito que o Brasil está muito bem posicionado e está muito competitivo. No médio prazo, em cinco anos poderemos ter um cenário positivo (para o biodiesel)”, ressalta a analista de Grãos e Oleaginosas do Rabobank Brasil, Marcela Marini.
A expansão da produção de diesel verde (HVO) é outra tendência global a ser observada a médio prazo. “O diesel renovável é a grande aposta e pode ser que a gente veja um mercado exportador mais forte no futuro”, estima o consultor de Petróleo, Gás e Renováveis da StoneX Brasil, Smyllei Curcio. O HVO é um tipo de biocombustível que utiliza óleo de cozinha usado, gordura animal, óleo de peixe e subprodutos de processos industriais em sua composição. Por usar hidrogênio no processo de produção, o diesel verde é mais “limpo” ambientalmente e tem uma vida útil mais longa que o biodiesel convencional.
Estados Unidos e Canadá já estimulam o esmagamento de soja e de canola para abastecer essa indústria e, na avaliação dos analistas, este pode ser um mercado aproveitado pelo Brasil. “Poderemos ver um estímulo para aumentarmos a nossa produção de óleo de soja, se observarmos um incentivo para o consumo desses biocombustíveis aqui no Brasil também”, avalia Marini.
O diretor-superintendente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), Julio Cesar Minelli, argumenta que o atraso atual no cronograma de mistura do biodiesel ao diesel fóssil no País gerou imprevisibilidade, o que afasta investimentos e impede a nossa inserção em mercados como este. “O HVO tem que vir, é uma revolução dos novos combustíveis, mas o investimento para a produção é cerca de 4 a 5 vezes maior do que uma usina de biodiesel. Como um empresário vai colocar o dinheiro dele se não tem a mínima segurança jurídica?”, questiona Minelli.
Para o executivo, o avanço do produto no mercado depende da retomada das perspectivas para o mandato do B15. Uma vez alcançada a mistura de 15%, a ideia das entidades do biodiesel é não parar. Segundo a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), a meta do setor é avançar para o B20 até 2028, mas o prazo poderia ser até antes para a Aprobio. “Se estivermos sentados em uma mesa (com o governo), talvez a gente possa até avançar para um B20 em regiões metropolitanas ainda em 2023”, estima Minelli.
Segundo ele, a viabilidade não seria um problema dada a ociosidade. Dados da Ubrabio mostram que as 57 indústrias de biodiesel do País possuem capacidade instalada para produzir 13 bilhões de litros por ano, mas fabricaram apenas 6 bilhões de litros no ano passado. “Se nós tivermos previsibilidade, corremos atrás. A indústria tem uma velocidade de resposta muito grande”, afirma o diretor-superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski. Segundo ele, uma vez estimulada a produção, o mercado já tem perspectiva de construção de novas indústrias em áreas de fronteira agrícola, como o oeste baiano.
Fonte: Broadcast Agro - Contato: gabriela.brumatti@estadao.com
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