Iniciativas como a criação da Aliança Global para Biocombustíveis apontam para uma tendência de expansão contínua na demanda por fontes de energia como etanol e biodiesel. Apenas os Estados Unidos, maior produtor e exportador global, disponibilizaram em 2023 um total de 16,2 milhões de toneladas de biocombustíveis ao mercado, o que representa um salto de 38,3% em relação ao ano anterior.
A forte expansão da produção americana é respaldada por políticas públicas de estímulo ao consumo interno. Desde 2022, com a implementação do Inflation Reduction Act (IRA), que dá incentivos para a produção e o consumo de biocombustíveis nos EUA, a oferta vem se fortalecendo e promovendo a diversificação da matriz energética. É um movimento similar ao da recente legislação no Brasil, como o projeto de lei “Combustível do Futuro”, que visa apoiar a produção e o consumo de etanol e biodiesel.
Apesar de positivo, o cenário não é livre de desafios. Dados da Agência Internacional de Energia apontam que a produção de biocombustíveis precisa triplicar até 2030 para atingir as metas globais de redução de emissões de carbono. Brasil e EUA precisam apoiar a abertura de novos mercados e o incentivo à inovação tecnológica, mas a competitividade internacional requer bases regulatórias sólidas e segurança jurídica, segundo Márcio Pereira e Fernanda Tanure, sócios da área de ambiente e clima do BMA Advogados.
Alinhamento estratégico
Sem uma normatização das porcentagens de mistura em combustíveis fósseis, ou instrumentos financeiros que deem estabilidade para os produtores de etanol, por exemplo, o incentivo à oferta pode não ser relevante o suficiente para que as usinas deixem de optar pelo açúcar, que é mais bem-remunerado no mercado internacional. Beatriz Pupo, diretora associada da S&P Global Commodity Insights, afirma que, por não ser uma commodity, o etanol é menos atrativo para o produtor e tem menos ferramentas financeiras, como o hedge, disponíveis.
Nesse sentido, apesar de concorrentes, Brasil e EUA estão estrategicamente alinhados para gerar demanda global para esses produtos renováveis. Analistas de mercado não acreditam que o Brasil chegue a ameaçar a liderança americana em biocombustíveis nas exportações.
— Não porque não tenhamos capacidade industrial e tecnológica, mas pela falta de um peso geopolítico para tirar mercado dos EUA — afirma Maurício Muruci, líder de inteligência da consultoria Safras e Mercado.
Combustível para aviação
Por outro lado, o Brasil pode se destacar em outros produtos de baixa emissão, como o etanol celulósico, que é produzido com resíduos agrícolas de biomassa. Por não utilizar fontes alimentícias, o etanol celulósico é um bom candidato para penetrar no altamente regulado mercado europeu.
Outro mercado promissor para os produtores de biocombustíveis é o de aviação. Ao não ter acesso a soluções elétricas como o transporte terrestre, esse setor vem buscando alternativas aos poluentes combustíveis fósseis.
Atualmente, somente o Brasil consome cerca de 115 mil barris de combustível de aviação por dia — uma adição de 10% de biocombustíveis na mistura geraria uma demanda imediata de 1,9 bilhão de litros de etanol. (V.S.)
Fonte: O Globo
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