"É claro que o Brasil tem problemas, mas precisamos aproveitar a oportunidade da COP30 para mostrar todo o potencial que temos para ser um grande líder da economia verde, contribuindo para a descarbonização do planeta", disse Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, em entrevista exclusiva à EXAME.
Na COP do ano que vem em Belém, os olhos do mundo estarão todos aqui e será um grande momento para apresentar toda agenda positiva do país, defendeu Rollemberg. Seja pelo potencial único de ser o primeiro do mundo a alcançar a neutralidade em carbono, pelas sua riqueza em florestas tropicais e enorme biodiversidade, matriz energética predominantemente renovável ou pela agricultura sustentável e moderna.
Mas ainda antes, na COP29 em Baku, no Azerbaijão, o secretário diz estar confiante que o Brasil apresente avanços significativos. Há menos de duas semanas da grande Conferência do Clima da ONU, ele espera pela conclusão da regulação do mercado de carbono, a aprovação das eólicas offshore e o regulamento do uso de bioinsumos para práticas agrícolas mais ecológicas.
"Estes três projetos são muito importantes para o país chegar mostrando que aprovou a pauta regulatória e tem toda a capacidade de atrair investimentos internacionais de empresas e países que precisam acelerar os seus processos de descarbonização", destacou.
Segundo ele, temos tudo para fazer isto em tempo hábil, visto que recentemente avançamos no Marco de Hidrogênio de Baixo Carbono e também com a Lei do Combustível do Futuro, e há uma expectativa muito grande de atrair mais recursos, especialmente em hidrogênio verde e em Combustível Sustentável de Aviação (SAFs) nos próximos anos, além de tecnologias de captura de carbono.
Enquanto o de bioinsumos está bem avançado e maduro, o das eólicas offshore parece mais complexo e o mercado de carbono segue em tramitação no Senado, explicou.
"Eu não tenho dúvida que se destravarmos estes marcos regulatórios, seremos um grande destino de investimentos internacionais -- por todas nossas características enquanto nação. Temos energia abundante, barata e verde, uma matriz industrial diversificada, segurança jurídica, um sistema democrático e nenhum conflito externo", acrescentou.
Além disso, o governo brasileiro deve apresentar sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDCs), com metas para redução de emissões até 2035 alinhadas com o Acordo de Paris.
O Plano Clima, que servirá como guia da política climática brasileira neste período, é uma construção absolutamente necessária, acredita Rollemberg, e o MDIC está responsável pela estratégia de redução das emissões e adaptação da indústria. Na mitigação, o trabalho prioritário é junto a setores como construção, aço, cimento, química, alumínio, papel e celulose e vidros. Após a definição das NDCs, serão discutidas as metas setoriais.
Outro tema que ele considera muito importante para países tropicais como o Brasil, é a implementação de um instrumento global vinculante de pagamento pelos serviços ecossistêmicos da floresta em pé. A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem reforçado a relevância da pauta, diz Rollemberg. Para ele, o mercado de carbono é importante e a criação desse fundo internacional de preservação das florestas é crucial para que ela se mantenha preservada.
"Se a floresta queimada ou derrubada traz um prejuízo global, ela preservada, é um benefício. E não é só pelo estoque de carbono, mas por todos os serviços que presta para o ecossistema -- de proteção da biodiversidade e da água, controle de chuvas e regulação do clima", destacou.
Potencial brasileiro
Em um Brasil em que a maior parte das emissões vem do uso da terra, o secretário destaca que eliminar o desmatamento ilegal e fazer um grande programa de reflorestamento e de restauração florestal pode transformar um setor que hoje é o que mais emite, em um que mais remove carbono.
"Temos cases fantásticos e olhando para outros países, até do Norte Global, nosso problema para resolver é outro. Eles ainda estão falando de energia, enquanto nós lideramos a transição energética. Eu acredito que o 'pulo do gato' está na agricultura", disse.
Além da oportunidade de descarbonização de setores de difícil abatimento e intensivos em energia como o aço, cimento e fertilizantes, Rollemberg destaca o aumento exponencial de uso da inteligência artificial e o Brasil como provedor da energia limpa utilizada em data centers. "Estima-se que no futuro, 20% da energia do mundo será para IA e já há uma procura muito grande por países que têm disponibilidade de fontes renováveis. Aí entra também a importância das eólicas offshore", reiterou.
Entre os maiores desafios da COP no Brasil, Rollemberg acredita que é preciso mudar alguns preconceitos relacionados ao agronegócio, que tem avançado e evoluído de forma mais sustentável do que em qualquer outro país. Ele cita a evolução das práticas de integração lavoura, pecuária e florestas com novas tecnologias de plantio direto, com a utilização intensiva de biocompostos e biocombustíveis.
"Não é a imagem que a população tem, muito em função de setores minoritários que ainda insistem no desmatamento -- ou daqueles que acabam opondo a agricultura a uma pauta ambiental. Isto só traz prejuízos. Precisamos mostrar uma agricultura que é extremamente moderna e que tem condições de se transformar em um grande setor de remoção de carbono através de biocombustíveis", reiterou.
Há também uma janela de oportunidade para mostrarmos que podemos dobrar a produção de biocombustíveis e Combustível de Aviação Sustentável (SAFs) e mudar a ideia da União Europeia em relação ao uso deste biogás sustentável, mostrando que eles não concorrem com a produção de alimentos -- e que com 5% das áreas de pastagens degradadas, é possível dobrar a produção, segundo Rollemberg.
Outro desafio também seria a infraestrutura em Belém, que "preocupa bastante" o secretário, embora o governo esteja investindo bastante lá.
Agendas prioritárias na COP
Nesta COP29 e nas futuras, o secretário diz que o mundo deve focar em três grandes pautas: o esforço de países e os compromissos que vão assumir para a redução e remoção de emissões e o papel central da transição energética, a agenda da adaptação em um cenário de cada vez mais eventos climáticos extremos e o financiamento climático -- para que seja possível atingir os objetivos.
"A adaptação será muito importante para o Brasil, pois percebemos dois extremos climáticos e geográficos: chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul e uma seca histórica na Amazônia. Ambos com consequências muito graves para a qualidade de vida", concluiu.
Fonte: Exame
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