Comércio internacional de créditos de carbono movimentou US$ 53 bilhões em 2020
As empresas brasileiras aceleram a corrida por projetos e tecnologias de sequestro da emissão de CO2 com um olho focado na competitividade dos negócios e o outro mirando o mercado de carbono. Cada tonelada de CO2 não emitida gera um crédito que pode ser negociado para que as empresas que emitem mais possam compensar os impactos de suas operações.
No ano passado, o comércio internacional de créditos de carbono movimentou US$ 53 bilhões e compensou mais de 20% das emissões globais, de acordo com o Banco Mundial (Bird). Mais de 850 empresas já implantaram modelos de precificação. O Brasil não tem um mercado interno de carbono por falta de regulamentação.
As empresas, porém, já se movimentam pelo menos para cumprir as metas de responsabilidade ambiental. A Petrobras prevê US$ 1 bilhão de investimento em compromissos ambientais entre 2021 a 2025. São mais de 400 projetos em carteira e estudos com foco em menor consumo de energia, uso de energia mais limpa, redução de perdas e sequestro de carbono.
É o que acontece nas plataformas de produção de petróleo, que usam tecnologia pioneira no mundo de reinjeção nos reservatórios do CO2 que vem junto do óleo e gás na extração. São soluções que permitem à petroleira estimar uma redução de 25% nas emissões até 2030 na comparação com 2015. “A Petrobras é uma das operadoras mais eficientes, com menor emissão por carbono por cada barril de óleo que produz”, diz Viviane Coelho, gerente-executiva de mudança climática da estatal.
Já a Natura revela que é carbono neutro desde 2007. No ano passado evitou a emissão de 162 mil toneladas de gases de efeito-estufa. Até 2026 ainda espera reduzir mais 13%.
O desafio agora aponta para a bioeconomia - um modelo que valoriza a preservação da floresta e gera renda e serviços ambientais. Um programa com comunidades de reflorestamento no Acre, Amazonas e Rondônia evitou a emissão de 73 mil toneladas de CO2 com taxa de desmatamento de 0,52% em comparação a 2,4% do entorno. “O que não é possível evitar é compensado por meio da compra de créditos de carbono em projetos com impacto socioambiental”, diz Denise Hills, diretora global de sustentabilidade da Natura.
A ISA CTEEP, controlada pelo grupo colombiano ISA, que só no Brasil gere um sistema em que trafegam 33% da energia elétrica do país, está atrás da descarbonização. Uma das apostas é o Programa Conexão Jaguar desenvolvido em 76 mil hectares da Serra do Amolar, no Pantanal, parte no Mato Grosso, parte no Mato Grosso do Sul.
O foco é duplo: reduzir emissões e preservar a onça-pintada. A previsão de sequestro de carbono chega a 6 milhões de toneladas de CO2 até 2030. Oito espécies animais ameaçadas foram identificadas na área. Há impacto de sustentabilidade também para 322 famílias. “Empresas de alto valor têm a capacidade de irradiar práticas e conceitos para mudar o patamar de sustentabilidade da economia”, diz Rui Chammas, diretor-presidente da ISA CTEEP.
Há boas novas também para o agronegócio. Um estudo de avaliação econômica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) comprovou a competitividade do sistema de produção integrada, que combina agricultura, pecuária e floresta, em comparação com o sistema tradicional, em que há apenas criação de gado ou lavoura.
A pesquisa em fazendas do MT mediu a produtividade e o uso de adubos, defensivos, equipamentos, combustíveis e mão de obra. A produção por hectare não foi diferente de um sistema para o outro, mas o modelo integrado apresentou redução de insumos. “Só o integrado sequestra carbono em relação à energia produzida”, diz Júlio César dos Reis, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril.
“O Brasil pode reduzir as emissões em até 42% já em 2025”, diz Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds). A entidade estima que uma economia de baixo carbono, com proteção dos biomas, poderia revigorar a imagem do país como destino de investimentos verdes e movimentar $ 17 bilhões até 2030.
Fonte: Valor
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