O diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Marlon Arraes Jardim, disse nesta terça-feira (18/04), em audiência pública na Comissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados, que a mistura de 15% de biodiesel ao óleo diesel (chamada B15) foi aprovada em agosto de 2019 por não se constatar problemas a motores e equipamentos a diesel, conforme vários estudos e ensaios técnico-científicos que validaram a mistura.
Ele ressaltou que pelo fato de a dependência do Brasil por diesel externo ter se elevado substancialmente, de 7% a cerca de 30%, desde 2004, produzir e usar mais biodiesel nacional proporciona segurança energética, ou seja, garantia de abastecimento e redução dos gastos com importação de diesel fóssil, além de contribuir para a descarbonização.
“Da demanda energética do país, o setor de transportes corresponde a 30% do total e dos 30%, cerca de 40% é diesel. Então, é um desafio bastante grande contar com o abastecimento nacional. E aí entra o biodiesel, entra o biocombustível, que desloca justamente a importação, ou seja, reduz a importação de diesel e contribui para a segurança energética, com a oferta interna de um produto nacional, e também ajuda nessa descarbonização”, afirmou aos parlamentares.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) estabeleceu que o B15 terá validade a partir de 2026. Desde 1º de abril, a mistura é de 12% (B12). A partir de 2024 será B13 e B14 a partir de 2025. Marlon Jardim representou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira de Oliveira.
A audiência foi solicitada e conduzida pelo deputado Zé Trovão (PL-SC). Foram convidados a se manifestar, além do MME e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) – pelo lado do governo –, apenas entidades empresariais dos setores de transporte, automotivos e de distribuição de combustíveis, que se manifestaram seguidamente contrários à expansão do biodiesel. Nenhum representante do setor de biodiesel foi convidado a falar aos parlamentares.
Diretor do MME defende qualidade técnica do biodiesel e adoção de boas práticas no manuseio dos combustíveis
Sobre queixas de eventuais problemas em motores a diesel, atribuídas por essas entidades críticas à presença de biodiesel na mistura ao diesel, o representante do ministro foi enfático:
– Do ponto de vista dos testes, o B15 foi aprovado. Se você tem acesso a um combustível especificado, de boa qualidade, na ponta, e você abastece com este combustível, e você segue o plano de manutenção preconizada pelo fabricante, não é para ter problema algum e você não vai ter problema algum! Muitas intervenções que acontecem nos veículos geram o que se chama de ‘mau uso’ e aí tem efeito cascata, onde muitos componentes se comprometem a partir disso.
São situações, disse, que podem surgir em partes do motor e que geram degradação de lubrificantes, de componentes, entre outros. Ou seja, não se pode responsabilizar o biodiesel simplesmente.
Marlon Jardim ainda afirmou que “é muito pouco provável, eu diria quase que improvável, que, quem abastece com combustível de qualidade e segue o plano de manutenção do fabricante, sem fazer qualquer alteração no produto, a chance de ter um problema é próxima a zero”.
ANP assegura B15
O diretor Fernando Moura, da ANP, agência que regula e controla a qualidade dos combustíveis, citou resultados positivos das fiscalizações que comprovam a qualidade do diesel B, que hoje recebe 12% de biodiesel. Segundo ele, “a ANP se coloca de maneira objetiva no sentido de não haver óbice na mistura até o B15”. Ele citou ofício encaminhado pela agência ao MME, que reforça essa posição.
Anfavea: biodiesel é positivo para aplicação de biocombustíveis ao diesel
O diretor técnico da Anfavea (entidade do setor automotivo), Henry Joseph Júnior, fez em sua apresentação uma observação sobre o biodiesel: “A exemplo de vários países, a utilização de biodiesel é um excelente meio de estender a aplicação de biocombustíveis aos veículos Diesel, permitindo que esta enorme frota também possa reduzir suas emissões de Gases do Efeito Estufa”, diz o texto da apresentação exibida no telão da comissão na Câmara.
MME aponta cenário favorável à expansão do biodiesel
Marlon Jardim, do MME, também resumiu o ambiente favorável no Brasil para a expansão do biodiesel. Segundo ele:
A evolução tecnológica dos motores diesel atende às necessidades de redução das emissões de poluentes;
Os motores diesel no Brasil estão aptos a utilizar o B15;
Diesel e Biodiesel são combustíveis sensíveis que exigem boas práticas de manuseio no abastecimento;
Nova especificação do biodiesel contribui para a segurança do uso de diesel no país;
Biodiesel ajuda a reduzir a dependência externa de diesel;
Impacto do B12 na bomba é menos de 2 centavos por litro;
Biodiesel contribui para a descarbonização do setor de transportes no país.
O eventual aumento de preço do combustível na bomba, de menos de 2 centavos por litro em função do B12, “que é absolutamente marginal”, disse Jardim, “é muito mais do que compensado pela redução da pegada de carbono e da intensidade de carbono que é emitida”, graças à adição de biodiesel ao óleo diesel fóssil.
Fonte: Profissionais do texto
Biocombustíveis: a melhor solução de curto prazo para uma transição energética eficiente
FPBio vai ao Palácio do Planalto confirmar apoio ao projeto de lei 'Combustível do Futuro'
Indústrias de biodiesel se articulam para reverter importação e garantir aumento da mistura em 2024