O planeta deve descumprir em seis anos, já em 2030, a meta de aquecimento global estabelecida para 2100 no Acordo de Paris. A previsão, de um estudo publicado hoje pela revista científica Nature, leva em conta o atual ritmo de aumento na temperatura global.
O que aconteceu
O principal objetivo do tratado é impedir que o aumento na temperatura média da Terra chegue a 2°C até 2.100, em relação ao período pré-industrial. Esse patamar, no entanto já será ultrapassado em 2030, segundo o estudo.
A previsão considera a manutenção do atual ritmo de aquecimento da Terra.
Primeira meta do Acordo de Paris já foi descumprida. Para atingir o objetivo principal até 2100, o Acordo de Paris também estabelece submetas, com prazos mais curtos.
Planeta está 1,7ºC mais quente. Para impedir o aumento de 2ºC até o final do século, todos os países do mundo (exceto Irã, Líbia, Iêmen e Eritreia) se comprometeram a evitar que, nas próximas décadas, a alta na temperatura global chegasse a 1,5°C. O planeta, porém, já estaria 1,7ºC mais quente.
Temperatura subiu desde o Acordo de Paris. O aumento médio era menor, de 1,2°C, quando o tratado foi assinado, em 2015, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), da ONU.
"A temperatura média da Terra estava 1,7°C acima dos níveis pré-industriais em 2018-2022.", - Trecho do estudo.
Como a pesquisa foi feita
Os cientistas usaram amostras de um tipo de esponja marinha. De corpo externo macio e esqueleto de calcário, as esclerosponjas são conhecidas por registrar a temperatura do oceano superior (que interage com a atmosfera) e as condições do clima. Os pesquisadores analisaram as temperaturas dos últimos 300 anos registradas por esponjas coletadas no leste do Caribe, "onde a variabilidade das temperaturas é menor do que em outros locais".
Com tais registros, os autores afirmam que o aquecimento do planeta causado por atividade humana começou na década de 1860. "Com uma clara emergência em meados da década de 1870", escrevem os pesquisadores de universidades nos Estados Unidos, Austrália e Porto Rico. "Cerca de 80 anos antes da indicação anterior."
Os autores dizem que "a oportunidade de limitar o aquecimento da Terra abaixo de 1,5°C pode ter passado".
"O objetivo de manter o aquecimento abaixo de 2°C deve ser ultrapassado até ao final da década.", - Trecho do novo estudo.
A análise da temperatura histórica por meio das esponjas resolve um problema do século 19. A medição da temperatura na superfície oceânica só começou com o uso de navios por volta de 1850, mas tinha "frequentes inconsistências", analisou em outro artigo da Nature o pesquisador Wenfeng Deng, do laboratório de geoquímica do Instituto de Guangzhou, na China.
"[O uso das esclerosponjas] é imperativo para compreender a verdadeira magnitude do aquecimento dos oceanos desde a era pré-industrial.", - Wenfeng Deng.
Catástrofes serão mais frequentes
As avaliações do IPCC consideram diversos dados de temperatura, e por isso, são mais conservadoras. O novo estudo, no entanto, "com certeza será incluído na próxima avaliação do IPCC", diz Claudio Angelo, coordenador de Incidência Climática do Observatório do Clima. Ele menciona pesquisa de janeiro da Organização Meteorológica Mundial que "já havia colocado na margem de erro a possibilidade de termos ultrapassado 1,5°C no ano passado".
"A conclusão permanece: a humanidade entrou num território climático novo, jamais visto pela nossa espécie em 250 mil anos de existência, e a culpa é inteiramente das atividades humanas ao longo dos últimos 150 ou 200 anos.", - Claudio Angelo.
Os relatórios do IPCC já diziam que as catástrofes aumentariam se o mundo rompesse a marca de 1,5ºC. Para evitar, aconselhava zerar as emissões de gases poluentes até 2030, o que não deve acontecer. "Os extremos climáticos serão a regra daqui para a frente", diz Angelo.
Diversas mudanças já são irreversíveis atualmente. "O degelo da Groenlândia já começa com um aumento de 1ºC na temperatura média. O colapso do oeste antártico já começou também e é irreversível —ele acontecerá mesmo se nós pararmos hoje de emitir gases poluentes", afirma o especialista.
"A questão é que, quanto mais próximos de 1,5ºC estivermos, menos impactos irreversíveis nós contratamos.", - Claudio Angelo.
Fonte: UOL
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