Numa das regiões menos afetadas das chuvas no Rio Grande do Sul, Passo Fundo, o empresário Erasmo Battistella vê com preocupação e atenção o que acontece na região metropolitana de Porto Alegre e em outros locais importantes do Estado. Ao mesmo tempo, puxa a dianteira de um movimento para que as lideranças empresariais comecem a pensar no futuro gaúcho o quanto antes.
“É a função da liderança empresarial iniciar um novo tempo, um novo Rio Grande, pensando como nós vamos nos relacionar com as mudanças climáticas e como que nós vamos, a partir desse grande baque que o Estado sofreu, reconstruir sobre novos horizontes”.
Nesse novo horizonte, há foco em sustentabilidade. E Battistella também está preparado para isso. Ele é fundador e presidente da Be8, a maior produtora de biodiesel do país. Com um faturamento de 7,2 bilhões de reais no ano passado, a empresa está passando por um processo de expansão que inclui a exportação de biodiesel para os Estados Unidos. A empresa também planeja diversificar aindamais seu portfólio de combustíveis sustentáveis com a construção de uma nova usina de etanol em Passo Fundo.
Primeiro, está tudo bem com você em Passo Fundo?
Sim, a nossa região foi menos afetada. Tivemos muita chuva intensa, mas nada comparado ao que aconteceu nos Vales e na Região Metropolitana. Estamos numa região, se é possível dizer, um pouco privilegiada em comparação. Mas essa é a maior tragédia ambiental que vivemos no Rio Grande do Sul e uma das maiores do
Brasil. E eu acredito que é o momento sim de a gente começar a falar sobre o futuro, sobre a reconstrução. Eu sou um homem da agricultura, vim da roça. E uma das coisas mais importantes para a agricultura é a chuva. Mas ela precisa de equilíbrio, porque da forma como foi, o que é mais importante para a agricultura se tornou o maior pesadelo para o nosso Estado. Então o equilíbrio é fundamental. E também o tempo. Hoje é um dia de chuva, mas amanhã ou depois será o dia do sol.
Os momentos passam. Estamos ainda vivendo um momento de muita consternação, de muita ajuda, de muito voluntariado, de muito esforço para salvar e manter vidas, mas é a função da liderança empresarial iniciar um novo tempo, um novo Rio Grande, pensando como nós vamos nos relacionar com as mudanças climáticas e como que nós vamos, a partir desse grande baque que o Estado sofreu, reconstruir sobre novos horizontes.
Como podemos fazer isso?
Primeiro, precisamos afirmar nosso compromisso de continuar investindo no Rio Grande do Sul. Que estamos aqui para valer. Como diz o hino, que sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra. A Be8, por exemplo, vai iniciar um grande projeto de etanol ainda este ano. E isso mostra esperança. Eu acho que esse é o primeiro pontapé que a liderança empresarial deve e certamente está fazendo. Ao mesmo tempo, elas precisam ter segurança. Essa é a segunda crença que tenho sobre o futuro do Estado. As mudanças climáticas vão gerar episódios migratórios. Não estou falando de sair do Rio Grande do Sul e morar na China, mas talvez mudar de rua, de bairro ou de cidade. Acho que termos o primeiro episódio causado por danos e efeitos ambientais. E acho que as indústrias vão precisar ser reconstruídas em outros lugares, dentro de suas regiões ou do Estado. Em Passo Fundo, lançamos o programa Novos Horizontes 360 para acolher famílias e mão de obra de regiões afetadas. Haverá uma reorganização demográfica no estado para que eventos climáticos futuros causem menos danos. As pessoas precisam estar em lugares mais protegidos e as indústrias precisam estar em lugares onde possam estar mais protegidas de efeitos como esse que nós vivemos.
Que economia será essa no Rio Grande do Sul? Vamos precisar de novas vocações econômicas?
O Rio Grande do Sul continuará sendo um celeiro produtor de alimentos. Está na história do nosso estado. Vem o momento de semear e o de colher. Talvez nunca vimos uma perda com tanta intensidade, mas olhando a história da produção agrícola do estado, já tivemos estiagem, inundações. Temos que continuar com a vocação agrícola, mas com mais tecnologia. Precisamos de mais investimentos para melhorar a fertilidade do solo e a irrigação.
E as indústrias?
Também precisamos industrializar mais o estado com uma visão comprometida com o meio ambiente. Industrialização verde. A indústria é a que mantém mão de obra, é a que gera PIB. Nós precisamos industrializar o Rio Grande do Sul ainda mais, mas comprometidos com a redução de gás de efeito estufa. E também precisamos de um projeto de recuperação e melhoria da infraestrutura. As nossas estradas, as nossas ferrovias, já eram uma vergonha antes da enchente. E agora nós temos que recuperar num outro patamar, melhor, com duplicação, aumento de ferrovia, melhoria do porto, para que o estado tenha um custo logístico menor e possa exportar com mais competitividade.
O Estado também aposta muito em inovação.
O Rio Grande do Sul tem se tornado um dos estados mais inovadores do Brasil. Nós temos a South Summit, nós temos em Passo Fundo a Aliança, nós temos o Instituto Caldeira, em Porto Alegre, nós temos vários institutos de inovação trabalhando e cooperando. Então, acredito que o Rio Grande do Sul deve investir muito em inovação, para que a gente seja disparado, o estado mais inovador.
Fonte: Exame
“Brasil se torna a grande potência verde do mundo com Combustível do Futuro”, afirma Alexandre Silveira
Agro sustentável impulsiona liderança brasileira na transição energética, destaca Fávaro