O mundo empresarial passou a ter, nos últimos anos, um olhar mais atento às políticas de ESG --sigla em inglês para ambiental, social e governança. As inovações rumo a uma economia de baixo carbono chegaram ao setor da aviação.
A indústria é, segundo o World Wildlife Fund (WWF), uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), as emissões de dióxido de carbono pelo transporte aéreo aumentaram nas últimas décadas e foram responsáveis por cerca de 2,8% das emissões globais de CO2.
As mudanças mais notáveis em relação à sustentabilidade na aviação começaram no ano passado, em setembro, quando um avião com célula de combustível de hidrogênio, capaz transportar passageiros, fez um voo inaugural na Inglaterra.
Outra novidade, divulgada pela Airbus no mesmo mês, foram os três aviões movidos a hidrogênio que podem estar disponíveis em 2035.
A última notícia vem da United Airlines. A empresa anunciou a compra de 15 aviões ultrarrápidos, produzidos pela startup Boom Supersonic. A aeronave ainda não foi construída, mas está projetada para funcionar com combustível 100% sustentável.
A maior prioridade da aviação, segundo Iain Gray, diretor de aeroespaço da Universidade Cranfield, do Reino Unido, é desenvolver soluções que reduzam a emissão de carbono.
“O impulsionador da tecnologia gira em torno do sistema de propulsão, mas isso não tira a importância das novas tecnologias sobre materiais mais leves, materiais compostos de carbono aprimorados e os próprios sistemas”, afirmou ele em, entrevista à CNBC.
A propulsão elétrica também esteve em pauta nas discussões recentes, com o investimento de empresas como Volocopter e Lilium nos carros voadores (eVTOL), por exemplo.
Contudo, tecnologias como essas e as células de combustível de hidrogênio são específicas e não podem ser aplicadas a todos os tipos de viagens.
“As células de combustível de hidrogênio estão voltadas para aeronaves menores, que têm alcance inferior a 1.000 quilômetros”, explicou Gray. “Precisamos nos concentrar nos voos de longo alcance”, completou.
O foco nas viagens longas é uma das prioridades da indústria para os próximos anos. De acordo com a gerente de aviação da empresa Transport & Environment (T&E), Jo Dardenne, a maior parte das emissões de carbono está relacionada aos voos longos.
“Esses voos de longa distância só podem ser descarbonizados com a substituição do querosene”, disse.
A pergunta é: como ter um combustível sustentável na aviação? Para a Airbus, ele deve ser feito de matéria-prima renovável e não mais compostos por óleo de cozinha usado e gordura animal, por exemplo.
Contudo, Gray afirmou que a tarefa é mais difícil do que parece. “Para produzir combustível sustentável na aviação, é preciso transportar matérias-primas pelo mundo. Então, isso é realmente sustentável?”, indagou.
“O grande esforço do momento é analisar como produzir combustíveis sustentáveis para aviação de maneira ecológica”, disse ele.
Uma alternativa de combustível interessante neste contexto é o querosene sintético, produzido pela combinação de dióxido de carbono e hidrogênio, conforme material divulgado pela T&E em fevereiro.
“É um combustível neutro em carbono, algo que pode ser descartado facilmente. O único problema é que é muito caro”, afirmou Jo Dardenne.
Os planos para um futuro mais sustentável na aviação devem incluir, segundo ela, a redução dos custos do querosene sintético e a criação de regras e regulamentações com foco em melhorar as condições ambientais nas viagens aéreas.
Para Jo Dardenne, se as emissões de poluentes forem devidamente taxadas e surgirem normas que determinem a obrigatoriedade do uso de tecnologias limpas, será possível enviar um “sinal” aos investidores, de modo a garantir o incentivo nelas. “Isso vai trazer valor financeiro e ambiental”, afirmou.
Fonte: Época Negócios
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