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20 ago 2020 - 10:43
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Indústria tem margens de lucro melhores com soja, farelo e óleo

A demanda firme por soja brasileira, tanto por parte da China quanto da indústria nacional de aves e suínos, também influenciada pelo apetite dos asiáticos, continua a levar os preços do grão a renovar máximas. Com mais de 95% do volume recorde de 125 milhões de toneladas colhidas na safra 2019/20 já negociado, o carro-chefe do agronegócio no país não tem gerado bons resultados apenas para agricultores e tradings. Com farelo e óleo também valorizados, as margens de processamento estão igualmente em alta e, ao que tudo indica, o cenário deverá impulsionar novos avanços da cadeia produtiva na safra 2020/21, cujo plantio começará em setembro.


Nesta semana, o indicador Esalq/BM&FBovespa para a saca de 60 quilos negociada no porto de Paranaguá (PR) superou pela primeira vez a marca de R$ 130. Em agosto, a valorização supera 10%, e nos últimos 12 meses se aproxima de 55%. Em termos reais, trata-se do maior patamar desde 2012.


Mas não é só o grão que está em rota ascendente. Para as empresas processadoras, farelo e óleo também estão atraentes. “Não se pode esperar preços recordes para a soja se os derivados não estiverem rentáveis”, afirmou Lucílio Alves, responsável pela área de grãos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) ao Valor.


Mesmo com a progressiva valorização da soja em grão, alavancada pelo câmbio, a margem de lucro das indústrias, considerando os preços FOB da matéria-prima, do farelo e do óleo de soja em Paranaguá, cresceu 5% apenas entre 30 de julho e 6 de agosto. Chegou a US$ 27,27 por tonelada nos negócios para entrega em setembro, segundo o Cepea, enquanto no mesmo período do ano passado ficou em US$ 11,42 por tonelada.


“Estamos em um ano atípico, em que muitos fatores convergem para a valorização da oleaginosa, notadamente a forte demanda chinesa por grão e farelo e a valorização do dólar ante ao real”, afirma Daniel Amaral, economista-chefe da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), que representa grandes grupos como ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco Louis Dreyfus Company, entre outros.


No primeiro semestre, foram processadas no país 23,38 milhões de toneladas de soja, 6,6% mais que no mesmo período de 2019. A Abiove estima que o volume chegará a 44,6 milhões de toneladas em 2020 como um todo, 1,2 milhão a mais que no ano passado. “Mesmo com a pandemia e com o dólar estimulando as exportações, as indústrias que se planejaram não estão com falta de produto”, afirma Amaral.


Para Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Consultoria, a forte demanda por farelo de soja brasileiro no mercado internacional, ampliada após a elevação das tarifas de exportação na Argentina, também pesa a favor das indústrias. De janeiro a julho, o Brasil exportou 10,3 milhões de toneladas de farelo de soja, incremento de 5,6% em comparação com os sete primeiros meses de 2019. Em agosto, os embarques devem somar 1,8 milhão de toneladas, de acordo com a Associação Nacionais dos Exportadores de Cereais (Anec).


“Como o ritmo de exportações de farelo foi muito maior que o habitual, as indústrias estão tendo que correr atrás do grão que ainda está disponível no mercado para recompor estoques”, disse Luiz Fernando Roque, analista da Safras & Mercado. E esse movimento, claro, também colabora para manter os preços da matéria-prima em patamar recorde, tendo em vista que a corrida para ampliar os embarques da matéria-prima continua a todo o vapor.


De janeiro a julho, as exportações da oleaginosa somaram 69,8 milhões de toneladas, aumento de 36% ante igual intervalo de 2019, segundo a Anec. Caso as 6,58 milhões de toneladas previstas para agosto sejam de fato embarcadas, o total chegará a 76,4 milhões de toneladas, 20 milhões a mais que nos oito primeiros meses do ano passado.


Para complementar o abastecimento interno sem prejudicar muito os estoques, as importações do grão do Brasil, que lidera a produção e as exportações mundiais, também deverão bater recorde. O volume poderá chegar a 1 milhão de toneladas neste ano, projetam a Safras & Mercado e a consultoria StoneX. Até agora, o maior volume comprado no exterior, principalmente em vizinhos da América do Sul, foi em 2014 (500 mil toneladas). Até julho, foram 400 mil toneladas. “Todo ano importamos um pouco, mas esse patamar é inédito”, afirma Roque.


No caso do óleo de soja, quem puxa a demanda é a produção de biodiesel para o mercado doméstico. Apesar das turbulências nesse mercado nos últimos dias, com o impasse provocado pela redução da mistura obrigatória do biocombustível no diesel fóssil de 12% para 10%, a medida sinaliza que há destino garantido para a produção.


Marcela Caetano - Valor Econômico

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