O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou ontem que o governo federal estuda elevar a mistura obrigatória do biodiesel adicionado ao diesel para até 20% após a aprovação do Projeto de Lei “Combustível do Futuro” (PL 4516/23).
Enviado em setembro pelo executivo ao Congresso, o projeto de lei cria um novo marco regulatório para o setor de biocombustíveis no país e abre a perspectiva de geração de R$ 250 bilhões em investimentos.
Na prática, o projeto integra os compromissos de descarbonização dos programas RenovaBio, que visa ao aumento da produção nacional de biocombustíveis, e Rota 2030, que incentiva o setor automobilístico a investir em pesquisa e desenvolvimento como estratégia para redução de emissões.
“A mistura de etanol anidro na gasolina é hoje de 27%. Há um estudo para aumentar para 30%, e o biodiesel, que estava em 10% e hoje está em 12%, deve chegar a 15%, e há propostas até para elevar ainda mais, para até B20”, disse o vice-presidente durante a abertura da 23 Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol, na capital paulista.
O relator do projeto, o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), disse à Globo Rural que tem recebido sugestões de emenda que propõem a inclusão no texto dos percentuais de mistura obrigatória de biodiesel.
“Estou analisando isso, consultando os diversos setores interessados, mas tem uma possibilidade de nós introduzirmos a questão do biodiesel no PL Combustível do Futuro”, afirmou o parlamentar, que também participou da abertura do evento.
Na avaliação de Jardim, será preciso estabelecer procedimentos e parâmetros que tornem tecnicamente viável o percentual de 20%. A indústria automobilística é contra a adoção desse teor, sob o argumento de que ele poderia prejudicar o desempenho dos motores disponíveis no mercado.
A expectativa do governo, por outro lado, é de que o aumento da mistura para 20% reduza a dependência brasileira da importação de diesel, hoje equivalente a cerca de 24% do consumo nacional, segundo o relator do projeto.
“Essa mistura é uma mistura ok, boa, ela vai ajudar a diminuir a importação, vai ajudar do ponto de vista ambiental, econômico, mas não é suficiente para fazer frente à importação”, disse Jardim.
De acordo com cálculos da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), cada ponto percentual a mais de mistura de biodiesel representa um aumento de 650 milhões de litros no volume de produção de biodiesel no país. Em 2022, com 10% de mistura, o Brasil produziu 6,3 bilhões de litros de biodiesel.
Com a adoção do B13 a partir de março de 2024, segundo o cronograma oficial do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a Abiove estima que a produção do biocombustível chegará a 8,4 bilhões de litros. Para o B15, a consultoria StoneX projetou recentemente que seriam necessários 8 milhões de toneladas de óleo de soja, elevando a produção de biodiesel a 9,5 bilhões de litros.
No caso do etanol, já incluído no projeto de lei em debate no Congresso, a previsão é de que a cada 1 ponto percentual a mais de mistura adicionada à gasolina represente um aumento de demanda em torno de 1,5 bilhão de litros, segundo Arnaldo Jardim. Isso significa que, com a elevação dos atuais 27% para 30%, serão necessários 4,5 bilhões de litros de etanol anidro a mais no mercado.
“Há um crescimento muito forte também do etanol à base de milho, portanto acho que essa conta fecha tecnologicamente e economicamente. Acredito que o mercado está maduro pra isso”, observou o relator do projeto.
Também presente na conferência, o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, destacou que o etanol foi responsável por 40% do consumo de biocombustíveis do país em 2022. Segundo ele, a nova lei também estabelecerá parâmetros para medição de eficiência dos combustíveis por sua pegada de carbono.
“Pretendemos que seja um marco regulatório avançado para consolidar o espaço do etanol como combustível do futuro junto com o biodiesel, além de impulsionar o desenvolvimento do bioquerosene para aviação”, disse Lira.
Fonte: Globo Rural
Biocombustíveis: a melhor solução de curto prazo para uma transição energética eficiente
FPBio vai ao Palácio do Planalto confirmar apoio ao projeto de lei 'Combustível do Futuro'
Indústrias de biodiesel se articulam para reverter importação e garantir aumento da mistura em 2024