Os custos logísticos atingiram a máxima histórica em 2022, puxados pela escalada nos preços do diesel e pelo encarecimento do crédito decorrente da alta nos juros. Numa estimativa ainda preliminar, Maurício Lima, sócio-diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), diz que os custos se aproximaram de R$ 1,36 trilhão no ano passado. Segundo Sérgio Mendes, diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), a competitividade das exportações do agronegócio brasileiro foi afetada.
Comparado a 2021, em valores nominais, o custo logístico subiu 14,2%. Nos últimos quatro anos, a alta é de 65,9%, contra 26,5% nos quatro anos anteriores. Lima aponta ainda o impacto dos juros sobre o preço dos fretes, lembrando a prática de “quarteirização” de contratos no setor - quando a transportadora negocia o frete com embarcadores e repassa os contratos para terceiros com prazos de três ou quatro meses.
“Quando os juros aumentam, mesmo quando a empresa consegue antecipar a liquidação do contrato, o impacto financeiro é relevante e afeta sua margem”, diz.
A perspectiva de manutenção dos juros, ainda que em patamares elevados, e a redução dos preços do diesel a partir da segunda metade do ano passado tornam o cenário em 2023 menos hostil para o setor, avalia Lima. Segundo o Ilos, o combustível recuou 20,6% nos 12 meses até o início de maio deste ano. Mas se a pressão do custo deixou de ser um problema, o crescimento da safra 2022/23 coloca novos desafios ao setor, já que não há perspectiva de aumento da oferta de transporte, avalia Lima.
Até aqui, diz Lauro Valdivia, assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), a oferta de caminhões tem atendido à demanda, mas as transportadoras enfrentam dificuldades para contratar caminhoneiros e autônomos desde o final do ano passado. “Muitos deixaram a atividade na pandemia. A alta muito rápida do diesel gerou desânimo e causou o afastamento de mais profissionais e também de empresas autônomas e de pequenas transportadoras, que fecharam as portas em reação aos custos mais altos”, diz.
O Índice Nacional de Custo do Transporte de Cargas Lotação (INTCL), calculado pela NTC&Logística, recuou 1,95% entre dezembro do ano passado e março deste ano para distâncias médias, em torno de 800 quilômetros, recuando 2,57% nas distâncias longas (2.400 km).
Agora, segundo a Fretebras, uma das maiores plataformas online de transporte de cargas da América do Sul, o aumento da demanda por caminhões pelo agronegócio tende a elevar os preços do frete de grãos entre 10% e 15% nos próximos meses. No primeiro trimestre deste ano, a plataforma registrou um incremento de 5% no volume de fretes contratados pelo agronegócio, com altas de 61% e 13% para soja e milho.
Na pandemia, o preço médio do frete no agronegócio chegou a subir 34%, avançando de R$ 160 para R$ 214 por tonelada entre 2021 e 2022, na esteira da alta do combustível.
O aumento dos custos logísticos não chegou a afetar as exportações, quando analisadas sob o ponto de vista dos volumes embarcados. Porém, diz Sérgio Mendes, da Anec, tem comprometido a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Aqui dentro, segundo ele, a logística mais cara afetou os preços pagos aos produtores e sua renda, além de reduzir os prêmios na exportação, resultado direto das dificuldades que o país enfrenta para armazenar a safra. “Nossos principais competidores sabem de nossas deficiências nesta área e têm conseguido negociar prêmios negativos, especialmente no caso da soja brasileira”, afirma.
Trabalho desenvolvido por Wallas Ferreira, agrônomo responsável pela área de qualidade da Anec, e Jean Budziak, assistente de qualidade e biotecnologia da associação, mostra que os custos de frete para transportar milho e soja de Sorriso (MT) aos terminais do chamado Arco Norte permitem ganhos da ordem de US$ 40 por tonelada na comparação com a saída pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). O impacto ganha escala mais ampla quando se considera que Mato Grosso exportou em torno de 49,8 milhões de toneladas de soja e milho pelos portos da região Norte em 2022.
Fonte: Valor Econômico
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