O compromisso assumido há oito anos pelos países da América Latina — zerar, até 2050, as emissões líquidas de carbono na atmosfera — já está atrasado. Não será cumprido sem uma estrutura robusta de financiamento a projetos de descarbonização. Pelas contas da consultoria McKinsey, serão necessários mais de US$ 20 trilhões (o equivalente ao PIB dos Estados Unidos) para atingir a meta.
A cifra, que já leva em conta o barateamento das tecnologias necessárias com o tempo, corresponde a algo como US$ 740 bilhões anuais, ou 9,4% do PIB da região. O desafio é evidente se levarmos em conta que os países latino-americanos são pressionados por demandas sociais de toda sorte, que várias economias (inclusive a brasileira) ainda dependem de combustíveis fósseis para crescer e que nem todo projeto de redução de emissões gera resultado positivo no prazo curto ditado pelo mercado financeiro.
O relatório da McKinsey registra a lentidão da América Latina na adoção das tecnologias verdes. Enquanto carros elétricos e bicicletas se tornam a cada dia mais comuns em cidades europeias como Lisboa ou Paris, o transporte em toda a região ainda se apoia no diesel. Não à toa, segundo a McKinsey, transporte e mobilidade é o setor que exigirá maior investimento para descarbonização (US$ 8,2 trilhões), seguido de energia (US$ 3,1 trilhões) e construção (US$ 2,2 trilhões).
De acordo com o estudo, Brasil, Chile, Colômbia e México são os países que mais avançaram em exigências ambientais, como a divulgação de informações corporativas. Cerca de 50% dos ativos bancários latino-americanos já estão em instituições financeiras que aderiram ao Net-Zero Banking Alliance (NZBA), iniciativa das Nações Unidas para zerar emissões de carbono, mas a maioria em subsidiárias de bancos estrangeiros. É preciso mais.
Um fato positivo foi o anúncio, no início do mês, de uma aliança de 19 instituições bancárias para apoiar o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Tais iniciativas precisam se multiplicar no continente também para outros setores além da preservação florestal. A McKinsey aponta oportunidades em recursos minerais (como o lítio necessário para baterias), energia renovável e biocombustível. No caso brasileiro, as novas áreas de investimento formam um mercado estimado em mais de US$ 125 bilhões.
Para destinar recursos aos negócios lucrativos de descarbonização, será fundamental regulamentar o mercado de créditos de carbono (no Brasil, o tema está empacado no Congresso). O papel do Estado será essencial também na regulação e nos incentivos a setores menos atraentes ao mercado. Não será trivial destinar quase um décimo da riqueza gerada no continente ao objetivo de zerar as emissões. O investimento menor, segundo a McKinsey, adiará o objetivo de zerar as emissões. Todo o planeta pagará o preço, e a própria América Latina será uma das regiões mais atingidas, pois concentra 13 dos 50 países mais suscetíveis às mudanças climáticas.
Fonte: O Globo
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