Por Juliana Scardua, Íntegra Comunicação Estratégica – Especial para o Instituto Besc
Oferta e acesso a aulas online esbarram no déficit de inclusão digital no país; gestores defendem criação de novo ecossistema no setor
O desafio de universalizar o acesso ao ensino no Brasil, neste momento 100% online, faz com que instituições em todo o país, públicas ou privadas, comunguem dificuldades. Apesar das realidades estruturais diferentes, problemas de conectividade e infraestrutura afetam a pais, alunos, professores e gestores pedagógicos em meio à pandemia do novo coronavírus. O medo da doença também confere novos contornos às discussões sobre a ampla oferta e a qualidade da formação educacional no Brasil. Nas palavras de Daniel Castanho, um dos expoentes do mercado privado do setor: “Educação para um país não pode ser prioridade. Tem que ser premissa”.
O assunto, essencial ao país, foi o destaque da nona edição da série de webinars da Assembleia Permanente para a Eficiência Nacional (Aspen), sob a articulação do Instituto Besc de Humanidades e Economia. Entre as lideranças do setor da educação reunidas em prol do debate qualificado, relatos das dificuldades de acesso de parte expressiva de alunos às plataformas digitais de ensino já disponibilizadas.
Ariosto Culau, secretário de Educação Profissional e Tecnologia do Ministério da Educação, destaca que vários projetos são intensificados neste momento com o propósito de inserir o maior número possível de alunos de instituições públicas de ensino, do fundamental ao superior e profissionalizante, ao mundo digital. “Quando o modelo começa híbrido (presencial + virtual) e profissionais são trabalhados para esse tipo de oferta, isso ganha outro contexto. Mas estamos falando de modelos públicos onde isso não faz parte do DNA e do ambiente. É um desafio a todos”.
De 41 institutos federais, somente 9 neste momento estão ofertando aulas online e outros 15 estão elaborando projetos de conectividade, incluindo a aquisição de computadores. Na rede estadual, também há percalços. Em São Paulo, apesar da oferta de aulas virtualmente, apenas metade dos alunos estariam conseguindo acessar as lições, de acordo com o MEC. A realidade é de exclusão acentuada. Segundo o Ministério, 20% dos alunos não têm acesso à internet.
“Nas redes federais, 103 mil alunos não têm qualquer conectividade, nem mesmo um smartphone na família. Estamos trabalhando para desenhar programas específicos para vazão às necessidades estruturais. Essa dificuldade também se estende às redes estaduais”, pontua Culau. Mas o cenário também cede espaço a boas notícias. O MEC programa a oferta de 90 mil vagas gratuitas de cursos profissionalizantes à distância, a serem lançadas até o início de junho.
Inovação a toda prova – Reitor da Universidade Federal de Goiás, Edward Moreira Brasil observa que a pandemia também impulsiona a criatividade e a inovação dentro das universidades brasileiras. Entre as façanhas num curto espaço de tempo, a invenção de protótipos de respiradores e o desenvolvimento de polímeros para produção de substâncias de higienização contra o vírus.
“O espírito de solidariedade tomou conta das universidades brasileiras. A ciência se materializou rapidamente em produtos e tecnologias, rompendo aquela falsa dicotomia de que a universidade está distante da sociedade. A universidade está ajudando nas tomadas de decisões dos gestores públicos e está criando soluções para sairmos dessa pandemia. Há uma inflexão muito grande no fazer. Há, por exemplo, professores de moda ajudando na criação de modelos de EPI, entre tantos outros exemplos”.
Na educação privada, bons exemplos da dinâmica online consolidam referências oportunas. Na Trybe, escola de programação com formação 100% digital, o desafio de capacitar mais profissionais, incluindo-os no universo da educação digital, se amplifica. “Já vínhamos de vários desafios e este, sem dúvida, é um dos maiores. Na educação básica, precisamos lembrar dos problemas da base que há muito já existiam. A formação de professores tem fragilidades, já se necessitava de atualização. Imaginem num universo de 2,2 milhões de educadores, como ensinar a um professor que nunca usou o Zoom ou montou uma apresentação em powerpoint?”, ressalta Matheus Goyas, CEO da Trybe.
No âmbito da educação profissionalizante, Cláudio Anjos, presidente da Fundação Iochpe, relata que experiências alemãs foram a principal referência para potencializar a oferta de formação da instituição nas unidades da Escola Formare, no Brasil e México, e que, agora, o time de educadores e gestores se debruça sobre a ampliação do acesso via online. Ao final dos cursos aplicados, tradicionalmente no próprio ambiente das empresas, o índice de empregabilidade da Fundação Iochpe chega a 83%.
Ecossistema - Para Daniel Castanho, presidente do Conselho de Administração da Ânima Educação, rede com 140 mil alunos, a universalização do acesso online ao ensino no Brasil passa pela construção, a múltiplas mãos, de um novo “ecossistema de ensino”. “Fizemos uma parceria com a plataforma Zoom e com as grandes empresas de telecomunicações. Não é só mandar um PDF ao aluno. A gente tem que criar um grande ecossistema no Brasil. Não é ensino à distância, isso acabou! Estamos falando de aprendizagem com uso de tecnologia. E também precisamos focar na qualidade, porque acesso sem qualidade, acaba por excluir também”.
As webinars realizadas pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia acontecem às terças-feiras, às 17h (horário de Brasília), com acesso gratuito via Zoom e Youtube. Saiba mais sobre a programação por meio dos perfis do instituto no Facebook e LinkedIn.
Brasil apoia iniciativa indiana para sediar Aliança Global de Biocombustíveis
Previsibilidade e segurança jurídica: APROBIO destaca importância do PL Combustível do Futuro em audiência no Senado
Aquecimento global vai parar na Justiça: crescem casos de litigância climática contra desmatadores