Ganhou corpo nos últimos dias a expectativa no setor de biodiesel de que o governo aumente a mistura do biocombustível ao diesel fóssil para evitar o risco de desabastecimento no país. Duas fontes ligadas ao segmento disseram ao Valor que o Ministério de Minas e Energia tem dado sinais de que cogita elevar a mistura do renovável, atualmente em 10% (B10).
A preocupação do governo com um possível desabastecimento de diesel, manifestada pelo próprio presidente atual da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, em entrevista à revista “Veja”, tem crescido com o prolongamento da guerra na Ucrânia, que bloqueou o escoamento de derivados fósseis do Mar Negro e resultou em sanções à Rússia que impedem a compra de produtos do país.
Um aumento da mistura significaria uma reversão ao menos parcial de uma decisão do fim do ano passado, quando o governo reduziu a mistura de 13% para 10% e determinou que o percentual valeria para todo o ano de 2022. Anteriormente, a programação era aumentar o índice de 13% para 14% a partir de março, o que não ocorreu.
Na época, a medida foi tomada com base em preocupações com o preço do combustível aos consumidores, mas esse receio parece ter perdido espaço para o medo de garantia de oferta.
Para uma fonte da indústria do biodiesel, se a mistura fosse de 14%, como anteriormente programado, a necessidade de importação de diesel do Brasil cairia de 22% para 8% da demanda nacional.
Outra fonte afirmou que o governo procurou o setor para debater o assunto. A ideia foi consultar os produtores para saber se seria viável aumentar o teor mistura e qual o potencial de produção, de acordo com a programação das indústrias. A consulta também foi por uma proposta de cronograma para a retomada de nesses níveis mais elevados de adição do biocombustível ao diesel fóssil.
Os empresários deverão ser "extremamente cuidadosos" ao traçar esse cenário de oferta de óleo este ano, disse uma das fontes. Desde a intervenção do governo no teor da mistura, o setor produtivo de biodiesel tem reagido e tentado convencer o Executivo a retomar níveis mais altos, com base na previsibilidade de investimentos que as indústrias fizeram e na capacidade de produção, ora ociosa.
Articulações
Nas últimas semanas, a articulação se intensificou. A ideia de aumentar a mistura é uma barganha do setor nacional frente à insistência de núcleos do governo de permitir a importação de biodiesel.
As grandes entidades de produtores peregrinaram pelos gabinetes de autoridades em Brasília para pedir para que essa e outras propostas, vistas como prejudiciais ao setor, fossem retiradas da pauta do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
O assunto foi tratado durante a reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) com o ministro da Agricultura, Marcos Montes, na última terça-feira.
A movimentação surtiu efeito. O conselho não analisou as propostas na reunião realizada nesta semana. Além do aval para importação de biodiesel, o colegiado poderia decidir sobre o fim da exigência de compra do produto com o Selo Biocombustível Social e a possibilidade de cumprimento do mandato do biodiesel com outros combustíveis, como o Rx da Petrobras.
Fonte: Valor
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