O processo de produção do biodiesel de soja, desde a chegada do grão na planta industrial até a ida para as refinarias ou distribuidoras, varia de empresa para empresa, de acordo com as tecnologias adotadas. Entenda como é feita a produção na Amaggi, um dos maiores grupos de processamento e exportação de grãos e fibras do país, no complexo industrial de Lucas do Rio Verde (MT).
A usina tem capacidade para processar 900 toneladas de soja por dia. Esse volume gera 207 mil litros de biodiesel.
No Brasil, a produção de biodiesel aumentou 27% no primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a Datagro. Para o ano, a previsão é de uma demanda de cerca de 8,5 bilhões de litros, segundo a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).
Preparação
A soja é produzida por agricultores parceiros da região e é transportada por caminhões até o complexo industrial. Os grãos descarregados dos caminhões passam por secadores, para reduzir o nível de umidade do grão de soja, que chega da lavoura em 20% a 25%, para 12,5% a 13%.
Após atingir o teor de umidade adequado, os grãos passam para a unidade de processamento. Um equipamento faz a separação das polpas e das cascas. “Cerca de 20% a 21% da soja é óleo, 70% é farelo e o restante é impureza e casca. As cascas são peletizadas e as impurezas são retiradas, para a produção do farelo e do óleo”, explica Claudinei Zenatti, diretor de logística e operações da Amaggi.
Em seguida, a soja passa por outro equipamento, que faz a laminação dos grãos. Esse processo de transformação da soja em flocos ajuda na extração do óleo bruto e sua separação da chamada torta da soja.
Os flocos passam então por um “cozedor”, equipamento onde a soja é aquecida a 65°C com adição de vapor. O aumento da umidade e da temperatura facilitam a liberação do óleo que está nos flocos.
Extração do óleo bruto e refino
Nas plantas industriais mais antigas, o óleo é extraído por prensagem da soja, o que dá o nome original de esmagamento. No caso da Amaggi, o óleo bruto é extraído dos flocos por um processo químico, com uso do solvente hexano. Mais tarde, o hexano é separado do óleo por aquecimento a 70 °C, que é o seu ponto de ebulição.
O óleo bruto precisa passar pelo processo de refino, que inclui a degomagem e a neutralização, até ser convertido em biocombustível.
A degomagem é o processo de remoção das proteínas, substâncias coloidais e fosfatídeos hidratáveis da soja, chamados de goma. Desse processo sai o óleo degomado, o mais comum para comercialização.
Nessa etapa, o óleo vai para um reator, onde é adicionado ácido fosfórico, ou ácido cítrico, e é feito o aquecimento a 65°C, causando a separação das partículas não hidratáveis (goma).
Na fase da neutralização, é adicionada uma solução de hidróxido de sódio ao óleo, para retirar a sua acidez. O óleo passa por processos de expansão e compressão e as diferenças de pressão ajudam a quebrar as moléculas.
Depois a mistura passa por um reator onde fica em repouso até a separação da borra do óleo, e a centrifugação para retirada da borra. Por fim, o óleo passa por um processo de retirada de umidade, antes de ir para a transesterificação.
Transesterificação
Transesterificação é uma reação química entre óleos vegetais ou gorduras animais (ésteres) e um álcool que dá origem a um novo éster (glicerina) e um novo álcool (biodiesel).
O processo de transesterificação é feito usando o metanol para reagir com o óleo. O óleo reage com o metanol na presença de um catalisador (metilato de sódio ou potássio), formando o biodiesel.
O biodiesel ainda precisa ser purificado, porque nessa fase possui resíduos de água, glicerina, metanol. Ele é lavado, centrifugado, seco e vai para os tanques de biodiesel.
Durante o processo de produção, o biodiesel produzido pela Amaggi passa por 25 análises, para verificar parâmetros de qualidade do produto. Entre os parâmetros analisados estão massa específica, teor de água, de enxofre, monoacliglicerol, diacilglicerol, triacilglicerol, contaminação total e ponto de fulgor.
O biodiesel pronto é enviado aos clientes em caminhões-tanques. Em média, o biodiesel fica estocado três dias na unidade industrial.
Subprodutos
A cadeia de produção do biodiesel gera outros produtos que também são aproveitados pela indústria, como o farelo, a glicerina e os ácidos graxos.
O farelo é gerado no processamento da soja. O farelo passa por um processamento térmico para evaporação do solvente usado na separação do óleo, e pela tostagem, para uso como ração.
No caso da Amaggi, o farelo gerado enviado para a BRF produzir ração para suínos e aves ou para a exportação. O farelo com 46% de teor proteico é vendido no mercado interno e o farelo com 48% de proteína é exportado.
A borra extraída na fase de separação do óleo bruto tem um alto conteúdo de ácidos graxos e pode ser usada para produção de sabão, óleo, ração. No caso da unidade da Amaggi, a borra é usada para produção de ração animal.
A glicerina, um subproduto do processo de produção do biodiesel, também passa por processos industrias específicos para retirada de umidade e resíduos, tornando-se apropriada para uso em cosméticos, produtos de higiene pessoal e outros itens de consumo.
Fonte: Globo Rural
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