A quantidade de Créditos de Descarbonização (CBios) gerados em excesso pelos produtores de biocombustíveis em 2020 e neste ano deverá garantir que as distribuidoras atendam com folga às metas de compra desses títulos em 2022, conforme estabelecido pelo programa RenovaBio. É o que sinaliza análise da consultoria StoneX preparada a pedido do Valor.
No ano que vem, as distribuidoras de combustíveis terão que comprar 35,98 milhões de CBIOs, cada um equivalente a 1 tonelada de carbono de emissão evitada com a substituição do uso de combustíveis fósseis por renováveis. A meta é determinada pelo governo, e cresce ao longo dos anos. Em relação ao mandato deste ano, o de 2022 representa um salto de 45% - maior aumento desde o início do programa, em 2019.
A geração de CBIOs, que ocorre assim que um lote de biocombustível certificado no programa é vendido no mercado, deverá alcançar em torno de 35 milhões de títulos, ligeiramente abaixo da meta das distribuidoras, nos cálculos da StoneX.
A projeção considera as estimativas de venda de todos os biocombustíveis que hoje dão lastro para os CBios. O etanol hidratado, que compete com a gasolina, deve ser o lastro de 55% dos créditos a serem gerados; o anidro, adicionado ao combustível fóssil, vai representar 33%. O biodiesel deve responder por 12%, mas a projeção considera que o governo manterá o plano de aumentar a mistura do biodiesel ao diesel para 14% a partir de março e não continuem valendo os 10% atuais, depois das reduções temporárias deste ano.
Em 2021, a geração de CBios tende a ficar em torno de 30 milhões, segundo a consultoria. A ligeira diferença entre demanda e oferta de CBios esperada para 2022 não significa que as distribuidoras não conseguirão atender as metas. A StoneX prevê que 8,9 milhões de CBios serão gerados acima das metas de 2020 e 2021 e poderão ser “carregados” e usados nas negociações de 2022. Neste ano, a geração dos títulos deve exceder as metas em cerca de 5 milhões, enquanto no ano passado o excedente foi de quase 4 milhões.
“O volume disponível deve ser maior que em 2021. A meta de 2022 será cumprida e haverá folga”, disse Fábio Solferini, CEO da StoneX, ao Valor. Neste ano, as distribuidoras são obrigadas a comprar 25 milhões de CBios e aposentá-los (retirar do mercado) até 31 de dezembro. Até o dia 24 deste mês, as distribuidoras haviam aposentado 15,5 milhões de títulos, num movimento que só ganhou força na semana anterior.
Preços pouco atraentes
O mercado de CBIOs foi criado para estimular o aumento da participação dos bicombustíveis na matriz energética do país, orientado pela descarbonização dos transportes. Os preços dos títulos, porém, ainda são considerados pouco atraentes pelos produtores. Atualmente, 1 CBIO está sendo negociado por volta de R$ 48 - o que, no caso do etanol, representa cerca de 5 centavos para cada litro do biocombustível que foi comercializado.
Segundo Solferini, se não houver nenhuma entrada significativa de “fontes alternativas” de biocombustíveis capazes de gerar mais CBios nos próximos anos, a geração desses títulos pode ficar aquém das metas estabelecidas de 2026 em diante. Mas ele acredita que mais usinas de biometano devem começar a entrar em operação e consequentemente no RenovaBio já no próximo ano.
Atualmente, três produtores de biometano estão certificados no programa. Outra alternativa promissora para um futuro um pouco mais distante é o hidrogênio verde, que vem sendo discutido globalmente como um combustível-chave na transição energética, com emissões neutras de carbono.
Solferini lembra, porém, que o governo pode alterar as metas caso identifique gargalos no mercado. Mas, se as metas atuais até 2030 forem cumpridas, o RenovaBio já conseguiria contribuir com quase metade da redução das emissões com as quais o governo brasileiro se comprometeu na COP26. Em Glasgow, o Brasil prometeu cortar 50% de suas emissões até 2030 em relação a 2005. Do volume de carbono a ser cortado, 44,5% poderá vir do RenovaBio considerando suas metas atuais, segundo a StoneX.
Fonte: Valor
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