Em meio à pressão europeia por zero desmatamento em produtos agropecuários, o Brasil, que tem no continente seu segundo principal cliente no segmento, realizou, nesta semana, a primeira comercialização de soja 100% rastreável e com pegada de carbono mensurada e livre de desmatamento tanto ilegal quanto legal – um dos pontos de maior atrito entre o setor sobre as novas exigências europeias prestes a entrarem em vigor.
O protocolo, desenvolvido pela Bayer, ADM e outros 91 parceiros. Mapeou 159 mil hectares de dez produtores de cinco municípios mato-grossenses elegíveis – ou seja, em conformidade com os padrões internacionais de rastreabilidade. “Não há projeto de carbono em área desmatada com menos de dez anos. Claro que o Código Florestal vai ser visto, mas para gerar o ativo de carbono é importante que a gente respeite esse aspecto de elegibilidade”, ressalta o diretor do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina, Fábio Passos.
Ao todo, o protocolo permitiu certificar 240 mil toneladas de soja produzidas nos biomas Cerrado e Amazônia com uma pegada média de 0,861 tonelada de carbono por tonelada de grão colhido. Para tal resultado, o cálculo usou como base o GHG Protocol e a Análise de Ciclo de Vida da soja e demais insumos e serviços relacionados a sua produção para garantir, também, uma origem livre de desmatamento, sobreposição com unidades de conservação, terras indígenas e conformidade com a legislação trabalhista.
Os dados são coletados de forma automática de máquinas e implementos que possuem telemetria, mas também são inseridos diretamente pelo produtor em uma plataforma auditável. Para isso, ele precisa comprovar as informações por meio de documentação e registros como nota fiscais que serão posteriormente analisadas a fim de garantir a integridade do sistema, todo baseado em blockchain. Isso significa que, uma vez inseridos, esses registros não poderão mais ser alterados.
“Imagino que é uma medida para separar o ‘joio do trigo’, separar aquele produtor que tem baixa produtividade, mão de obra não tão adequada, não dando o tratamento para seus funcionários, de solo que precisa”, avalia Eraí Maggi Scheffer, proprietário do Grupo Bom Futuro e um dos dez produtores a partir da fase piloto do projeto encabeçado pela Bayer.
Na opinião dele, a exigência do mercado internacional por mais sustentabilidade “não é tão ruim como se imagina”. “Tem o lado bom disso. O produtor também vai estar dentro de uma tecnologia de maior produtividade, ele vai ter mais remuneração também”, completa o produtor.
A mensuração da pegada de carbono também é feita de forma automática a partir de uma calculadora semelhante a utilizada pelo Renovabio. Quando considerados apenas os talhões em que foram implementadas melhorias nas práticas de manejo, a calculadora apresentou uma queda adicional de 24% na pegada de carbono da soja analisada, para 0,66 tonelada de carbono por tonelada de grão produzido.
A perspectiva, segundo Passos, é ampliar o sistema para culturas como milho e cana, além de incluir no cálculo também o sequestro de carbono dessas lavouras. Isso permitirá atestar não apenas a pegada, mas também o balanço de emissões para, assim, a inserção da cadeia sojicultora e outras no mercado de crédito de carbono.
“Claramente já é muito bom o que temos como agricultura, mas ainda tem, dentro das variações da fazenda, oportunidades. Esse é para nós o ponto importante: gerar o dado para intervir onde faz sentido”, completa o diretor do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina.
Fonte: Globo Rural
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