A cadeia da indústria de eficiência energética no Brasil conta com 480 mil pessoas empregadas. Mas para o país alcançar suas metas estabelecidas no Acordo de Paris, é preciso que esse setor ganhe mais 800 mil vagas até 2030. O dado foi apresentado pelo presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Frederico Araújo. Em entrevista ao Petronotícias, ele ressaltou a importância de o Brasil se voltar a esse tema, de forma a atender às demandas e exigências do acordo climático internacional, assinado em 2015. Araújo lembra que nosso país ainda tem um enorme potencial para explorar em termos de eficiência energética, quando comparado com outras nações. “O Brasil está ocupando a 20ª posição em termos de eficiência energética, em um ranking com as 25 nações que mais consomem energia elétrica do mundo. Estamos muito atrás não apenas de países desenvolvidos, mas também de países como China, Índia e México”, disse. O entrevistado afirma que o mercado de eficiência energética brasileiro é estimado em R$ 18 bilhões por ano, mas que ainda precisa de políticas públicas para que possa se desenvolver plenamente. “O Brasil hoje não tem padrões mínimos de eficiência energética para a indústria. E também não tem padrões de instalações elétricas para as edificações. Isso gera bastante desperdício de energia em toda a cadeia. Por isso, precisamos de uma política pública fomentando a eficiência energética”, opinou. O presidente da Abesco ressaltou também que muitas empresas multinacionais estão exigindo de seus fornecedores práticas de eficiência energética como parte da política de ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês).
Qual o peso da eficiência energética nas questões ambientais e no cumprimento das metas climáticas do país?
A eficiência energética tem um peso enorme nessas questões ligadas ao aquecimento global e à sustentabilidade. Estamos falando em maior eficiência dos motores a combustão, das térmicas, das indústrias e da energia elétrica. Quando tornamos mais eficientes o consumo e os insumos utilizados na geração, toda a cadeia começa a sentir os impactos positivos.
Por exemplo, quando trazemos eficiência energética para o consumo elétrico, que é um dos focos dos nossos associados da Abesco, você tira todo um investimento de toda a cadeia – desde a geração, passando pela transmissão, até a distribuição. A cadeia inteira fica mais leve.
Falando em eficiência energética na iluminação pública, por exemplo, é possível reduzir de 70% a 80% do consumo na iluminação de uma cidade. Ou seja, reduzimos assim a necessidade de geração. Em países com térmicas a diesel, gás, ou qualquer outro tipo de combustível fóssil, a eficiência energética ajuda a retirar carbono na cadeia inteira. Então, a eficiência energética tem um papel fundamental em toda essa questão ambiental e climática.
Como o Brasil tem se posicionado no uso de práticas de eficiência energética atualmente?
O Brasil tem um potencial muito grande em termos de eficiência energética. O Brasil tem um potencial de projetos de eficiência energética em torno de R$ 18 bilhões por ano, de acordo com o estudo “Transformative Investiment for Energy efficiency and Renewable Energy”, da Carbon Trust. Ou seja, temos um mercado com alto potencial.
Contudo, o Brasil está ocupando a 20ª posição em termos de eficiência energética, em um ranking com as 25 nações que mais consomem energia elétrica no mundo. Estamos muito atrás não apenas de países desenvolvidos, mas também de países como China, Índia e México. A última edição desse ranking foi elaborado pela ACEEE (Conselho Americano para uma Economia Eficiente em Energia), em 2018.
Atrelado a isso, ainda falando de mercado, vemos uma necessidade no Brasil de melhorar a competitividade nas nossas indústrias, comércios e serviços. Ao mesmo tempo, estamos vendo uma primarização da nossa economia. Ou seja, estamos nos transformando cada vez mais em um país de commodities e importador de produtos industrializados. As indústrias remanescentes no Brasil têm que se tornar mais competitivas. E essa competitividade passa pelo melhor uso da energia elétrica.
Como o país pode incentivar a eficiência energética?
Quando olhamos para as políticas públicas, o Brasil hoje não tem padrões mínimos de eficiência energética para a indústria. E também não tem padrões de instalações elétricas para as edificações. Isso gera bastante desperdício de energia em toda a cadeia. Por isso, precisamos de uma política pública fomentando a eficiência energética, como acontece em países como Estados Unidos, China, Reino Unido, Índia e Japão. Ou seja, estou citando aqui não apenas nações desenvolvidas, mas também algumas que estão em desenvolvimento. A China, no passado, estava nas últimas colocações do ranking de eficiência elaborado pela ACEEE. Hoje, o país ocupa a oitava posição.
E como a indústria brasileira em si tem buscado alternativas de eficiência energética?
Aqui no Brasil, algumas empresas estão começando a olhar para isso. O Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável no Brasil (CEBDS), hoje formado por 90 empresas, está começando a fomentar a ISO 50001, que é ligada a eficiência energética. Então, como o Brasil não tem políticas públicas para eficiência, o setor privado está começando a se movimentar.
O tema da eficiência energética está muito inserido dentro de questões como sustentabilidade e ESG, porque evita desperdício. O CEBDS começou a olhar para a eficiência e se movimentar para fazer sua parte. A aplicação da ISO 50001 traz padrões de gestão de energia e de eficiência energética para as indústrias, que estão fomentando a aplicação dessa norma em pequenas e médias empresas.
A ideia é fazer com que as grandes empresas do Brasil comecem a exigir de seus fornecedores a ISO 50001 como fator para qualificação. O setor privado está se preocupando com a cadeia ligada a ESG. Nossa pergunta é: quando o governo vai começar a olhar para isso também? Temos uma das energias mais caras do mundo. Estamos entre as nações que mais desperdiçam energia e não vemos hoje uma política pública voltada a isso. Vemos hoje uma política pública focada mais em geração renovável e geração distribuída do que em eficiência energética.
Quando há uma política pública muito focada em geração, mas sem se preocupar com a questão da eficiência, o que fazemos é aumentar o desperdício. Aumentamos os investimentos de geração renovável baseada em unidades consumidoras que estão desperdiçando energia elétrica.
E já se percebe um aumento na procura por projetos de eficiência no país?
O Brasil tem vários projetos do tipo em desenvolvimento. Do segundo semestre de 2020 até hoje, percebemos um aumento de procura das ESCO [empresas de serviços de conservação de energia] por clientes privados. Principalmente empresas multinacionais e companhias com relação com multinacionais.
Essas multinacionais já estão buscando eficiência energética para atender aos requisitos de suas matrizes, em termos de descarbonização ou alinhamento das práticas de ESG. As empresas brasileiras também estão buscando práticas de ESG para que possam fornecer para companhias estrangeiras. Vou citar o exemplo de uma cliente de uma ESCO. Esse cliente exporta carne congelada e seu comprador estrangeiro pediu a comprovação da adoção de práticas de ESG, como eficiência energética e geração renovável. Já vemos um movimento mundial nesse sentido.
De que forma o investimento em projetos de eficiência poderá ajudar o Brasil no cumprimento de suas metas climáticas?
Vou começar citando os projetos de eficiência energética que instalam iluminação LED em substituição às lâmpadas fluorescentes ou incandescentes. O primeiro impacto no clima é a redução do consumo de energia e menor necessidade de geração de eletricidade. Além disso, as lâmpadas fluorescentes possuem elementos químicos que são contaminantes ao meio ambiente. As empresas ESCOs fazem a destinação correta desses resíduos.
No caso dos aparelhos de ar-condicionado, é possível fazer um retrofit nesses equipamentos, gerando redução no consumo de energia. Há também projetos de eficiência nas caldeiras para geração de vapor, muito utilizadas em indústrias de papel e celulose. Existem caldeiras ineficientes que consomem muito gás, carvão e cavaco de madeira. É possível fazer a substituição desse caldeira por outra que consome até três vezes menos para a geração de vapor. Ou seja, são vantagens enormes em termos ambientais.
Por isso que, por exemplo, no ano passado, o Reino Unido abriu uma linha de crédito de 3 bilhões de libras esterlinas para aplicação em eficiência energética, visando dois objetivos. O primeiro é contribuir para o Acordo de Paris e a redução da emissão de gases do efeito estufa. O segundo foi a questão da manutenção dos empregos das ESCOs daquele país, que geram 100 mil empregos.
No Brasil, atualmente, temos 480 mil empregos em toda a cadeia de eficiência energética. Para atendermos ao Acordo de Paris, temos que gerar até 2030 mais 800 mil empregos. Precisamos de 1,2 milhão de pessoas trabalhando nessa indústria para que o Brasil consiga atingir a nossa meta de descarbonização pela eficiência energética no Acordo de Paris. O dado faz parte da pesquisa “Potencial de Empregos Gerados na Área de Eficiência Energética no Brasil de 2018 até 2030”, publicada pela ABRINSTAL (Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência em Instalações) e elaborado pela Mitsidi Projetos e International Energy Initiative – IEI Brasil.
Fonte: Petro Notícias
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