Considerando apenas resíduos como matérias-primas, a Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB) e a fabricante de aviões Boeing calculam, em levantamento, que o Brasil pode gerar 9 bilhões de litros.
Desses, 6,48 bilhões de litros devem vir de resíduos de cana-de-açúcar, 1,9 bilhão de resíduos madeireiros, 0,36 bilhão do gordura animal, 0,23 bilhão de gases de escape de processos industriais, como de aciarias, etapa na produção de aço, e 0,11 bilhão de óleo de cozinha usado.
Outro estudo, da ONG de preservação ambiental WWF e o Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA, na sigla em inglês), corrobora o potencial latino também a partir de macaúba, o sorgo, a própria cana e outras matérias-primas.
“Só com os resíduos já conseguiríamos suprir a demanda de querosene de aviação nacional, ou seja, pode gerar um excedente para exportação e para suprir demandas já anunciadas por Estados Unidos e União Europeia, por exemplo”, diz Laís Forti Thomaz, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisadora da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV).
Por sua abundância e mercado já consolidado, a cana-de-açúcar desponta como uma das principais opções. Em agosto, a produtora de biocombustível Raízen foi a primeira do seu setor a receber a certificação internacional ISCC CORSIA Plus (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), que comprova que o etanol, produzido no parque de bioenergia Costa Pinto, em Piracicaba (SP), cumpre os requisitos para a produção de SAF, o primeiro passo para dar o início à produção. Mas projetos envolvendo produção de SAF a partir de soja, milho e macaúba também se mostram promissores.
Em outubro, a Acelen, empresa de refino do fundo árabe Mubadala que administra a Refinaria de Mataripe (BA), deu o pontapé inicial em seu projeto de produção de diesel verde e SAF. A empresa, que pretende investir R$ 12 bilhões ao longo de dez anos no projeto, está apostando as fichas na macaúba, palmeira cujo óleo tem capacidade para produzir até sete vezes mais combustível do que a soja.
Até a glicerina, coproduto da indústria de biodiesel com alto valor energético, tem sido objetivo de projeto piloto do Senai-RN e da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável. Em setembro, foi inaugurada em Natal (Rio Grande do Norte) a primeira planta-piloto para produção de SAF a partir dessa matéria-prima.
“A depender da rota tecnológica e a matéria-prima utilizada, o custo pode ser maior ou menor. Como toda tecnologia nascente, há esse desafio a ser superado, mas é importante que tanto governo quanto empresas e consumidores entendam que o custo extra inicial significa uma externalidade positiva em termos de meio ambiente”, diz Thomaz. Para ela, o maior investimento em pesquisa e desenvolvimento pode ajudar a avançar na diminuição dos custos e tornar o SAF mais competitivo.
Fonte: Globo Rural
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