Os projetos de produção de hidrogênio verde (H2V) devem crescer em todo o mundo nos próximos anos, especialmente no Brasil, que liderou o volume de plantas dessa natureza no primeiro trimestre de 2021: foram 0,6 milhões de toneladas/ano, de acordo com um estudo da Wood Mackenzie, empresa de consultoria e inteligência comercial do setor de energia renovável. Nas 55 plantas industriais anunciadas em diversos países, o total de energia prevista é de 2,4 milhões de toneladas por ano.
O Ceará ganha destaque nesse mercado global, pois vai receber a maior planta de hidrogênio verde do mundo, a ser construída no Complexo do Pecém pela australiana Enegix Energy, o Base One, que terá investimento de US$ 5,4 bilhões para produzir mais de 600 milhões de quilos de combustível por ano, e será abastecido por 3.4 gigawatts (GW) de energia renovável (solar e eólica). Além do Brasil, Austrália, Suécia, Holanda e França compõe as cinco primeiras posições no período.
Outras companhias internacionais já anunciaram projetos dessa natureza no Estado, o que vai contribui para a formação do hub de hidrogênio verde. São os casos da Qair Brasil, Linde/White Martins (que já assinaram memorando de entendimento) e a Fortescue (que deverá assinar o documento nos próximos dias). Considerando apenas as empresas já confirmadas, o total de investimentos nesses projetos ultrapassa US$ 11 bilhões.
“A formação do Hub de Hidrogênio Verde, a partir da mobilização inicial da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), com a liderança do presidente Ricardo Cavalcante, e o apoio imediato do Governo do Estado e da Universidade Federal do Ceará (UFC), tem o poder de transformar a economia cearense e mudar seu patamar de desenvolvimento industrial. Teríamos impacto semelhante ao provocado pela Companhia Siderúrgica no Pecém, e que teremos com a futura instalação da refinaria no Complexo do Pecém”, analisa o economista Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e membro do Conselheiro Federal de Economia (Cofecon).
“Com o hub, o Ceará será um player mundial das energias renováveis, mais forte do que a energia eólica ou energia solar, porque a energia com a matriz de hidrogênio verde pode ser estocada e transportada para um local de consumo. Com isso, poderemos abastecer grandes mercados, como a Europa e os Estados Unidos”, projeta o economista.
Impactos
Para Jurandir Picanço, consultor de energia da Fiec e presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará, o hub vai impactar positivamente diversos setores da economia. “O hidrogênio verde, produzido com o uso de energias renováveis, foi identificado como excelente alternativa para substituir os combustíveis fósseis que hoje predominam nas diversas atividades emissoras de gases que poluem a atmosfera: produção de energia elétrica, meios de transporte, setores industriais como siderurgia, cimento e fertilizantes. Assim, o H2V assumirá importância econômica na dimensão atual do petróleo e seus derivados”, observa.
As condições geográficas e de infraestrutura do Estado são praticamente ideais para a edificação do hub, observa Jurandir Picanço. “Temos o Porto do Pecém e localização estratégica visando o mercado importador que se desenvolve na Europa. Há, ainda, uma parceria com o Porto de Roterdã, que participa da administração do Complexo do Pecém, e será o principal porto de importação do hidrogênio verde na Europa. Esses fatores favoráveis ao Ceará o transformam na melhor condição no Brasil para esse novo mercado que se desenvolve. Os empreendedores globais já identificaram essa condição privilegiada do Ceará, e encontram aqui uma grande receptividade e profissionalismo nas entidades (Sedet, Fiec, UFC e Complexo do Pecém) que se comprometeram em direcionar suas potencialidades na viabilização desse projeto. Não há que duvidar: vai dar certo”, afirma.
“Todos os países que mudaram de patamar de desenvolvimento trabalharam com o conceito de tríplice hélice, que coloca juntos os esforços da Academia, do setor produtivo e do setor público. O Hub do Hidrogênio Verde é um claro exemplo dessa articulação, tendo as lideranças do presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, do governador Camilo Santana e do reitor Cândido Albuquerque para transformar o desenvolvimento cearense e melhorar a qualidade de vida da sociedade, usando a ciência, o setor produtivo e o motor do setor público”, destaca Lauro Chaves.
Projetos ligados ao H2V trazem perspectivas de décadas de investimentos no Estado
As quatro empresas com interesse confirmado no Ceará para a instalação de projetos de produção de hidrogênio verde vão garantir investimentos no Estado pelas próximas décadas. Um dos exemplos é o projeto da Qair Brasil, que assinou o memorando de entendimento com o Complexo do Pecém para a instalação da planta industrial chamada Liberdade. Ela terá capacidade instalada de 2.240 MW e será implantada em quatro fases, de 2023 a 2030. Após a sua completa instalação, terá capacidade de produção anual de 296 mil toneladas de H2 líquido verde.
O Base One, da Enegyx Energy, deve levar até quatro anos para ser construído, em uma área industrial de 500 hectares, gerando milhares de empregos durante a obra, centenas de postos operacionais para gerenciar a instalação e 600 milhões de kg de hidrogênio verde produzidos anualmente.
A Linde/White Martins também assinou memorando com o Complexo do Pecém para produzir e fornecer energia limpa, aproveitando a sinergia da planta de gases da White Martins.
O memorando da mineradora australiana Fortescue Metals com o Governo do Estado deve ser assinado nos próximos dias e faz parte do projeto da empresa denominado Projeto Brasil 2025, que prevê a produção de 2GW de energia, 300 mil toneladas/ano de eletrólise de hidrogênio verde, além de uma usina de dessalinização de água do mar.
“O H2V tem sido designado de vetor energético. Ele poderá ser reconvertido em energia elétrica em equipamentos designados de células de combustível ou será utilizado diretamente em processos industriais substituindo os combustíveis fósseis. Será um agente que viabilizará o grande objetivo da humanidade de reduzir a emissão de gases de efeito estufa, fator primordial para minimizar o aquecimento global”, explica Jurandir Picanço, consultor de energia da Fiec.
Fonte: O Otimista
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