A transição energética passará pela expansão da mineração e o solo brasileiro possui reservas de todos os chamados minerais críticos, essenciais para a produção de baterias para carros elétricos (níquel, lítio e grafite), turbinas eólicas (níquel, alumínio, cobre e terras-raras) e painéis solares (alumínio, cobre, polissilícico, prata e aço). Os EUA, por sua vez, querem liderar a transição e estão em busca de fornecedores confiáveis. A ideia dos americanos é reduzir a dependência em relação à China e países que não são considerados estáveis.
Fatores políticos, econômicos e estratégicos colocam o Brasil em um espaço confortável na mesa de negociações da cadeia mundial de suprimentos de minerais críticos. Além dos EUA, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) já foi procurado por pares da China, Alemanha, Reino Unido, Austrália e Canadá, entre outros.
— Temos condições de oferecer todos os minerais críticos que o mundo precisa, sem exceção. Temos pelo menos um depósito de cada um desses minerais — conta Valdir Silveira, diretor de geologia e recursos minerais do SGB.
Investimentos necessários
O fato de ter geração de energia elétrica majoritariamente de fontes renováveis reforça a pretensão do Brasil de ser mais que um fornecedor de matéria-prima. O país quer processar esses minerais ou até ser um fabricante de bens para a transição energética. Mas, para isso, são necessários investimentos em diversas áreas, desde infraestrutura até pesquisa.
— Essa temática de minerais críticos ganhou uma outra proporção com a discussão da transição energética no pós-pandemia — afirma Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil).
Neto diz que “seria uma relação ganha-ganha” que proporcionaria “ganhos potenciais para a indústria extrativa e para a indústria de beneficiamento e de produção de maior valor agregado no Brasil”.
Para atender a demanda projetada, o mundo assistirá a um desenvolvimento sem precedentes da mineração, lembra o diretor de políticas públicas e relações governamentais da Amcham, Fabrizio Panzini.
— Sem ter parceiros externos, eles [os EUA] não vão conseguir atender a demanda interna — diz Panzini.
Em julho, o secretário de Estado Adjunto de Recursos Energéticos dos EUA, Geoffrey Pyatt, esteve no Brasil para “acelerar a cooperação com o Brasil em toda a gama de insumos da transição energética”. Pyatt afirmou que o assunto mais importante da visita foi a parceria em minerais estratégicos.
— Vemos o Brasil posicionado para continuar realmente desempenhando um papel de liderança global.
Parceria longeva
Brasil e EUA têm um histórico de mais de três décadas de conversas sobre segurança energética com a assinatura de acordos. Até 2012, foram oito documentos de parceria, muitos com foco nos biocombustíveis. A disputa entre o milho americano e a cana-de-açúcar brasileira e uma “certa indiferença” dos governos nos últimos anos pré-pandemia travaram novos acordos, na avaliação do professor do Departamento de Relações Internacionais da Unifesp e vice-coordenador do Grupo de Estudos sobre Segurança Energética (Gesene) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Alexandre Hage.
De 2012 até 2023, nenhum novo documento foi assinado pelos governos, apesar de ter havido uma continuidade das conversas técnicas entre integrantes do setor privado.
— Mas o que há de realmente concreto? O setor privado depende do Estado. Ele não tem condição, nem aqui, nem nos EUA, de fazer acordo sem a chancela do Estado.
Recentemente, dois novos acordos de parceria para geração de energia limpa entre Brasil e EUA foram assinados por ministros. O Ministério das Minas e Energia informou que os dois países possuem “circunstâncias diferentes”, mas têm trabalhado em conjunto para destravar financiamento para mover a transição energética. A pasta não cita resultados concretos dos acordos de parceria do passado, mas destaca que “um dos relacionamentos estratégicos na área de energia” são os biocombustíveis, tema tratado com Pyatt em julho.
Fonte: O Globo
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