A Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO) é uma entidade de representação corporativa e institucional dos produtores de biocombustíveis do país e de disseminação de conhecimento, pesquisa e informação sobre as fontes alternativas de energia em substituição aos combustíveis fósseis. Fundada em junho de 2011, tem como associadas as empresas de capital nacional que atuam no setor de produção de biodiesel e outros biocombustíveis. A entidade pauta suas ações de modo a disseminar os benefícios econômicos, sociais e ambientais das fontes de energia alternativas para uso no setor de transportes e afins.
O gaúcho Francisco Turra, ex-ministro da Agricultura, assumiu recentemente a presidência do Conselho de Administração da Aprobio, que completa dez anos de fundação. Ele ressalta que o ano de 2020 foi desafiador para o setor de biodiesel, trazendo a necessidade de revisão de procedimentos e mudanças comportamentais na realização de atividades.
Qual seu posicionamento sobre os dez anos da APROBIO?
É uma honra para mim receber a responsabilidade de assumir a presidência do Conselho de Administração da Aprobio. Nos últimos 10 anos, a produção de biodiesel cresceu 169%, a capacidade instalada cresceu 96%, a produção de soja cresceu 66% e a área plantada de soja cresceu 53%. Vou trabalhar duro para justificar tanta confiança e cumprir o desafio de levar o setor de biodiesel para um novo nível de excelência.
Qual a importância do biodiesel para o Brasil?
A cadeia de produção do biodiesel é extensa, emprega mais de 1,5 milhão de pessoas e já investiu mais de R$ 9 bilhões no país. O biodiesel também é a verdadeira solução para a transição energética de baixo carbono, representando saúde e qualidade de vida para a população e desenvolvimento sustentável da economia do Brasil.
Quanto cresceu a produção e o mercado do biodiesel?
De 2019 para 2020, a produção de biodiesel cresceu 8,7%, para 6,4 milhões de metros cúbicos, e a capacidade de produção, 9,4% (9,4 milhões de metros cúbicos). O faturamento do setor em 2020 foi de R$ 26,2 bilhões, crescimento de 67,56%. Importante destacar que 98,4% do volume comercializado de biodiesel veio de usinas com Selo Biocombustível Social.
Que importância tem os programas de qualidade dos combustíveis e biocombustíveis?
Desde a criação do Programa Nacional de Uso e Produção de Biodiesel, foram realizados amplos planos de estudos, testes e ensaios conduzidos pelos Ministérios de Ciência e Tecnologia e de Minas e Energia. O objetivo sempre foi garantir que o biodiesel chegasse ao mercado com um alto padrão de qualidade. Nosso controle de qualidade é rigoroso e permanente. A consequência desse trabalho é um biodiesel brasileiro com uma das especificações mais exigentes do mundo.Recentemente, lançamos o Selo Aprobio de Qualidade – Biodiesel Super A. Nosso objetivo é ampliar a transparência ao mercado com auditoria de produto realizada por empresa certificadora e, assim, confirmar a adoção pelas usinas associadas das especificações mais rígidas, definidas pelo Comitê Técnico e aprovadas no Conselho da Aprobio, e as boas práticas definidas pela Aprobio e sugeridas à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Qual o impacto que a redução da mistura do biodiesel ao diesel irá causar?
A recente decisão de reestabelecer o percentual de biodiesel para 12% no 81º Leilão de Biodiesel, já que nos leilões anteriores (79º e 80º) o percentual havia sido reduzido ao patamar de 10%, demonstra que prevaleceu no governo federal a visão de que o biodiesel é fundamental para uma transição energética para uma matriz mais limpa. Assim temos a reafirmação da qualidade do nosso produto e a sua importância para o desenvolvimento de uma ampla cadeia da economia que gera investimento, emprego, imposto e riqueza na indústria e no agronegócio do Brasil. Vamos continuar a trabalhar para que seja cumprido o previsto na legislação de 13% de mistura ainda este ano e 14% a partir de março de 2022.
O que são biocombustíveis avançados?
Quando tratamos de biocombustíveis, estamos vivendo o auge da primeira onda, com o etanol e biodiesel como protagonistas. Os produtos chamados de segunda onda ou biocombustíveis avançados envolvem o que há de mais avançado em biotecnologia. O diesel renovável HVO (sigla em inglês para Hydrotreated Vegetable Oil) e do SPK (Synthetic Paraffinic Kerosine – pode ser utilizado misturado ao querosene de aviação) são biocombustíveis avançados porque podem ser produzidos com métodos limpos, com menos emissões de CO2, são produzidos a partir de resíduos de gordura animal, óleos de cozinha usados, bem como óleos vegetais. Eles são combustíveis de entrega imediata, que vai direto para o
tanque e podem ser utilizados em 100% em motores diesel de um caminhão das décadas de 60 e 70, assim como nos motores de última geração sem necessidade de adaptações.
Quais as consequências que a pandemia do Covid trouxe para as pesquisas?
O ano de 2020 foi, certamente, desafiador para o setor de biodiesel. O risco epidemiológico, que ainda existe, trouxe a necessidade de revisão de procedimentos e mudanças comportamentais na realização das atividades. Foi um ano duro, mas o esforço de todos garantiu a manutenção da posição do Brasil como um dos principais produtores e consumidores de biodiesel do mundo.
Como conciliar o crescimento econômico com a sustentabilidade?
Esse caminho é inevitável. Cada vez mais, as empresas buscam inovação e avanços tecnológicos com viés das melhores práticas ambientais, sociais e de governança, com o modelo de governança e sustentabilidade. Com essa agenda e frequentes anúncios de compromissos de grandes corporações com carbono neutro ou emissão zero, as estratégias
estão se refletindo diretamente na prática organizacional. Cada vez mais vamos ver decisões que refletem esses propósitos no curto prazo.
Qual o papel que tem o RS no contexto geral do biocombustível?
O Rio Grande do Sul reúne os maiores produtores biodiesel do Brasil, tanto em capacidade autorizada, quanto em produção efetiva. O desenvolvimento desse biocombustível está diretamente ligado ao nosso estado. Nosso desafio agora é aumentar nossa produção para a exportação.
Ainda precisamos avançar muito?
Seguimos de forma firme. O RenovaBio nos permitiu criar uma agenda positiva que induz eficiência e valoriza os investimentos em tecnologia limpa. Os biocombustíveis viabilizam uma oferta de energia cada vez mais sustentável, competitiva e segura. Uma longa e poderosa jornada foi percorrida por todos nós da Aprobio para levar o biodiesel a um patamar de patrimônio nacional. Mas estamos de olho cada vez mais no legado que vamos deixar para o futuro.
Fonte: Revista Expansão
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